Tecnologia

Com a falta de privacidade na internet, a solução para muitos é abandonar o mundo virtual

postado em 20/04/2010 07:00
Antigamente, para espionar a vida dos outros usava-se um binóculos ou ficava-se sabendo das últimas fofocas pela empregada da vizinha. No entanto, a tecnologia facilitou e deu velocidade a tão temida invasão de privacidade. Com perfis nas principais redes sociais é possível saber, por meio de recados, depoimentos, comunidades e tweets, o que as pessoas fazem, pensam ou escondem. Muitos tentam escapar da bisbilhotice e bloqueiam as páginas nos sites de relacionamento ou mesmo deixam de participar das redes sociais para ter mais privacidade.

[SAIBAMAIS]O funcionário público e músico Luciano Ribeiro usava o Orkut para fins profissionais. ;Assim que apareceu a rede social, eu comecei a usar. No início, achei que era algo fascinante, porque foi uma maneira de reencontrar pessoas, amigos do passado e que moravam longe;, explica Luciano. Após fazer contato com todos os que o interessavam, o músico percebeu que o serviço não tinha mais utilidade para ele e que o ambiente não era o mesmo do começo. ;O serviço virou algo de quem quer se mostrar. Eu não via mais propósito em ficar exibindo fotos e recados meus para os outros;.

O principal problema apontado pelo músico é que o Orkut virou terra sem lei. ;Há muitos perfis falsos e até gente envolvida com criminosos que ficam olhando a vida de outras pessoas;, afirma. ;Falar da minha vida pessoal para um monte de gente não é bom. Agora, há a opção de bloquear, mas antes não podia. Para mim, a rede social não é só para isso;, completa. Luciano acredita que a mesma situação acontece no Twitter. De acordo com o músico, não é todo mundo que se identifica com essa rede. ;Um personagem de reality show tem mais seguidores que uma pessoa que tem algo a falar;, explica.

Luciano acabou por trocar a rede do Google pelo , no qual ele pode reencontrar amigos e divulgar o trabalho. ;Eu faço amizades com pessoas dos Estados Unidos, da Alemanha, e meu trabalho é reconhecido em outros lugares. Já tive mais de 36 mil visualizações. As pessoas procuram para te conhecer;, afirma.

Suicídio virtual
A alternativa quando não dá mais para suportar a falta de privacidade está na Suicide Machine. O site foi criado para quem quer dar fim a grande parte dos perfis de redes sociais. Após o preenchimento dos dados de login, e ao clicar no botão commit (cometer, em português), o usuário verá toda a vida virtual, como fotos, vídeos, seguidores e amigos, ser apagada completamente do banco de dados dos sites. ;Todos deveriam ter o direito de se desconectarem. A conectividade e a rica experiência social oferecida pela web 2.0 parece ser a maior antítese da liberdade humana;, defendem os criadores do site.

Apagar a vida virtual dura, em média, 52 minutos ; se feito pelo website. Para fazer manualmente, o processo demoraria cerca de 10 horas, de acordo com dados da página. Desde o lançamento, no fim do ano passado, a Suicide Machine já fez com que 250.433 amigos fossem desconectados e 398.496 tweets, apagados.

Se a dúvida persistir antes da finalização do processo, o site convida o usuário a assistir um vídeo que mostra como a vida off-line é melhor que a on-line. Além disso, é possível ver testemunhos de quem já realizou a operação e deixou as últimas palavras, na maioria da vezes o ;foi bom enquanto durou;.

O processo não tem volta. Para quem sentir um vazio após completar o serviço, o site dá a dica: ;Tente ligar para alguns amigos, dar uma volta no parque ou comprar uma garrafa de vinho e começar a aproveitar a própria vida. Alguns suicidas sociais dizem que a vida deles melhorou, em média, 25%. Não se preocupe se sentir estranho. Isso é normal e irá passar de 24h a 72h;. Por enquanto, o site elimina apenas perfis do Facebook, Twitter, MySpace e LinkedIn.

FBI como amigo

Caiu na rede um documento oficial do governo norte-americano que mostra que agentes do FBI estão infiltrados nas principais redes sociais com o objetivo de recolher informações de suspeitos procurados pela organização governamental. No documento, várias telas do Facebook são apresentadas aos agentes para se familiarizarem com o ambiente. De acordo com o manual, as redes sociais podem ser utilizadas para comunicar com pessoas mal-intencionadas e mapear os relacionamentos interpessoais e as redes de contato. No entanto, o documento alerta aos agentes para terem cautela no julgamentos das pessoas.

Da mesma forma, o manual traz informações sobre o Twitter. Na seção ;Como conseguir informações;, a publicação dá duas notícias: a boa é que o a maior parte do conteúdo do microblog é público e as mensagens privadas são mantidas até que os usuários as apaguem; a má é que não há telefones de contato dos usuários e o serviço apenas registra o último IP que fez o login, ou seja, se alguém mais usar o mesmo perfil, o FBI terá dificuldades para encontrar o suspeito.

Tolices
Às vezes, a falta de privacidade pode gerar situações embaraçosas e engraçadas. Algumas pessoas se aproveitaram dessa situação e criaram sites para mostrar as maiores mancadas que os usuários cometem nas redes sociais. O Grandes Tolices do Orkut já anuncia no slogan do página: ;Temos um vacilo seu arquivado aqui;.

Mas para uma pérola fazer parte do site, há todo um processo. Primeiro, o leitor deve entender que nem tudo que está no Orkut é digno de ser publicado. O que for enviado para a página passa por uma análise do conteúdo, no qual são levados em conta o humor, a veracidade, a intenção e até mesmo o QI do autor da ;pérola;. Em seguida, há um debate na comunidade do site no Orkut para decidir se o post merece ser publicado ou arquivado. O autor do blog deixa claro que não tem a intenção de ofender nem humilhar e que qualquer post pode ser retirado do ar a pedido do usuário.

O Facebook também não ficou fora da brincadeira. No site norte-americano Failbooking, a dinâmica é a mesma do Tolices. Um usuário flagra o erro, tira um printscreen da tela e envia para o blog. Os rostos e os nomes são apagados, deixando apenas o texto. A ;pérola; mais acessada até hoje foi de uma garota que enviou mais de 200 mensagens de texto para um número que aceitava doações para o Haiti. No entanto, ela não sabia que teria que pagar o valor da doação na conta de telefone. A reação ao descobrir que ela terá que pagar mais de US$ 2 mil é o ponto alto do flagra.


Acesse





; Na rede
Como manter a privacidade na internet


  • Seja criterioso na hora de aceitar convites
  • Use, pelo menos, oito caracteres na senha
  • Troque sua senha com frequência
  • Sempre saia do serviço adequadamente, usando o link ;logout;
  • Apague seus scraps (recados) com frequência
  • Evite se associar a comunidades que informem muito sobre sua rotina
  • Reúna os amigos em grupos
  • Evite usar seu nome completo
  • Desmarque a opção de geolocalização
  • Bloqueie seus tweets

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação