Covid-19

Reinfecção pela P.1 em Manaus foi maior que 30%, indica estudo

Análise conduzida pelo Centro Brasil-Reino Unido para Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de Arbovírus (Cadde), feita a partir de amostras de sangue de doadores recorrentes, aponta que a nova variante atingiu 31% dos pacientes já infectados anteriormente por outras cepas

Bruna Lima
postado em 17/05/2021 18:11 / atualizado em 17/05/2021 18:14
 (crédito: MICHAEL DANTAS / AFP)
(crédito: MICHAEL DANTAS / AFP)

Uma pesquisa de amostragem realizada por cientistas do Centro Brasil-Reino Unido para Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de Arbovírus (Cadde) indica que 31% dos casos de covid-19 registrados em Manaus, após janeiro de 2021, são de reinfecções a partir da variante originada no Amazonas, batizada de P.1.

“A principal conclusão do trabalho é que reinfecções pela variante P.1 não são raras. Essa conclusão deve valer para o país todo, já que a P.1 tem alta prevalência na maior parte dos estados”, afirmou ao Correio o primeiro autor do artigo, o doutorando da Universidade de São Paulo Carlos Prete. No entanto, o pesquisador estima que a proporção de reinfecções pode variar entre diferentes estados, a depender de quanto tempo se passou desde que a pessoa se infectou pela primeira vez. “Em Manaus, a P.1 chegou 8 meses após o primeiro pico. Espera-se que a proporção de reinfecções seja um pouco menor em locais com pico mais recente como São Paulo, mas ainda assim deve ser considerável.”

Para chegar ao resultado, os cientistas contaram com mais de 3,6 mil pessoas que doam amostras de sangue repetidamente desde 2020. Dentre esses, foram selecionados os que ainda não tinham sido vacinados e que doaram sangue por, pelo menos, três vezes, sendo a primeira antes de julho de 2020 e outra após janeiro de 2021, quando a circulação variante P.1 predominava na capital amazonense.

Testes para detectar anticorpos

A partir daí, as amostras selecionadas foram submetidas a testes que detectam anticorpos. Com os resultados, o estudo dividiu as análises em quatro grupos: de pacientes que não tiveram amostras com anticorpos, indicando que não contraíram o vírus; de indivíduos que só testaram positivo antes da existência da P.1; um terceiro grupo de pessoas que só contraíram a nova variante; e, por fim, o grupo que apresentou grande quantidade de anticorpos nos dois períodos, indicando a reinfecção.

“Esses casos do quarto grupo são os que mais claramente caracterizam a reinfecção”, explicou a coordenadora do Cadde, Ester Sabino, à Agência Fapesp, fundação paulista que apoia o centro. Isso porque o esperado é que, ao longo dos meses, haja uma diminuição de valores de anticorpos detectados. Portanto, foram considerados como “provável reinfecção” os casos em que os valores detectados em 2021 eram maiores do que o observado em 2020. As análises que tinham valores mais baixos em 2021 do que em 2020, mas com percentuais maiores do que o esperado foram consideradas como de “possível reinfecção”.

A taxa de reinfecção calculada variou entre 16% e 31% (dependendo se foram incluídos os casos considerados como reinfecções possíveis ou prováveis). Apesar das análises consideradas consistentes, sobretudo por irem ao encontro de outros estudos divulgados pelo grupo, uma das limitações levantadas pelos autores é a subnotificação e falta de testagem. “A maior parte das pessoas não passou pelo teste molecular na primeira onda. Por isso, estamos buscando métodos alternativos para medir o risco de reinfecção P.1”, diz Ester.

Prete completa: “Devido à subnotificação e à alta proporção de assintomáticos, um infectado tem uma probabilidade pequena de ser notificado como um caso confirmado. Por isso, mesmo com uma probabilidade de reinfecção considerável, a proporção de pacientes com duas infecções confirmadas sempre será pequena”. O estudo foi publicado como pré-print, ou seja, ainda sem revisão de pares.

 

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