Turismo

Em Bath, as termas onde os romanos bon vivants frequentavam há milênios

O balneário do condado de Somerset é recheado de lendas sobre o seu surgimento e, principalmente, das propriedades medicinais das águas. A dica para o visitante é ver as piscinas bem preservadas e aproveitar um spa com diversos tratamentos terapêuticos

Paloma Oliveto
postado em 23/04/2015 18:05

Além das áreas com águas termais, Bath tem muito a oferecer aos visitantes: não deixe de visitar os parques, a  abadia e o conjunto de 30 casas geminadas do arquiteto John Wood
Os romanos eram bon vivants. Quando não estavam em campanha militar para abocanhar mais um pedaço do mundo e incorporá-lo a seu império, faziam questão de relaxar nos banhos públicos. Nesses locais, podiam não só desestressar em águas quentes ou despertar o corpo nas piscinas geladas, mas fazer o social, fechar negócios, falar de política ou apenas fofocar sobre a vida alheia. Os banhos, para eles, não eram apenas um passatempo. Eram quase uma instituição.

Poucas termas romanas são tão bem preservadas quanto à de Bath, no condado de Somerset. Quando invadiram as Ilhas Britânicas, em 49 d.C., os romanos encontraram um paraíso natural. Banhada pelo rio Avon (que significa rio, em celta), a cidade tem três nascentes da água quente, sendo a maior delas aquecida constantemente a 46,5;c. Ao redor dela, ergueram-se o banho público e o templo de Minerva. Logo se espalhou que a chamada Nascente Sagrada tinha propriedades mágicas, curativas. Assim, Bath se transformou numa espécie de centro de peregrinação, atraindo visitantes não só das ilhas, mas de toda a Europa.

Interessante é que os romanos não foram os primeiros a descobrir o potencial aquífero de Bath. Uma lenda muito anterior à chegada das legiões imperiais dizia que o príncipe Bladud, rei dos bretões, havia se curado de lepra depois de se banhar nas águas lamacentas do lugar. Em gratidão, fundou a cidade em 863 a.C. A história pode não ser verdadeira, mas arqueólogos encontraram evidências de atividade humana ao redor das nascentes quentes, datando de pelo menos 10 mil anos, um indicativo de que, muito antes dos romanos, as pessoas já tomavam banhos por lá.

Mas Bath só adquiriu o status de balneário com a invasão das lhas Britânicas. Um suntuoso complexo ; hoje praticamente intacto ; foi erguido seguindo os princípios da mais refinada arquitetura clássica. O passeio pelas termas é um retorno ao glorioso passado do império romano e revela curiosidades inexistentes em outros lugares do mundo. Durante os trabalhos de escavação do local, arqueólogos encontraram peças que, até agora, só foram descobertas em Bath. Trata-se de tabuletas onde os frequentadores do templo de Minerva escreviam reclamações e pedidos para que a deusa punisse os malfeitores. ;Docimedis perdeu duas luvas e pede que o ladrão responsável perca a consciência e os olhos no templo da deusa;, suplica uma pessoa. Outra, que teve um anel roubado, solicita que a divindade faça com que o larápio tenha ;todos seus intestinos devorados;.

Funcionários vestidos a caráter nas termas de Bath: piscinas preservadas
Engenharia


O visitante também poderá ver as muito bem preservadas piscinas que, por obra da engenharia romana, ora levavam água quente, ora água gelada para os banhistas. No centro do complexo, está o Banho Grande, um tanque com 1,60m de profundidade do qual, ainda hoje, borbulha água mineral ; é proibido, porém, entrar lá ou mesmo colocar a mão. Os curiosos têm a oportunidade de, na saída das termas, provar a água de um filtro seguro.

Visitar Bath sem experimentar as maravilhas das piscinas termais pode ser frustrante. Por isso, é praticamente obrigatório incluir no passeio uma visita Thermae Bath Spa, um spa que oferece diversos tratamentos terapêuticos, como massagens relaxantes, além de quatro piscinas de água mineral quentinhas (temperatura média de 33,5;C), boas para frequentar mesmo no frio. A mais concorrida delas fica no terraço descoberto do prédio e oferece uma vista espetacular para a cidade. O preço é compensador: a partir de 72 libras, o turista passa três horas no spa, com acesso às piscinas e a um tipo de massagem. As reservas podem ser feitas on-line, no site www.thermaebathspa.com.

Para ser completo, o passeio em Bath deve incluir uma visita à bela abadia, construída em 1499. Com 67m de comprimento e 22m de altura, o templo tem uma torre de 49m, com 212 degraus, que fornece uma privilegiada vista da cidade a quem se dispõe subir. Outro ponto que vale conhecer é o Royal Crescent, um conjunto de 30 casas germinadas projetado pelo arquiteto John Wood, considerado um dos melhores exemplos do estilo georgiano da Inglaterra.

Os fãs da escritora Jane Austin gostarão de saber que ela morou em Bath durante alguns meses e, inclusive, cita a cidade em algumas de suas obras. Para homenageá-la, há um centro de exibições perto do Royal Crescent, onde o visitante é recebido por personagens dos livros. Mais informações em www.janeausten.co.uk/the-jane- austen-centre/exhibition.

