Turismo

Primeiro navio de cruzeiro zarpa dos EUA para Cuba, após 50 anos

É o primeiro percurso em mais de meio século. Viajantes embarcaram em Miami, rumo a Havana

Rodrigo Craveiro
postado em 02/05/2016 06:47

Turistas e jornalistas a bordo do Adonia de Fathom, com Miami ao fundo: empresa pretende realizar cruzeiros de uma semana, duas vezes por mês
Scott Eddy, 45 anos, pagou US$ 5 mil (cerca de R$ 17,2 mil) para ter a oportunidade de fazer parte da história. Cerca de meia hora após o navio Adonia de Fathom, da empresa americana Carnival, zarpar de Miami rumo a Havana, às 16h (17h em Brasília), ele falou com exclusividade ao Correio sobre o primeiro cruzeiro entre Estados Unidos e Cuba em mais de meio século.

;As pessoas estão muito excitadas, todo mundo está animado para fazer história. No meu caso, eu nasci no sul da Flórida, e era um sonho de infância ir até Cuba;, comentou. ;Cerca de 700 pessoas estão a bordo do navio. Vi alguns cubanos, mas não sei dizer quantos. Eles vão fornecer comida cubana durante a viagem de sete dias de duração;, acrescentou.

A previsão é que o Adonia aporte em Havana às 8h de hoje (hora local). De lá, a jornada segue para Cienfuegos e Santiago de Cuba, antes do retorno a Miami. A retomada do turismo marítimo entre os países se insere na política de aproximação diplomática e do relaxamento das sanções econômicas.

[SAIBAMAIS]Apesar de convidado, Stewart Chiron, um especialista na indústria de cruzeiros, também precisou desembolsar US$ 6 mil (R$ 20,6 mil) pelo bilhete em sua 226; viagem de navio. Dessa vez, havia forte carga simbólica. ;Os passageiros estão exaltados por finalmente serem capazes de visitar Cuba. O clima a bordo é de euforia;, afirmou à reportagem.

Stewart fez questão de levar o filho, Bryan, 13 anos. ;É uma chance incrível para eu compartilhar com o meu filho um momento histórico. Ele esteve comigo em 56 cruzeiros ao redor do mundo. Cuba tem estado fora de nosso alcance até então. Estamos ansiosos em visitar a ilha com o restante de nossa família.; Ele revela ter extraído uma lição da viagem, que nem bem tinha começado. ;A mudança é possível;, explicou.

Assim que o Adonia deixou Miami, uma banda cubana começou a tocar. ;Um barco dos bombeiros lançou jatos d;água, como uma celebração da partida;, relatou. Stewart lembrou que o navio, de 30 mil toneladas, carrega apenas 700 passageiros. ;É uma experiência bem mais intimista que os demais cruzeiros.;

Pouco depois de embarcar, ele conversou com passageiros cubano-americanos. ;Eles estavam bem entusiasmados em visitar a pátria; alguns saíram dos Estados Unidos pela primeira vez. É um momento agridoce. Muitos funcionários da Carnival nasceram na ilha ou têm parentes lá. Eles trabalharam tão duro para tornar esse momento uma realidade e é maravilhoso ser parte da história.;

Em seu site, a Fathom, subsidiária da Carnival, anunciou que oferecia ;uma chance de ajudar a construir novas pontes para uma cultura rica e vibrante, a qual, até agora, a maioria dos turistas americanos somente conhecia por meio de fotografias;.



Saudação
Dissidentes em Miami receberam a partida do Adonia com críticas e esperança. Por telefone, Ramon Saúl Sánchez, presidente do Movimiento Democracia, lembrou que o regime cubano mantinha uma lei que não permitia aos seus nacionais entrarem na ilha pela via marítima.

;Quem ingressa pela via aérea é obrigado a retirar um visto, que tem prazo limitado. A Fathom não expediu as passagens a cubanos, e cremos que isso traz uma repercussão aos direitos humanos. Eu me reuni com o presidente da companhia e pedi que ele vendesse os bilhetes, sem restrição, mas ele respondeu que tinha de respeitar as leis do país de destino. Ele prometeu não negociar com Cuba, caso mantivesse a proibição de entrada;, contou ao Correio.

Em 24 de abril, Havana derrubou o veto. ;Hoje (ontem), chegamos a enviar nossa flotilha Democracia para protestar. Nós seguiríamos o Adonia até as águas territoriais de Cuba. Com o gesto de Havana, levamos mensagens saudando a retificação do direito de trânsito dos cubanos e exigindo o fim dos vistos. Queremos construir pontes, não levantar muralhas;, comentou Sánchez, cuja organização propõe a luta cívica não violenta e defende a reunificação da família cubana.

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