Turismo

Berço da era moderna: Barcelona depois dos jogos olímpicos

Sede das Olimpíadas de 1992, Barcelona ainda vive o legado do evento que fez da cidade uma das mais visitadas da Europa. História dos Jogos está embrenhada na arquitetura e no turismo

Enviada Especial
postado em 03/04/2015 10:00

O Estádio Olímpico, onde foram realizadas as cerimônias de abertura e encerramento dos jogos, hoje é aberto à visitação dos turistas. A entrada é gratuita
Barcelona ; Não foi apenas pelo espetáculo da maior equipe norte-americana de basquete de todos os tempos, conhecida como Dream Team, que a Olimpíada de Barcelona ficou marcada na história. O time formado pelos atletas Michael Jordan, Magic Johnson e Larry Bird contribuiu ; e muito ; para manter os Jogos no imaginário dos fãs de esporte, mas a grande protagonista, em 1992, foi a própria cidade, Barcelona.

Se Olímpia, na Grécia, foi o berço da competição a partir dos anos 2.500 a.C., a capital da Catalunha pode ser considerada o nascedouro da era moderna das Olimpíadas. E, hoje, quase 23 anos depois, vive o legado olímpico que a transformou em uma das cidades mais visitadas da Europa.

Pela primeira vez na história dos Jogos Olímpicos modernos, os organizadores se preocuparam com a estrutura dos jogos e com detalhes além dos 16 dias de competições. Era preciso transformar a cidade, aproveitar a chance para uma grande revolução urbanística e colocá-la no mapa do turismo internacional. Não à toa, Barcelona se tornou queridinha da Europa, atraindo mais de 8 mil visitantes por ano.

Uma visita à cidade dificilmente é desvencilhada da história esportiva. A vila olímpica está integrada no dia a dia dos catalões; e os monumentos chamam a atenção dos turistas que se aventuram pela cidade milenar. É na colina de Montjuic, de onde se tem uma vista privilegiada, que tudo se encontra.

Situada na zona sudoeste de Barcelona está o Estádio Olímpico, onde foram realizadas a abertura e o encerramento dos Jogos. O local, palco das disputas de atletismo, conta com um café e uma loja de suvenir e fica aberto para visitação gratuita. Centro do mundo em julho de 1992, a arena tem pouco uso esportivo, recebendo mais shows do que competições. Chegou a ser sede do clube de futebol Espanyol, segundo time da Catalunha, mas em 2009, com a saída do time, caiu em desuso.

A área ao redor do estádio é ponto obrigatório para os turistas que vão a Barcelona. No mesmo complexo, está o Museu Olímpico, onde é possível conhecer a história dos Jogos por meio de exposições de peças, como tochas e uniformes, e instalações multimídias com os melhores momentos das disputas. A mascote Cobi, um dos mais simpáticos da história das Olimpíadas, tem um espaço especial. Os ingressos para o museu custam 5,10 euros (aproximadamente R$ 17).

Na mesma região, está o Palau Sant Jordi, principal pavilhão coberto da edição de 1992. Depois de ver os jogadores de vôlei Tande e Giovane colocarem o Brasil no lugar mais alto do pódio ; foi o primeiro ouro olímpico do país em esportes coletivos ;, o ginásio se tornou palco de espetáculos esportivos e musicais. Já as piscinas de Picornell foram abertas ao público e recebem cerca de 2 mil pessoas por dia.

Além da vila olímpica


As Olimpíadas estão presentes onde menos se imagina. Em 11 anos de reconstrução, a milenar Barcelona se transformou em uma cidade moderna. Os curtos 16 dias de competições deixaram um legado que persiste duas décadas depois. Uma das principais diferenças da capital catalã antes e depois dos Jogos de 1992 foi a transformação da zona portuária.

O litoral ganhou uma nova configuração, com a criação de 4,2km de praias e do bairro Barceloneta, que movimentou o turismo na cidade. O Mar Mediterrâneo era separado da cidade por fábricas e galpões abandonados, deixando os habitantes longe do mar. Agora, os verões da cidade são agitados, com 3 milhões de banhistas por ano, e a região ganhou uma vida noturna cuja fama atravessa continentes. Mudanças como essa fizeram Barcelona saltar do 11; lugar em 1990 entre as cidades europeias mais atraentes, para o 4; em 2010. (JR)

Novidade


A experiência olímpica poderá ser vivenciada até mesmo por quem não pretica qualquer tipo de esporte, quando foi inaugurado o parque Open Camp, no próximo ano, no Rio de Janeiro. Os visitantes poderão experimentar, virtualmente, experiências competitivas, como correr uma prova ao lado de Usain Bolt, jogar uma partida de futebol com grandes craques ou competir na natação com Michael Phelps. Mais de 50 tipos de disputas virtuais e interativas farão parte das atrações do local. Os US$ 20 milhões (R$ 68,3 milhões) gastos na construção do parque pretendem dar nova vida ao Estádio Olímpico, que está subutilizado. A estimativa é de que os ingressos custem de US$ 28 (R$ 95) a US$ 45 (R$ 153).