Lei e ordem em Salisbury

A catedral é a grande atração da cidade: o estilo gótico impera na obra
A apenas 50km de Bath, fica Salisbury, que está em festa este ano, pelas comemorações dos oito séculos da Magna Carta, documento considerado precursor das constituições. O destino, eleito um dos 10 melhores da Inglaterra pelo guia Lonely Planet, também é um ótimo lugar para hospedar os turistas que pretendem conhecer Stonehenge, distante 15km dali, e pequenos vilarejos da região.

No centro da cidade, a grande atração turística é a catedral, legítima representante do primeiro estágio do gótico britânico. Tão impressionante quanto o templo é o tempo em que foi construído: apenas 38 anos ; para se ter uma ideia, a catedral de Notre Dame, em Paris, levou 182 anos para ser erguida. Pessoas comuns da região ajudaram a levantar a igreja, usando 70 mil toneladas de pedra, 28 mil toneladas de carvalho e 420 toneladas de chumbo, explicam os simpáticos guias voluntários que conduzem os tours pelo prédio.

Além dos vitrais, das estátuas, dos túmulos e de toda a história encravada em cada centímetro da igreja medieval, a catedral de Salisbury guarda um dos maiores tesouros da Inglaterra: um dos únicos quatro manuscritos ainda existentes da Magna Carta, que, em 1215, era uma verdadeira novidade para o mundo. Escrita em latim e selado pelo rei João (não se costumava assinar documentos na Idade Média), o conjunto de 60 cláusulas inspirou as constituições modernas, incluindo a americana. Ela foi elaborada para tentar frear uma crise política que poderia acabar em guerra civil.

Para agradar os barões, o rei João concordou em restringir alguns poderes monárquicos e a instituir conceitos como justiça, igualdade e direitos humanos. Uma 13 das cópias do documento, acordado em Runnymede, ficou na catedral de Old Sarum onde, mais tarde, foi construída a catedral de Salisbury.

Para quem visita Salisbury ou Bath ; ou, melhor ainda, as duas ;, um passeio imperdível é o vilarejo de Lacock. Geralmente, agências de turismo oferecem tour de um dia nas três atrações, partindo de Londres. Mas, se estiver com tempo, o visitante não vai se arrepender de dedicar ao menos meio dia para conhecer esse destino medieval administrado pela National Trust, o órgão de conservação do patrimônio histórico inglês.

As casinhas de pedra, madeira e tijolos não sofreram intervenções modernas, fazendo de Lacock um cenário perfeito para produções de época, incluindo tomadas dos filmes Harry Potter e Orgulho e preconceito. Vale conhecer a Abadia de Lacock, um antigo convento convertido em moradia no estilo Tudor (www.nationaltrust.org.uk/lacock) e o museu Fox Talbot, dedicado ao inventor inglês da fotografia (www.nationaltrust.org.uk).

Guia

Como chegar
; Bath fica em Somerset, a 186km de Londres. Há trens diários desde a capital, saindo da Estação de Paddington em diversos horários, com duração de uma hora e meia. Horários e rotas em www.thetrainline.com. Da Estação de Vitória saem os ônibus, com viagens que duram, em média, duas horas e meia. Horários e rotas em www.nationalexpress.com/home.aspx. Da capital inglesa saem diversas excursões de um dia para a cidade.

; Salisbury fica em Wiltshire, a 50km de Bath e a 125km de Londres. Há trens diários desde a capital, saindo da Estação de Paddington em diversos horários, com duração de 1h20min. Horários e rotas em www.thetrainline.com. Da Estação de Vitória saem os ônibus, com viagens com duração a partir de 2 horas e 45 minutos. Horários e rotas em www.nationalexpress.com.

Circule
; Tanto Bath quanto Salisbury podem ser exploradas a pé. Para conhecer Lacock, se não estiver de carro, o ideal é pegar uma excursão de um dia.

Onde comer
; Chapter House: o restaurante está construído em um prédio de 800 anos, no centro histórico de Salisbury, e também é hotel. No cardápio, há pratos à la carte, a partir de 12 libras e menus fixos de dois pratos a 10 libras. Há opções vegetarianas. Site http://thechapterhouseuk.com.

Onde ficar

; The Halcyon Apartments: que tal ter seu próprio apartamento em Bath? Perto das principais atrações da cidade, o prédio do Halcyon aluga sete apartamentos charmosos e espaçosos, com sala, cozinha, banheiro e quarto. Os maiores ficam no primeiro andar. As diárias começam em 115 libras e incluem serviço de limpeza. Quem tem mobilidade reduzida deve optar pelos apartamentos 1 e 2, no térreo, pois o prédio não tem escadas. Site: http://www. thehalcyon.com/apartments.

; Legacy Rose and Crown: esse hotel em Salisbury era um estábulo no século 13. Nos fundos, há um jardim com vista para o rio. Diárias a partir de 90 libras.

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