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Análise: Destiny diverte, mas peca pela simplicidade excessiva

Um dos lançamentos mais aguardados dos últimos anos, jogo utiliza recursos de diferentes gêneros, mas não os explora com muita segurança

postado em 09/01/2015 16:08

Um dos lançamentos mais aguardados dos últimos anos, jogo utiliza recursos de diferentes gêneros, mas não os explora com muita segurança

Não era pouca a expectativa em torno de Destiny quando começaram a surgir as primeiras informações sobre o título. Desenvolvido pela Bungie, a nova franquia demonstrou que o estúdio seguiria no caminho trilhado anteriormente com Halo, uma das séries mais aclamadas do meio: o tiro em primeira pessoa no espaço.

Com o passar do tempo, o lançamento se mostrava cada vez mais como um dos maiores empreendimentos da história da indústria. Notícias relatavam que seria o jogo mais caro já criado, com um investimento estimado de US$ 500 milhões (aproximadamente R$ 1,3 bilhão). O ator Peter Dinklage, famoso por interpretar Tyrion Lannister no seriado Game of Thrones, dublaria um personagem central. E, como se não fosse o suficiente, a canção-tema seria escrita e interpretada por ninguém menos que Paul McCartney.

Com tanta pompa, era de se esperar um jogo que correspondesse à grandiosidade sugerida pelo projeto. Destiny, contudo, não consegue realizar essa tarefa.

[SAIBAMAIS]Tiroteios

Em Destiny, o jogador controla um guardião que acorda após um longo sono e se vê em meio a um conflito entre os humanos e algumas raças aliadas contra diferentes tipos de alienígenas. Após ter passado por uma era de ouro e ter conquistado diversos locais na galáxia, a humanidade foi afetada por uma força maligna chamada ;A Escuridão; e agora deve sobreviver em uma cidade só na Terra. Os planetas anteriormente colonizados, como Vênus e Marte, agora não passam de ruínas e alvo de extraterrestres.

Ao longo da campanha principal do modo história, o jogador irá passar por luas e planetas, explorando as ruínas, protegendo informações e atirando em alienígenas. E é aí que começa o primeiro problema de Destiny: um enredo que passa longe de ser motivante ou de captar verdadeiro interesse. Com diálogos repletos de termos técnicos e pouco inspirados, é muito fácil esquecer qual o propósito da missão ou como a tarefa irá avançar a história.

E isso é agravado pela repetividade geral do game. Ao iniciar uma missão, já se sabe exatamente o que vem pela frente. Correr por terrenos, entrar em alguma construção, deixar seu robô assistente (Fantasma) interagir com algum tipo de máquina e atirar em hordas de alienígenas. O jogador pode não se lembrar exatamente do objetivo da tarefa, mas sabe que está lá para fazer sempre isso. No fim, ele não é incentivado a realmente se importar com o enredo, pois sabe que, invariavelmente, ele fará a mesma tarefa.

Mas, se a repetitividade das missões faz o modo história ser qualquer coisa menos que impressionante, o mesmo não pode ser dito do visual elaborado do jogo. A direção de arte em Destiny é de encher os olhos. Na cidade na Terra que serve como quartel general, é possível ver, no horizonte, belos céus e uma cidade estonteante. Nos planetas visitados, olhar para cima é sempre recompensador, com visões de naves, luas próximas e construções detalhadas.

Infelizmente, o universo do jogo, de visual tão convidativo, é subaproveitado. Cada vez que o jogador visita um planeta para realizar as missões, ele passará sempre pelos mesmo locais para completar as tarefas. É verdade que os terrenos têm um ótimo design para as batalhas, com diversos pontos para se esconder ou se posicionar estrategicamente. Mas a falta de variedade de cenários e a pouca liberdade para explorar os mundos faz com que esses lugares percam logo o charme inicial.


Um dos lançamentos mais aguardados dos últimos anos, jogo utiliza recursos de diferentes gêneros, mas não os explora com muita segurança

Combate simples

Uma das intenções iniciais da Bungie com Destiny era criar um título que fosse capaz de entreter tanto a novatos ao gênero de tiro em primeira pessoa quanto aos já acostumados com a mecânica. E nisso o estúdio foi certamente bem-sucedido. Com controles simples, acostumar-se com os comandos do jogo é uma tarefa rápida.