O desafio chega ao Rio de Janeiro

As obras para receber a próxima competição estão em andamento na cidade turística mais conhecida do Brasil
Enquanto a capital da Catalunha ainda colhe os frutos do trabalho feito há mais de duas décadas, o Rio de Janeiro tem o desafio de preparar um evento que se perpetue além das competições. A cidade turística mais conhecida do país tem um ano e quatro meses para construir as instalações e fazer as melhorias urbanísticas. O processo é lento e algumas expectativas já começam a se frustrar, como a despoluição da Baía de Guanabara, onde ocorrerão as competições de vela dos Jogos de 2016. Inicialmente, a meta era sanear 80% do volume da água até os Jogos, mas em fevereiro o governo do estado reduziu a porcentagem para 49%.

O receio de que as instalações se transformem em grandes elefantes brancos, como ocorreu em Atenas após os jogos de 2004, foi refutado pelo prefeito do Rio, Eduardo Paes. Em agosto passado, ele afirmou que a cidade terá o maior legado da história das Olimpíadas, superando os Jogos de Barcelona, em 1992. ;No nosso caso, não será feita só uma recuperação no centro da cidade, mas uma revitalização da cidade como um todo;, disse Paes.

As cidades que mais se aproximaram da herança deixada por Barcelona foram Sidney (2000) e Londres (2012). Sede dos jogos de 2000, a cidade australiana aproveitou o evento para se modernizar. Londres, embora tenha se frustrado pela redução no número de turistas durante os 20 dias de competições, transformou os espaços olímpicos em parques urbanos.

; A jornalista viajou a convite da Samsung

Herança olímpica

Depois de Barcelona, as cidades passaram a utilizar os espaços turísticos pós-jogos. Conheça os roteiros de algumas delas

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Londres 2012
Palco das últimas Olimpíadas, Londres ainda vive o clima dos jogos. As instalações foram adaptadas para se tornarem atrações turísticas permanentes. O Parque Olímpico, ao leste da cidade, é hoje um parque urbano, o maior da Europa nos últimos 150 anos. Segundo o governo britânico, 9 milhões de visitantes passam, anualmente, pelo local. O Centro Aquático no qual o nadador norte-americano Michael Phelps se transformou no maior atleta olímpico da história, com 22 medalhas, é uma piscina municipal. Até o velódromo é aberto ao público, que pode comprar uma sessão de meia hora para pedalar na pista. A partir do próximo ano, o estádio de atletismo onde o velocista jamaicano Usain Bolt levou o ouro nos 100m, 200m e 4x100m também será aberto. Uma das grandes atrações do parque é a torre Orbit, de 115 metros projetada pelo escultor indiano Anish Kapoor, de onde se tem uma vista privilegiada de Londres.
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Pequim 2008
A passagem dos Jogos pela capital da China deixou duas obras colossais que recebem milhares de turistas por ano. A primeira, e mais representativa, é o edifício projetado pela dupla suíça Jacques Herzog e Pierre de Meuron conhecido como Ninho do Pássaro. A principal arena das Olimpíadas de 2008, recebeu atletas como a brasileira medalhista de ouro no salto em distância, Maurren Maggi. Pouco usado para competições esportivas desde então, o estádio de US$ 450 milhões é hoje um enorme monumento. O complexo conta também com o Cubo d;Água, uma espécie de caixote gigante com bolhas, onde ocorreram os eventos aquáticos durante as competições. Na entrada do parque olímpico, as estátuas dos mascotes atraem os turistas. Em toda a cidade, há grandes obras de arte contemporânea feitas para os Jogos.
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Atenas 2004
Em Atenas, se encontra o antigo Estádio Kalimarmaro, o primeiro a receber os Jogos Olímpicos da Antiguidade. O Templo de Zeus Olímpico, com 200m de comprimento e 130m de largura, abriga hoje as ruínas de um dos mais famosos espaços da cidade em seu apogeu. Segundo a lenda, Sócrates costumava se encontrar com seus discípulos naquele local. Acredita-se, em Atenas, que os jogos de 2004 teriam levado a Grécia à crise econômica que acometeu o país nos anos que se seguiram. Os 23 complexos olímpicos são considerados ;elefantes brancos;, e apenas cinco não estão obsoletos. Um deles é o Centro de Imprensa, que virou um shopping center. Apesar disso, o legado dos Jogos inclui aeroporto moderno, melhora nos meios de transporte e avanços nas redes de energia e telecomunicação.
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Sidney 2000
Construído sobre uma zona industrial recuperada, o complexo olímpico de Sidney é um exemplo de projeto ecológico. Localizado na Baía Homebush e conta com um conjunto de estádios e instalações esportivas. O Estádio Austrália ; arena que recebeu a abertura, o encerramento, os jogos de futebol e as provas de atletismo ; oferece o Explore Tour que leva o visitante aos bastidores dos Jogos Olímpicos, passando pelos vestiários, arquibancadas e campo. A Gantry Tour leva o turista à parte superior do estádio, em uma passarela de aço que fica acima da arena, com a visão panorâmica, poucos metros abaixo da cobertura do estádio. O turista também pode visitar o Parque Aquático Olímpico e nadar na piscina onde foram realizadas grandes disputas e 13 quebras de recordes mundiais e 24 olímpicos. Em volta do complexo, fica o Parque Bicentenário, propício para piqueniques e caminhadas.

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