MEIO AMBIENTE

Em meio a eventos ambientais extremos, especialistas analisam dados para a COP26

Em meio a eventos ambientais extremos, especialistas analisam dados científicos que servirão de base para as negociações na conferência climática da ONU, a COP26, em novembro. Trabalho deve ser concluído em 9 de agosto, e a expectativa é de um relatório final robusto

Vilhena Soares
postado em 27/07/2021 06:00
As recentes chuvas torrenciais na Alemanha, seguidas de inundações de cidades, indicam, segundo especialistas, a atual urgência climática -  (crédito: Ina Fassbender/AFP )
As recentes chuvas torrenciais na Alemanha, seguidas de inundações de cidades, indicam, segundo especialistas, a atual urgência climática - (crédito: Ina Fassbender/AFP )

Dados que podem ser cruciais para o futuro do planeta começaram a ser analisados por um grupo de 165 países. Autoridades mundiais estão reunidas desde ontem para avaliar previsões climáticas feitas por especialistas da Organização das Nações Unidas (ONU). As informações são de extrema relevância porque, a partir delas, acontecerão as negociações entre líderes políticos na 26º Conferência sobre o Clima, a COP26, que acontecerá em novembro, na Escócia. O evento discutirá medidas mais efetivas para combater o aquecimento global e, assim como a reunião de agora, se dará em um momento em que populações estão ainda mais impactadas pelo desequilíbrio ambiental, como as chuvas devastadoras na China e na Alemanha, os enormes incêndios nos Estados Unidos e as temperaturas sufocantes no Canadá.

A reunião acontece sete anos depois do último relatório desenvolvido por cientistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês) ter sido apresentado. O novo documento, com publicação prevista para o próximo dia 9, deve atualizar avaliações e previsões sobre o aumento das temperaturas, os níveis do oceano, a intensificação de eventos extremos, entre outros tópicos. “O relatório será muito importante para o mundo inteiro (...) Esse informe de avaliação é crucial para o êxito da conferência sobre o clima de Glasgow, em novembro”, declarou Petteri Taalas, secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial (OMM).

Para Stela Herschmann, especialista em política climática da ONG Observatório do Clima (OC), a expectativa é de que, sete anos depois, as pessoas tenham acesso a “dados mais robustos” sobre as questões climáticas. “Esse é o único relatório que deve ser publicado antes do evento (da COP). Ou seja, ele vai ser a base para todas essas discussões tão importantes necessárias para que as medidas mais efetivas, e do alcance dessa meta mais ambiciosa de um aquecimento menor que 1,5ºC, sejam alcançadas”, justificou.

Segundo a especialista, expectativas de quem está agora analisando os novos dados da ONU é de que eles sejam ainda mais incisivos quanto à necessidade de combater o aquecimento global de forma mais ferrenha, e que isso vai se repetir no novo documento. “À medida que esses relatórios são publicados, notamos uma mensagem mais forte e incisiva com informações e previsões que reforçam a responsabilidade dos governantes quanto ao clima e que conectam os eventos climáticos extremos que temos presenciado”, afirmou. “Acredito que teremos mensagens mais fortes, que têm por trás uma ciência também muito mais forte.”

Uma das perguntas que deverá ser respondida pelo relatório é justamente se a meta estabelecida durante o Acordo de Paris em 2015 — em que quase todos os países do planeta se comprometeram a reduzir as emissões de CO2 para limitar o aquecimento global “bem abaixo” de +2ºC — deverá ser mantida ou se um novo propósito ainda mais ambicioso — abaixo de +1,5°C, que também foi cogitado em 2015 — deve ser priorizado. “Limitar o aquecimento a +1,5ºC ainda é fisica, tecnica e economicamente possível, mas não por muito tempo se continuarmos a agir pouco e tarde”, enfatizou Kaisa Kosonen, membro da ONG Greenpeace, à Agência France-Presse (AFP) de notícias. “O IPCC nos disse qual deve ser a nossa ambição: que cada país do mundo se comprometa com a neutralidade de carbono e detalhe um plano para alcançá-la”, afirmou a vice-diretora executiva de Meio Ambiente das Nações Unidas, Joyce Msuya, também à agência francesa.

De acordo com a ONU, para atingir essa meta, as emissões devem ser reduzidas, em média, em 7,6% a cada ano, entre 2020 e 2030. Em 2020, as taxas de carbono caíram em função da pandemia da covid-19, mas a expectativa é de que esse cenário mude. Diante das poucas medidas planejadas para impulsionar a energia limpa, a Agência Internacional de Energia (AIE) prevê, inclusive, emissões recordes para 2023.

Interesse passageiro

Episódios climáticos recentes sinalizam o quanto podemos ser mais impactados pelo desequilíbrio climático. A análise dos estudos científicos da ONU está acontecendo em um período marcado por chuvas e elevação de temperaturas recordes. “As últimas seis semanas nos apresentaram uma série de acontecimentos devastadores, calor, inundações, incêndios, secas (…) Há vários anos alertamos que era possível que tudo isso acontecesse”, afirmou, em comunicado, a secretária executiva da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, Patricia Espinosa.

Apesar das imagens chocantes dos desastres naturais, defensores do meio ambiente temem que esse interesse pelo clima seja passageiro, e que a cúpula de novembro não termine em acordos significativos. “Neste momento, todos estão falando sobre uma emergência climática, e com bons motivos. Mas quando essas tragédias acabarem, provavelmente, iremos esquecer novamente e continuar como antes”, lamentou a ativista Greta Thunberg.

A menos de 100 dias da COP-26, Patricia Espinosa tem avaliação parecida. Segundo ela, “não estamos no caminho certo para respeitar a meta de aumento de temperaturas abaixo de +1,5ºC até o fim do século”. “Na verdade, estamos no caminho oposto, caminhamos para mais de +3ºC. Temos que mudar de rumo com urgência antes que seja tarde demais”, insistiu.

Queda recorde

Estudo realizado pelo Projeto Carbono Global, com estudiosos de diferentes países, mostra que as emissões de CO2 em 2020 sofreram redução de 7%, quando comparadas com as do ano anterior. O dado foi divulgado em dezembro, na revista especializada Earth System Science Data. Segundo os especialista, no ano passado, foram lançadas ao meio ambiente 34 bilhões de toneladas de carbono. Em 2019, 36,4 bilhões. A redução foi a maior já registrada na história, e se deve principalmente ao isolamento social, segundo os especialistas.

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