Tecnologia

Robô criado no MIT consegue se locomover entre as pessoas

A solução poderá facilitar a inserção de androides em locais movimentados

Victor Correia*
postado em 19/02/2017 06:00
O androide saiu-se bem em testes de 20 minutos: treinamento em um computador dura nove horas

Se os robôs farão parte de nossas vidas, eles precisarão saber como se comportar e locomover seguramente em um ambiente frequentado por humanos, entre outras habilidades. Um androide que opere num lugar cheio de pedestres, como um supermercado, não pode atropelar e/ou ferir funcionários e clientes. Coisa que, aliás, já aconteceu. Pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, o MIT, nos Estados Unidos, desenvolveram um algoritmo que pode solucionar esse problema. A solução leva em conta, inclusive, regras sociais, como andar sempre à direita e manter distância de quem está à frente, na movimentação dos autômatos.
O algoritmo passa por um processo inicial de aprendizagem que dura nove horas em um computador, no qual aprende a reagir em diversos cenários corriqueiros de um ambiente real. Depois de calibrado, o protótipo foi capaz de andar sem nenhum incidente em um prédio movimentado do MIT, com 20 minutos de autonomia. ;Nos Estados Unidos, as pessoas tendem a passar por pedestres andando no sentido oposto, pelo lado direito, e a ultrapassar pedestres mais lentos pela esquerda;, diz Michael Everett, um dos autores do estudo. ;Por isso, essas duas normas sociais estão embutidas no nosso algoritmo de aprendizado.;
O problema de navegar um robô entre grupos de pedestres é que os movimentos dos indivíduos são muito difíceis de serem previstos. Uma das abordagens possíveis é criar um caminho com base na previsão das trajetórias de cada pessoa em um local, mas isso demanda um período para cálculo. Dessa forma, a máquina fica muito tempo parada, analisando o ambiente. Outra abordagem, baseada na reação a uma colisão iminente, é mais rápida, mas pode causar acidentes em situações imprevistas.
O robô criado pelo MIT é igual a qualquer outro à primeira vista e usa sensores e peças comuns. Seu diferencial, dizem os criadores, é o algoritmo usado para analisar o ambiente e criar um caminho seguro por entre os pedestres. ;Ele é treinado em uma simulação com milhares de situações geradas aleatoriamente. Após cada cenário, a trajetória escolhida é avaliada e recebe uma recompensa, caso ele chegue ao objetivo, ou uma punição, se colidir com outras pessoas ou violar normas sociais;, afirma o coautor do estudo, que será detalhado na Conferência Internacional de Robôs e Sistemas Inteligentes em Vancouver, Canadá, entre os dias 24 e 28 deste mês.
Durante os testes, os pesquisadores demonstraram que o robô também é consegue rodar sem nenhuma colisão e até reagir à curiosidade dos pedestres. ;Quando as pessoas passam por alguém que não conhecem, normalmente só continuam andando. Mas quando elas veem nosso robô pela primeira vez, muitas querem testar do que ele é capaz. Por outro lado, algumas pessoas só continuam com seu caminho, e nós vimos o robô lidar seguramente com essas duas situações;, diz Michael Everett. ;Nossa experiência sugere que interações entre humanos são muito diferentes das interações entre humanos e máquinas, e entender esse aspecto pode ser uma área de pesquisa futura com a nossa plataforma.;

Obstáculos técnicos


Professor do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade de Brasília (UnB), Geovany Araujo Borges não acredita no uso imediato do androide. ;Robôs são, e ainda serão por algum tempo, feitos de partes rígidas, que podem machucar alguém em caso de colisão. Por isso, no ambiente industrial, eles não operam entre pessoas;, justifica. ;No caso de um robô cuidador de idosos, que cuide da limpeza de nossas casas ou mesmo uma cadeira de rodas robótica, a capacidade de realizar tarefas sem que haja riscos para os seres humanos é uma condição necessária;, pondera.
Para André Marcato, professor de engenharia elétrica da Universidade Federal de Juiz de Fora, em Minas Gerais, um dos principais desafios da área é a criação de robôs móveis. ;A expectativa é de que, com o passar dos anos, eles estarão presentes na nossa vida diária, mas o robô não pode colidir com uma criança ou passar por cima do pé de uma criança, não pode machucar ninguém.;
A previsibilidade de comportamentos é outro obstáculo, ressalta Geovany Araujo Borges. ;O movimento do robô não é tão previsível como o de um pedestre. Isso faz com que as pessoas se confundam sobre que ação tomar para evitar uma colisão com a máquina. Logo, se as ações tomadas pelo robô seguirem alguma regra social bem-aceita, fica mais fácil para os humanos também agirem.;
Segundo o professor André Marcato, o tipo de abordagem utilizado pelos pesquisadores do MIT, levando em conta o comportamento de multidões, poderá ser usada em outros ambientes. ;Ela beneficiaria, por exemplo, robôs aquáticos, que vão interagir em ambientes que têm peixes, baleias, tubarões e aprender o comportamento desses animais, podendo ajudar na sua preservação. As aplicações são infinitas.;

* Estagiário sob a supervisão da subeditora Carmen Souza

Acidente em shopping


Em julho do ano passado, um robô de segurança derrubou e passou por cima de uma criança de 1 ano e quatro meses em um shopping da Califórnia, nos Estados Unidos, causando ferimentos nas pernas e na cabeça do garoto. A máquina autônoma tinha mais de 130kg e foi projetada para patrulhar os corredores do centro de compras e detectar possíveis crimes, alertando, em seguida, as autoridades.

;Ela (a solução) beneficiaria, por exemplo, robôs aquáticos, que vão interagir em ambientes que têm peixes, baleias, tubarões e aprender o comportamento desses animais, podendo ajudar na sua preservação.
As aplicações são infinitas;

"André Marcato, professor de engenharia elétrica da UniversidadeFederal de Juiz de Fora

Cuidados universais

O fluxo de pedestres tende a se organizar de forma parecida ao trânsito do país em questão. Na Inglaterra, por exemplo, onde os carros andam pelo lado esquerdo das vias, os pedestres seguem a mesma tendência. Já outras normas sociais costumam estar presentes em todos os lugares, como manter distância da pessoa à frente, não pisar nos calcanhares dos outros nem parar no meio da multidão.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação