Tecnologia

Órgãos públicos adotam as redes sociais para interagir com a população

Ações não são mais apenas de divulgação, mas de interação real com os internautas. O Ministério da Saúde, por exemplo, faz uma varredura na web em busca de dúvidas dos usuários e corre para esclarecê-las

postado em 10/09/2010 08:00 / atualizado em 21/09/2020 10:48

Trair a namorada dá Aids? A vacina contra a gripe suína tem mercúrio? Imunizar grávidas pode levar à morte? Se você achou as perguntas acima um tanto quanto exageradas, acredite, elas são bastante comuns. E aparecem em um dos lugares mais ricos em quantidade de informações: a internet. É justamente essa abundância de dados que faz com que a web seja um veículo de difusão de boatos e mentiras. Esse potencial de danos causou preocupação ao Ministério da Saúde, que mantém um software rodando 24 horas em busca de dúvidas dos internautas. É uma conduta cada vez mais comum em órgãos públicos no Brasil. A maior parte do trabalho ocorre em redes sociais, que viraram uma espécie de canal de prestação de serviços. Assim que o computador do ministério identifica a dúvida, a equipe envia uma resposta ou orientação ao usuário. Se você digitar qualquer pergunta, ou falácia, sobre a transmissão da dengue em seu Twitter, por exemplo, isso provavelmente será respondido pela equipe da pasta, geralmente no prazo de um dia após a identificação da pergunta. O software procura palavras-chave relacionadas às campanhas do ministério: combate à dengue, doação de sangue, doação de órgãos, medula óssea, Aids, influenza H1N1 (popularmente conhecida como gripe suína), hipertensão, diabetes, vacinação infantil e combate ao consumo de crack. As dúvidas mais curiosas são sobre a influenza A. ;Quando começamos a campanha de vacinação contra o H1N1, muitas pessoas receberam e-mails com notícias mentirosas. A atuação nas redes sociais foi essencial para a gente reverter esse quadro e conseguir imunizar a população;, afirma Marcier Trombiere, chefe da comunicação do Ministério da Saúde. Marcier Trombiere, chefe de comunicação do Ministério da Saúde, fala sobre a atuação da pasta em mídias sociais . Na época, circulavam na internet uma série de mensagens sugerindo que a vacinação era uma tentativa de genocídio para reduzir o número de habitantes do planeta. ;A vacina H1N1 contém mercúrio ; a segunda substância mais perigosa do planeta, depois do urânio. O veneno de uma cascavel é menos perigoso que o mercúrio;, dizia um dos textos. Para combater o boato, o ministério fez cerca de 62 mil intervenções em redes sociais, explicando que o nível de mercúrio da vacina era mínimo e que não provocaria nenhum efeito colateral grave. Outro assunto que mobiliza os internautas é a Aids. A equipe do ministério recebe muitas mensagens de pessoas que tiveram comportamento de risco e que estão preocupadas com a possibilidade de contaminação pelo vírus. O grupo de comunicação interativa também amplia o número de palavras-chave buscadas pelo software sobre esse assunto. ;Na área de sexo seguro, é preciso ir um pouco além do trivial e buscar expressões mais populares;, explica Marcier Trombiere. A resposta, contudo, só é dada se houver dúvida em relação à saúde. Marcier lembra que, no começo do projeto (1), os internautas duvidavam que o ministério estava mesmo usando as redes sociais para manter contato com o cidadão. Hoje, quase três anos depois, os perfis da pasta já são reconhecidos pelos usuários da rede de computadores. Em 50% dos casos, o contato é feito diretamente com a equipe do órgão via Twitter, blogs, Formspring, entre outros. ;O interessante é que qualquer intervenção nesse espaço ganha uma progressão geométrica. Se você der a informação para uma pessoa, em breve, ela pode chegar a 1 milhão;, afirma o chefe da comunicação do ministério. Além do software que faz a varredura na web, a equipe de comunicação interativa usa os alertas do Google para acompanhar notícias sobre os temas de interesse do órgão. Os alertas são avisos mandados por e-mail quando há notícias publicadas sobre tópicos definidos pelo usuário. Quatro pessoas trabalham diretamente com a fiscalização do que circula nas mídias sociais, e outras 12 podem ser chamadas, conforme a necessidade. Marcando presença Assim como o Ministério da Saúde, outros órgãos governamentais estão se mobilizando e aparecendo para os internautas. O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), por exemplo, mantém uma comunidade no Orkut, uma página do Twitter e um blog. Camilla Valadares, coordenadora de mídias sociais da pasta, conta que a entrada na web começou pelo queridinho dos brasileiros. ;Nós sabemos que o Orkut tem ampla penetração no país, inclusive em famílias da classe C, que usam muito os serviços do ministério;, aponta Camila. ;Nós atendemos desde o trabalhador que quer tirar dúvidas sobre o seguro-desemprego até o empresário que precisa saber como funciona o sistema trabalhista;, diz. No Ministério da Cultura ; que tem blogs, página no Twitter e canal no YouTube ;, a internet já serviu até como plataforma para consultas públicas. A última, encerrada em 31 de agosto, colheu 7,8 mil contribuições via blog sobre as mudanças na lei de direito autoral. No começo deste ano, o órgão abriu uma conta no Flickr para compatilhar fotos do dia a dia do ministro. ;Nós já temos mais de 1,5 mil imagens livres, que são usadas até mesmo pelos jornalistas do setor de comunicação do ministério;, explica Anderson Falcão, coordenador do núcleo de multimídia da Cultura. Ainda mais surpreendente é a participação do Supremo Tribunal Federal (STF) nas mídias sociais. Desde outubro do ano passado, a Corte integra um seleto grupo de instituições que têm um canal oficial gratuito no YouTube. Para se ter uma ideia, estão na lista também a Casa Branca, o Vaticano e a família real inglesa. A página é abastecida com matérias e documentários produzidos pela TV Justiça e divididos por assunto. Além disso, o Supremo criou, em dezembro de 2009, uma conta no Twitter. Na página, é possível acompanhar, voto a voto, o julgamento de temas polêmicos ; como a ação movida pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) pedindo a liberação dos humoristas para fazer sátiras de políticos durante a campanha eleitoral. O Twitter conquistou, ainda, órgãos públicos tradicionalmente mais fechados. O Ministério da Defesa lançou há um ano sua conta no microblog, onde divulga posicionamentos da pasta de forma mais rápida. O Twitter também é usado como canal de comunicação com públicos específicos do ministério, como militares e suas famílias. A participação nas mídias sociais, porém, para por aí. ;Quando possível, utilizamos twitter search, que identifica as menções ao endereço @defesagovbr nos dias anteriores. Mas a estrutura de comunicação é precária, por isso esclarecemos no cabeçalho de apresentação que perguntas individuais devem ser encaminhadas via Fale Conosco;, esclarece o operador do microblog, José Ramos. 1 - Boataria A ação do órgão nas redes sociais começou em 2007, quando o Brasil enfrentou um surto de rubéola. A campanha nacional de vacinação contra a doença foi alvo de uma teoria da conspiração: e-mails e posts afirmavam que a imunização iria, na verdade, esterilizar os brasileiros em idade reprodutiva. O trabalho na internet foi essencial para resolver o problema.

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