Turismo

Palácio do Campo das Princesas proporciona uma aula de história brasileira

No bairro de Santo Antônio, em Recife, está a sede do governo pernambucano. O edifício histórico do século 19 guarda lembranças de grandes momentos políticos do Brasil, além da beleza arquitetônica

postado em 01/10/2016 09:00

Palácio do Campo das Princesas, em Recife, visto da Praça da República

Participar de uma visita guiada ao Palácio do Campo das Princesas, na Praça da República, no bairro de Santo Antônio, é uma verdadeira aula de história de Pernambuco e também brasileira. A atividade é gratuita. O edifício histórico do século 19 voltou a receber turistas, estudantes e demais interessados após passar por uma profunda restauração, iniciada em 2011.

[SAIBAMAIS]

Apesar de toda beleza e importância histórica do local, quem pretende fazer o programa deve ficar atento. Embora o calor costumeiro da capital nordestina exija roupas frescas, nada de shorts, bermudas ou chinelos nas visitas durante a semana. Já aos domingos, o uniforme de turista fica liberado.

As visitas guiadas são realizadas por monitores capacitados sobre a história de Pernambuco e do edifício. Todos são estudantes universitários. Em algumas visitas há também a participação do coordenador, o professor Fernando Guerra.

O painel de vitral colorido, no alto da escada, retrata a Revolução Pernambucana de 1817

Para começar, Guerra explica ao visitante que os estilos arquitetônicos predominantes da construção são o eclético e o neoclássico. ;O gosto predominante é o francês, mas também há uma mistura de estilos, como o greco-romano;, explica. Para comparar, ele mostra que o Palácio da Justiça, do outro lado da Praça da República, é diferente, por ter um estilo italiano.

Ainda no hall de entrada do palácio, o visitante se depara com um imenso vitral que permite a luz natural iluminar a escadaria principal. O painel de vidro colorido retrata a Revolução Pernambucana de 1817. ;O vitral apresenta importantes elementos da história de Pernambuco, como a figura feminina, que retrata a República, e o leão, usado desde o século 19 como símbolo da bravura do povo pernambucano. Note que o animal está com sua pata em cima da coroa portuguesa;, ressalta o coordenador.

Ao seguir para o segundo andar, o visitante encontra outro vitral na escada. Ele é uma homenagem à República. As imagens, todas femininas, representam Pernambuco, a república, o Brasil e as duas revoluções pernambucanas. Chegando ao segundo andar, é possível passear pela sala de recepção. ;O piso geométrico é uma referência dos palácios franceses. O mobiliário também tem inspiração francesa. As cópias foram feitas no século 19 e reproduzem os móveis dos reis Luís XIV, XV e XVI da França;, explica o professor.

A próxima parada é na sala das embaixatrizes, onde a primeira-dama do estado pode receber visitantes oficiais. A área também é decorada com mobiliário copiado dos palácios franceses. Em seguida, é a vez dos visitantes entrarem no grande salão, local destinado a solenidades acompanhadas pelo som de um piano. O ambiente possui objetos de decoração, como vasos de porcelana e esculturas de bronze no estilo art nouveau.

História contada nos ambientes

No grande salão, é importante dar atenção aos detalhes, como as colunas arrematadas com folhas de ouro. ;Durante a restauração, foram descobertas entre seis e oito camadas de tintas por cima delas;, conta Guerra. Além disso, o teto também é digno de um olhar mais apurado. O gesso cheio de relevos perdeu as camadas de tinta e voltou ao monocromático original.

Já na ala residencial, a última a ser construída, entre 1912 e 1918, o mobiliário é inglês, fabricado em mogno. O primeiro quarto da ala é o cômodo onde morreu o governador Agamenon Magalhães, conta o coordenador. ;Isso rendeu muitas lendas. Tem gente que diz que o espírito do governador anda pelos corredores do palácio;. O político pernambucano foi deputado estadual, deputado federal, ministro do Trabalho e governou o estado de 1937 a 1950.

Em seguida, é possível conhecer o quarto dos filhos do governador ; também com mobiliário inglês ; com duas camas e dois guarda-roupas. O próximo cômodo é o quarto do governador, que segue a decoração dos demais, com móveis ingleses.

Seguindo pelos corredores do palácio, o visitante chega ao terraço na parte de trás, onde se tem uma vista privilegiada do Bairro do Recife e da Rua da Aurora. Dá até para ver a Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe). Olhando para baixo, descortina-se mais uma obra de arte com um jardim criado pelo artista plástico e paisagista Roberto Burle Marx.

O salão de banquete  recebe até 35 pessoas por refeição

A próxima parada é o salão de banquete, com capacidade para receber até 35 pessoas por refeição. A sala possui uma extensa mesa para convidados, além de uma cômoda e duas cristaleiras, onde são guardados talheres, louças e taças de cristais a serem usados pelos comensais. Ao descer para o primeiro andar, o coordenador chama a atenção para uma claraboia, que proporciona iluminação natural na escada.

No primeiro andar está o salão das bandeiras, onde fica a mesa em que o governador assina documentos importantes durante solenidades. Ainda nesse local, o visitante pode ver dois móveis de cedro e espelho de cristal que serviam para receber as cinzas de cigarros e charutos, numa época em que a maioria das pessoas fumava.

É no salão, evidentemente, que estão as bandeiras de todos os estados brasileiros que dão nome ao ambiente. Um espaço dessa sala está reservado para receber uma mesa projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer. O móvel está em processo de restauração antes de integrar a decoração. Nas paredes principais do cômodo estão dispostos dois brasões do estado de Pernambuco. O coordenador lembra que o governador Miguel Arraes, um dos mais importantes políticos brasileiros ; por três vezes governador de Pernambuco (a última, de 1995 a 1998) e avô do ex-governador Eduardo Campos, morto em um acidente aéreo quando era candidato à presidência em agosto de 2014 ;, fazia seus discursos, em uma das sacadas, para multidões em frente ao palácio.

No acesso ao segundo andar, o vitral  é uma homenagem à república

A visita guiada chega ao fim, mas o turista pode aproveitar a proximidade com outros locais importantes para complementar o passeio. De um lado está o Bairro do Recife. Do outro, a Rua da Aurora. Em frente, tem a Praça da República, com seu baobá centenário, o Palácio da Justiça e o Teatro de Santa Isabel no entorno.

; Programe-se

As visitas são oferecidas apenas nas quintas e sextas-feiras, das 9h às 11h e das 14h às 16h, e aos domingos, das 10h às 12h. O limite é de 75 visitantes por turno. Por isso, é importante fazer o agendamento pelo e-mail visitapalacio@governadoria.pe. gov.br. Os grupos formados por estudantes de arquitetura podem solicitar que o monitoramento da atividade seja feito pelo próprio coordenador de visitas. A visitação é gratuita.

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