Turismo

Experiência em projetos sociais no exterior fortalece a convivência diária

postado em 24/11/2010 08:00

Você cuidaria de um ;bebê; rinoceronte na África? Brincaria com crianças carentes no Peru? Aceitaria trabalhar na manutenção de trilhas na Nova Zelândia? Ou, quem sabe, jogaria beisebol com jovens em favelas no Rio de Janeiro? Se a resposta for sim, você pode se tornar um volunturista, um turista voluntário. Essa modalidade de viagem é um modo diferente de conhecer lugares e absorver a sua cultura.

Os destinos desse circuito ficam fora do convencional, já que são áreas carentes e apresentam alguma dificuldade para o visitante. Os futuros voluntários compram pacotes que podem variar de duas semanas a um ano e viajam para trabalhar em projetos sociais. O comum nessas ofertas é que pelo menos metade do valor seja destinada às entidades. Hospedagem e alimentação estão incluídas no serviço. Já a recompensa de ajudar alguém próximo ou do outro lado do mundo vem como bônus da compra.

Para a belo-horizontina Patrícia Mendoza, 19 anos, que ficou seis meses na Austrália, a oportunidade de trabalhar com crianças foi transformadora. Como assistente de uma escola de educação de crianças com até 6 anos, ela conta que o difícil foi voltar para casa. ;Criança é vida. Me apeguei a elas e à minha família de lá. Além disso, adquiri uma bagagem cultural, um conhecimento de mundo que me deu mais confiança e determinação para fazer o que quero.;

No Brasil, a prática é novidade, e a procura, pequena. Embora sem informar números de embarque, agências que oferecem o serviço, como a Experimento (www.experimento.org.br) e a CI, garantem que este ano houve um aumento de vendas de aproximadamente 30% em relação ao ano passado. A África do Sul lidera o ranking dos destinos escolhidos.

Universitários e recém-formados são os que mais viajam como volunturistas. Muitas vezes, procurando uma perspectiva profissional diferente. Foi o que motivou a veterinária Angélica Mizutori, 24 anos, que investiu ao todo cerca de R$ 7 mil e ficou 15 dias cuidando de animais selvagens numa comunidade africana. ;A cada dia, eu tinha uma tarefa diferente a fazer. Fiz companhia para um filhote de rinoceronte que não podia ficar sozinho para não se estressar. Mediquei galinhas d;angola intoxicadas. E dormi num alojamento de frente para hienas. Com certeza, foi uma grande experiência;, relembra a jovem. Ela até hoje mantém contato com os amigos que fez na viagem. ;Festejei meu aniversário, no mês passado, na África do Sul;, conta.

Guepardos
Como Angélica e grande parte dos volunturistas, a bióloga Patrícia Vasconcellos, 25 anos, também escolheu a África do Sul para fazer o passeio. ;Fiquei em um projeto chamado Seaview Lion Park por três semanas, próximo à cidade de Port Elizabeth. Quando cheguei, havia três filhotes de leão com poucas semanas de vida e nossa principal função era cuidar deles;, comenta. A bióloga, cheia de histórias, narra uma instigante caça ao tesouro na savana.

;Além de achar nosso caminho de volta, tínhamos de tomar cuidado com os predadores, os espinhos, os insetos... O papel que recebemos continha nossa primeira dica em forma de charada, e tivemos de achar muitas outras em lugares estratégicos antes de sermos buscados de novo pelo coordenador do projeto. Neste dia, descansamos ao ar livre. Nada se compara a dormir a céu aberto com dois guepardos ronronando em cima de você;, narra a bióloga.

Já o estudante Vitor Freitas, 21 anos, se aventurou em janeiro deste ano pelas terras da Nova Zelândia e ficou dois meses cuidando da manutenção de trilhas na pequena e linda cidade de Russell. A hospedagem, conta, foi no meio do mato. Saídas noturnas? Nem pensar. ;Quando é uma viagem de turismo, você só se diverte. Queria ter um aprendizado acadêmico e profissional;, explica.

Segundo Giseli Mainardi, gerente de produto da CI, os desafios enfrentados por esses turistas estão a adaptação à nova cultura. ;As comunidades são muito pobres, os locais que recebem projetos ambientais são distantes dos grandes centros urbanos. Você fica 100% por aquela entidade, não dá pra sair para a balada ou ir para o bar;, explica a gerente. Emília Miguel, gerente comercial da Experimento, recentemente trouxe turistas de fora do Brasil para trabalhar em comunidades carentes de Natal (RN) e Florianópolis (SC). ;Tem muito estrangeiro que quer vir para o nosso país. Procuramos levá-los para mercados menores e cidades mais seguras;, esclarece.

Pré-requisitos
Os candidatos a volunturista devem:

  • Ter pelo menos conhecimento intermediário de inglês
  • Ser maiores de 18 anos
  • Ter tempo livre para dedicar-se integralmente ao serviço


Estrangeiros também ajudam
Na via contrária das agências que levam brasileiros para fora, está a ONG Iko Poran (www.ikoporan.org), que, desde 2004, traz estrangeiros para participar de projetos em comunidades carentes do Rio de Janeiro. O turista se inscreve pelo site e escolhe o trabalho que quer fazer. A Iko Poran o recebe no aeroporto, dá orientações e estabelece horários de serviço, além de fornecer hospedagem e alimentação. Um pacote de no mínimo quatro semanas custa até R$ 1 mil.

Atualmente, existem 40 ONGs parceiras e há uma média de 5 mil a 10 mil pessoas diretamente atendidas. Só no ano passado, a entidade recebeu 300 volunturistas vindos dos mais diversos países, como Chile, China, Romênia e Argentina. ;Agora, temos dois jovens do Canadá que vão participar de um projeto social de vôlei na Praia de Ipanema. Eles querem ajudar e compartilhar. O voluntário tem uma perspectiva local. Somos um ponto de lançamento seguro para explorar o Rio;, defende Luís Felipe Murray, criador da ONG.

QUEM LEVA


África do Sul


(21) 3724-4464
Período previsto: janeiro a julho. A partir de US$ 6,2 mil*. Oportunidades nas áreas de saúde, educação, política, agricultura e trabalho com portadores de necessidades especiais. Inclui passagens aéreas, hospedagem e alimentação nas sedes dos projetos e seguro saúde.

África do Sul

(11) 3677- 3600
Duração: quatro semanas. A partir de US$ 2.430*. Oportunidades no Lion Park, área de preservação animal. Localiza-se em Gauteng, a 20 minutos de Joanesburgo. Inclui passagens aéreas, hospedagem, alimentação em regime de meia pensão e treinamento inicial.

Austrália

(21) 3724- 4464
Período previsto: fevereiro a julho. A partir de US$ 7,5 mil*. Oportunidades nas áreas de saúde, trabalho com crianças, proteção dos animais, preservação ambiental, desenvolvimento e organizações de caridade. Hospedagem e alimentação em casa de família ou em instalações providenciadas pela organização social. Inclui passagens aéreas e seguro saúde.

Peru


(11) 3677- 3600
Duração: quatro semanas. A partir de US$ 1.588*. Oportunidade no projeto Semillitas de Jesus, ao sul de Lima, no distrito de San Juan de Miraflores. Atividades educacionais em creche. Inclui passagens aéreas, hospedagem, alimentação em regime de meia pensão e treinamento inicial.

* Todos os preços estão sujeitos a alterações.

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