postado em 02/02/2015 12:45
É normal, no dia a dia, perceber que está faltando algo em casa, seja alguma ferramenta de reparos, seja um ingrediente fundamental na cozinha. E, para muitos, a primeira reação é querer comprar justamente o item em falta. Mas a jovem Camila Carvalho, estudante de comunicação social do Rio de Janeiro, teve uma ideia para dar uma alternativa a quem se encontra nessa situação: criou o site , que permite aos usuários se conectarem com os vizinhos e criar uma rede de ajuda, trocas e empréstimos.
[SAIBAMAIS]No Tem Açúcar?, o usuário deve se cadastrar e definir um raio de ação para ajustar a área com a qual pretende interagir. Depois, basta a pessoa buscar o item de que precisa e o site irá notificar os vizinhos via e-mail. A partir daí, é estabelecido o contato entre as duas pessoas. Quem for compartilhar precisa especificar as condições de uso, como data de empréstimo e de devolução, assim como o local de encontro. O endereço dos internautas nunca é divulgado e é utilizado apenas para localizar os vizinhos próximos.
Após o fim do empréstimo, cada usuário deve fazer uma avaliação do outro, o que ajuda a aumentar a credibilidade dentro da rede para as próximas trocas. As análises incluem relatos sobre o estado do item emprestado após o retorno ou se houve atraso, por exemplo. Essas informações depois ficam disponibilizadas no perfil de quem pegou o material.
A ideia surgiu por conta de diferentes experiências vividas por Camila. Ela relata que começou a se preocupar mais com a forma como pessoas consomem produtos após ter trabalhado como modelo e ter morado na China, na Tailândia e na Índia. ;Lá, pude ver mais a questão da desigualdade social e os reflexos da forma como consumimos coisas. Nesses países, a gente vê a parte do capitalismo que ninguém quer enxergar;, relata Camila.
Já de volta ao Brasil, Camila fez um curso de design sustentável, no qual estudou economia alternativa e conheceu a economia do compartilhamento. ;Trata-se de dividir recursos já existentes para não ter que fabricar novos. E isso é sustentável, porque ajuda a economizar energia que seria gasta para produzir mais bens;, explica.
Após conhecer iniciativas estrangeiras na internet para o incentivo ao empréstimo, como o e o , Camila achou que seria uma boa ideia implementar a iniciativa no Brasil e então criou o Tem Açúcar?. ;Precisei pensar em uma forma de adaptar o projeto à realidade brasileira. Afinal, a gente não tem o mesmo nível de segurança aqui do que em países da Europa, por exemplo;, relembra Camila.
A primeira etapa do site começou em junho de 2014, quando o projeto passou a ser divulgado e abriu espaço para as primeiras inscrições. Após duas semanas, 2 mil pessoas já haviam se cadastrado. A grande e rápida adesão fez Camila acreditar que a iniciativa daria certo e, em dezembro do ano passado, o site entrou em funcionamento de forma total. Pouco mais de um mês depois, o Tem Açúcar? já conta com mais de 25 mil usuários.
;Várias pessoas têm comentado como a ideia é boa. Já ouvi umas sete pessoas me dizendo que queriam ter feito algo desse tipo aqui no Brasil, mas não sabiam como;, aponta Camila. E, mesmo com pouco tempo de vida, o Tem Açúcar? já surpreende a própria criadora. ;Já vi uma pessoa pedindo ajuda a vizinhos porque ela queria criar um horta. Outra pedia para alguém ceder um espaço onde ela pudesse praticar saxofone, pois ela não consegue fazer isso na própria casa;, relata. ;Fico feliz porque já mostra que tudo está indo para além da colaboração material, em direção a um nível maior.;
Segundo Camila, a forma como muita gente não se relaciona com os vizinhos é reflexo do sistema econômico em geral. ;Ele passa a falsa impressão de independência: você tem seu dinheiro e não precisa dos outros. Mas agora há uma quebra desse pensamento;, explica a jovem. O Tem Açúcar? seria, então, um incentivo ao retorno do sentimento de comunidade. ;Fazer as coisas em grupo cria um sentimento de felicidade muito maior;, defende Camila.
Agora, a estudante espera que o site consiga crescer cada vez mais e tenha bons rendimentos financeiros. ;Assim vou poder contratar pessoas para ajudar na manutenção do site e ficar livre para trabalhar em outros projetos.; Atualmente, Camila cuida de praticamente tudo sozinha, a não ser pela programação do site, feita por uma equipe contratada por ela.
Com informações de Max Valarezo