Tecnologia

Revolução dos cliques

Invenção da primeira câmera digital, criada pelo engenheiro Steve Sasson, completa 35 anos. Criação abriu o caminho para a transição do filme para os pixels e mudou a maneira de se fotografar

postado em 21/06/2010 10:14
Em dezembro de 1975, apenas um ano após começar a reunir um monte de tecnologia disponível dentro e fora da companhia Eastman Kodak, o engenheiro norte-americano Steve Sasson e sua equipe estavam prontos para testar a geringonça que eles afirmavam ser a primeira câmera fotográfica portátil no mundo a substituir o tradicional rolo de filme por um sensor eletrônico. Para isso, convenceram um funcionário da empresa a posar para uma foto experimental diante do grosseiro protótipo que tinha o tamanho de uma torradeira e pesava 3,8 kg.

Com uma resolução de 0,01 megapixel, a imagem em preto e branco demorou 23 segundos para ser captada e armazenada numa fita cassete e outros 23 segundos para ser reproduzida a partir de uma unidade de leitura ligada a um televisor. ;Eu podia ver a silhueta e o cabelo, mas o rosto era um verdadeiro borrão, então virei para os meus ajudantes e disse que ainda tínhamos muito trabalho pela frente;, lembrou, anos mais tarde, Sasson.

Após fazer alguns reparos no mecanismo de captura, a equipe da Kodak voltou, dias depois, para o mesmo laboratório e fez uma nova foto, dessa vez alcançando um resultado bem melhor. A partir daquele momento, o mundo da fotografia estava prestes a mudar. Com a chegada da era digital, uma verdadeira revolução atingiu o setor fotográfico e os procedimentos químicos e mecânicos que envolviam o sistema analógico foram aos poucos substituídos por complexos, mas ultrarrápidos, processos eletrônicos.

Com o consequente barateamento do preço dos dispositivos, o acesso aos equipamentos digitais logo se tornou uma realidade, não só para especialistas, como para amadores que viram, nos últimos 15 anos, uma variedade de modelos repletos de recursos invadirem as prateleiras. De acordo com a Associação de Produtos de Câmera e Imagem (Cipa), neste ano devem ser comercializadas 110 milhões de câmeras digitais ao redor do mundo ; volume 3,6% superior que o registrado em 2009.

Filho de fotógrafo, Kazuo Okubo trabalha no ramo há 35 anos e acompanhou de perto a chegada dos primeiros equipamentos digitais ao mercado. ;Foi uma verdadeira revolução que mudou radicalmente a vida de quem vive de fotografia;, diz, recordando o tempo em que tinha de contar mentalmente as poses restantes num rolo de filme para não perder algum momento importante durante um evento. ;Para fazer um casamento, eu gastava em média 30 rolos (450 cliques). Hoje conheço gente que bate, facilmente, 2 mil fotos;, diz. Com o avanço cada vez mais rápido de novas tecnologias, o tempo que os profissionais levam para fazer upgrades também foi reduzido. ;Antes a gente ficava 10, 15 anos com uma câmera. Hoje, se não nos atualizarmos de dois em dois anos, a moçada mais antenada passa por cima da gente;, ri Okubo. ;Atualmente temos máquinas com altíssima resolução e que nos oferece um nível de detalhe muito profundo;, emenda.

Para o coordenador da Universidade da Fotografia Upis, Cléber Medeiros, o digital democratizou o acesso à fotografia. ;Antes as pessoas ficavam dois meses com um filme dentro da câmera, economizando cada foto que tirava, pois a revelação não era nada barata.; Ele lembra como reagiu ao início da chegada da novidade ao mercado. ;No começo eu fui cético e achei que fosse algo que não iria pegar, mas aos poucos os clientes passaram a exigir maior velocidade na entrega de trabalhos e senti a necessidade de migrar do analógico para o digital;, diz.

O aumento de pessoas com acesso às câmeras também trouxe um revés. ;Com a democratização, houve uma banalização. Hoje qualquer um se considera fotógrafo e isso se traduz diretamente no valor cobrado pelos profissionais. Há 10 anos eu ganhava muito mais do que ganho hoje por cada trabalho efetuado;, relata Medeiros, dizendo que a saída é a constante busca por diferenciais para apresentar aos clientes.

Kazuo concorda. ;Não basta apertar o botão, é preciso ter técnica, aprender sempre e se atualizar constantemente;, fala, lembrando que a popularização de serviços de redes sociais na internet contribuiu para o boom das novas máquinas. ;Com serviços como o Flickr, todos querem tirar fotos e compartilhá-las com os amigos. É muito fácil e isso só foi possível graças aos avanços digitais obtidos nas últimas décadas.;

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