Ao iniciar o game, é possível escolher entre três classes de personagens: titã, caçador ou arcano. Elas podem até parecer bem diferentes, mas a verdade é que demora bastante tempo até que elas consigam realmente apresentar características únicas. As três classes utilizam as mesmas armas e praticamente as mesmas armaduras. Quando o personagem sobe de nível, é possível desbloquear novas habiliades que vão, pouco a pouco, dando a cada grupo traços únicos. A demora para ver diferenças significativas entre as três categorias pode decepcionar, principalmente em missões de grupo, em que poderes diversificados tornariam o combate mais estratégico.

Falta de estratégia, inclusive, é uma das principais características das lutas contra os chefes. Normalmente, eles são criaturas mais robustas com uma barra de vida muito maior do que as de inimigos comuns. Porém, eles fazem basicamente a mesma coisa: atirar. Não há padrões de movimentos a serem desvendados ou sequências de ataques especiais que mudam com o tempo. Ou seja, enfrentá-los não é uma tarefa muito diferente das batalhas com os alienígenas menores. Basta saber se esconder mais e atirar por muito tempo (esses confrontos podem levar até vinte minutos para serem concluídos).

Um dos lançamentos mais aguardados dos últimos anos, jogo utiliza recursos de diferentes gêneros, mas não os explora com muita segurança

Nunca sozinho

Com uma campanha de história simplificada, resta o outro lado de Destiny: o multiplayer. Ele está presente em praticamente todos os momentos do jogo (uma conexão com a internet é obrigatória para se jogar o título). Em cada visita aos planetas para executar as missões, esbarra-se com outros jogadores que também estão naquela área para realizar tarefas. Caso queira ajudar os demais e entrar nas batalhas, é possível simplesmente se aproximar e contribuir no tiroteio. E, frequentemente, ao explorar as diferentes zonas e mapas, surgem eventos aleatórios de cooperação para os guardiões no local, como uma máquina que deve ser protegida do ataque de inimigos.

E para quem terminar o modo história, certamente há mais conteúdo a ser descoberto. É possível seguir com as explorações e batalhas para aumentar o nível do personagem, sem contar a coleta de armas cada vez mais poderosas. A brincadeira com o arsenal aumenta ainda mais com o recurso de modificação, que permite personalizar rifles, pistolas, lança-mísseis e afins. É possível realizar missões cooperativas em conjunto com uma equipe de amigos, participar de combates no multiplayer competitivo e buscar itens raros.

A lista de tarefas executáveis após a conclusão da campanha, inclusive, não deixa de crescer. Além de criar eventos inéditos e de tempo limitado para que a comunidade de jogadores participe, a Bungie já iniciou, em dezembro passado, a publicação de conteúdos extra (chamados de DLC), com a primeira expansão de Destiny, intitulado A Escuridão Subterrânea.

Por mais que a Bungie tenha relutado em definir Destiny como um multiplayer online massivo (MMO, em inglês), são os aspectos do jogo mais semelhantes a esse gênero que fazem com que ele não falhe totalmente. Fosse ele apenas um título de tiro para um jogador, o game poderia muito bem passar como apenas mais um em meio a vários (e excelentes) lançamentos de 2014. Mas, para quem estiver disposto a investir no modo história, há um universo interessante (apesar de subaproveitado) a ser revisitado frequentemente. Juntar-se a amigos e participar de missões cooperativas pode ser extremamente divertido, graças à simplicidade das mecânicas e do visual impressionante.

Fica a impressão, contudo, de que Destiny possui enorme potencial não explorado. Muitos elementos de diferentes gêneros são introduzidos, mas não são desenvolvidos de forma satisfatória. Mundos mais abertos, multiplayer competitivo mais equilibrado e classes que se diferenciem bastante desde o início do jogo são apenas alguns exemplos a serem melhorados. Felizmente, a Bungie ainda tem muitas chances de mudar isso, pois o contrato do estúdio com a produtora Activision terá duração de dez anos e promete quatro títulos da franquia. Caso a desenvolvedora consiga ousar mais com as diferentes facetas do game e deixar de lado a simplicidade excessiva, Destiny pode sim se tornar a série memorável e histórica que seus criadores pretendiam lançar em 2014.

Avaliação:
; Jogabilidade: 2,0
; Entretenimento: 2,0
; Gráficos: 2,0
; Som: 2,0
; Nota final: 8,0

Informações técnicas
- Produção: Activison
- Desenvolvimento: Bungie
- Plataforma: Xbox 360, Xbox One, PlayStation 3, PlayStation 4
- Preço: R$ 180
- Classificação Indicativa: Não recomendado para menores de 14 anos

Com informações de Max Valarezo

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