Tecnologia

Superexposição de jovens com o aplicativo Secret preocupa colégios

App permite o envio de mensagens sem identificar o autor. Apelações são consideradas bullying virtual

Sandra Kiefer
postado em 13/08/2014 09:07
O aplicativo foi lançado no início do ano nos Estados Unidos, como uma espécie de espaço para desabafo pela internet

Colégios particulares já estão preocupados com a exposição indevida de adolescentes e jovens em mensagens anônimas, inclusive com fotos de apelo sexual, que podem ser replicadas por toda uma escola por meio do aplicativo para celulares Secret. ;Morro de medo de citarem meu nome, de inventarem alguma mentira sobre mim. Aconteceu com umas colegas minhas, que foram zoadas pela internet. Não posso dizer o que falaram delas, mas era conteúdo impróprio;, revela A. C., de 12 anos, aluna da 7; série do ensino fundamental de uma escola da Região Sul de Belo Horizonte.

Segundo a estudante, embora seja desnecessário identificar o autor do post no Secret, sempre protegido pelo anonimato, os adolescentes estão exagerando ao publicar fotos dos colegas em situações constrangedoras, sem poupar o nome da vítima e nem mesmo o colégio onde estuda. ;Já tem um monte de gente torcendo para este aplicativo sair do ar, porque ninguém está concordando com isso. Ninguém merece ser xingado e humilhado em uma rede que pode ser vista no mundo todo;, desabafa a estudante, que participou de um debate espontâneo entre alunos da 7; série, interligados pelo WhatsApp.

;Os diretores não podem ser omissos e ficar esperando o problema acontecer na sua escola. É preciso conscientizar o aluno contra o bullying virtual, que constitui crime cibernético. Se envolver menor de idade, o pai poderá ser responsabilizado criminalmente pela atitude do filho;, alerta Emiro Barbini, presidente do Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinep-MG). No ano passado, a entidade distribuiu cartilha com informações sobre crimes cibernéticos, endereçada a cada um dos alunos das 670 escolas da capital.

Em vez de proibir a entrada dos celulares e Ipods nos colégios, já incorporados como mecanismo de controle dos pais, o Sinep-MG recomenda conscientizar estudantes em relação ao uso moderado do aparelho. Na noite de hoje, a discussão será levada para a reunião dos professores do Colégio Magnum por Anselmo Sampaio, coordenador de Formação Humana e Cristã. ;Não tem como dizer aos adolescentes ;faça isso; ou ;faça aquilo;. É preciso mobilizar os alunos do ponto de vista da noção de respeito às pessoas, ao direito de privacidade, ao crime de falsidade ideológica. É a velha história do ;não faça com o outro o que você não gostaria que fosse feito com você;. Em outras palavras, para toda ação existe uma reação;, compara o coordenador.

Em escolas de São Paulo e do Rio de Janeiro, o aplicativo Secret já virou tema de debates nas escolas. O caso de uma aluna que teve exposta na rede uma foto íntima enviada a um namorado, depois do rompimento do relacionamento, virou caso de polícia. A Polícia Civil já investiga denúncias de vazamento de fotos íntimas de jovens no Secret. ;A investigação sobre o autor da publicação pode até demorar, mas a gente sempre consegue rastrear, não apenas com informações divulgadas na internet, mas também investigando a motivação do crime, o círculo pessoal da vítima;, garante o delegado César Matoso, da II Delegacia Especializada de Crimes Cibernéticos de BH.

Difamação

O consultor de marketing Bruno Machado, de 25, nunca havia ouvido falar do aplicativo Secret até a noite do dia 5 deste mês, quando postagens nas redes sociais comentavam o sistema de mensagens anônimas. Poucas horas depois, já na madrugada de quarta-feira, ele descobriu que havia sido alvo de três dessas publicações. Além de trazer fotos do rapaz nu, os posts diziam que ele era portador do vírus HIV e participava de orgias com seus amigos. O resultado é que na segunda-feira seus advogados entraram com um ação civil na Justiça para bloquear o app no Brasil por acreditarem que ele viola a Constituição Federal, o Código de Defesa do Consumidor e o Marco Civil da Internet.



Segundo reportagem publicada ontem pelo jornal Folha de São Paulo, cinco vítimas do Secret estão acionando a Justiça para obrigar o Google e a Apple a retirarem o aplicativo das lojas, além de bloquear o acesso daqueles que já fizeram o download. Uma das pessoas em questão teve uma foto íntima exposta, citando nome e local de trabalho. Depois, vieram diversas outras postagens difamatórias falando falsamente que o homem participa de orgias com amigos, citando nome dos amigos, além de acusar o jovem de ser portador do vírus HIV.

Saiba mais sobre o aplicativo americano

Com a promessa de manter sigilo em relação à identidade do destinatário, esse aplicativo próprio para celulares Secret permite publicar mensagens anônimas que vão ser compartilhadas por um grupo, como por exemplo a escola ou o curso de inglês. Lançado no início do ano nos Estados Unidos, como uma espécie de espaço para desabafo pela internet, o Secret chegou em maio ao Brasil. Foi criado pelos americanos David Byttow e Chrys Bader-Wechseler, ambos ex-funcionários do Google. Por não identificar o autor das postagens compartilhadas, no entanto, o programa está sendo usado para a prática de bullying virtual e, em casos mais graves, a publicação de fotos de jovens nuas.

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