postado em 17/04/2018 07:05 / atualizado em 17/11/2023 18:14
O futuro da dança é incerto, mas o curador e pesquisador Sérgio Bacelar,
idealizador da segunda edição do Movimento Internacional de Dança (MID), acredita que
ele passa pela mistura de linguagens. Com isso em mente, ele, Sérgio Maggio, Giselle Rodrigues e
Yara de Cunto montaram a programação de 34 espetáculos apresentados no evento
até 29 de abril. Em cartaz em diversos espaços da cidade — incluindo os Sesc de
Taguatinga, Gama e Ceilândia, o Complexo Cultural da Funarte, o Centro Cultural Banco do Brasil
(CCBB), o Teatro Dulcina de Moraes, o JK Shopping e o Instituto Federal de Brasília (IFB) — o
Movimento traz à capital expressões da dança nacionais e internacionais.
A primeira intenção e aposta máxima dos curadores foi provocar todos os tipos de
público. Por isso, há de tudo na programação: a dança
contemporânea investigativa, batalhas de break, charme e street dance. Um palco aberto
receberá grupos das mais variadas expressões musicais e uma batalha de breaking está
marcada para sexta e sábado no JK Shopping. Amanhã, o palco montado no gramado da Funarte
recebe nove grupos do Distrito Federal (DF) e, na quinta, Marcelo Ferreira apresenta o resultado das
residências artísticas que estão em andamento desde a semana passada.
Para sexta estão programados espetáculos da Foco Cia. de Dança e do Corpo de Baile
Noara Beltrami, ambos do DF. No domingo, o Anti Status Quo apresenta Sacolas na cabeça. “O
MID, diferente de muitos festivais, faz convergir, pelo mesmo período de tempo, múltiplos
segmentos da dança, com espetáculos mais palatáveis ao público”, avisa
Sérgio Bacelar. “Cada segmento tem um bom público, mas todos juntos vão ter um
público muito melhor e a ideia é que eles também se vejam para que possam conhecer
outros segmentos da dança. Queremos fazer essa provocação para a gente poder rever
essa formação de público e trazer as pessoas que tinham costume de ir quando a gente
tinha uma programação mais regular.”
Conexões
Giselle Rodrigues lembra que a mistura é sempre boa e ajuda os bailarinos a saírem de
suas zonas de conforto. “A gente vai se aproximando um pouco mais do que está fazendo
também, embora as danças de rua estejam conectadas ao movimento americano. Mas eu acho que
é bom, que tem a sua importância, é um sintoma de mudança, de como esse
panorama está bem diversificado. E essa mescla é interessante porque inclui”, garante.
Os organizadores convidaram também sete programadores de festivais do Brasil e de fora para
conhecer a dança brasiliense. Tem gente da Bienal Internacional de Dança de Fortaleza, do
Instituto Francês de Paris, do Encuentro Internacional Manta por lá Danza (Equador) e do
Festival Moving Borders (México). É uma tentativa de abrir o mercado e inserir os grupos
locais em uma programações nacional e internacional. “Em 2016, a gente trouxe 10
programadores. A partir daí, Luciana Lara, do ASQ, teve a oportunidade de ir ao Vivadança,
em Salvador, e fazer um workshop no Uruguai. Giselle Rodrigues foi para a Costa Rica. A gente volta a
repetir essa ação para dar visibilidade à dança do DF”, avisa Bacelar.
Para Sérgio Maggio, também responsável pela curadoria, o MID pode ajudar a criar
intercâmbios entre grupos de diferentes origens e linguagens, além de ser um catalisador para
um cenário que andava um tanto estagnado. “Existe uma circulação que não
estava acontecendo na dança no DF como estava acontecendo no teatro. O teatro estava conseguindo se
renovar com linguagens e intercâmbios e isso tinha muito a ver com o Cena Contemporânea. Na
dança, estava acontecendo um movimento inverso, você tinha grupos supercriativos parando a
produção, não conseguindo patrocínio, você não via novos grupos
surgindo”, explica. A dança estava confinada em bolhas sem a possibilidade de imersão
que o festival propõe durante as três semanas de eventos.
Gerações
A parte educativa ficou concentrada em aulas e oficinas. No CCBB, crianças e adultos podem
realizar aulas de dança e, ao longo do festival, oito oficinas profissionalizantes ocupam os
espaços do IFB. Dois grandes nomes da produção e expansão cultural brasiliense
são homenageados na edição: Yara de Cunto e Jean Pascal Quiles. Uma das maiores
agitadoras culturais da dança no Brasil, a bailarina, que chegou à capital na década
de 1970, lembra que faz parte de um grupo de pessoas que luta pelo reconhecimento, desenvolvimento e
visibilidade da expressão artística na cidade.
Yara destaca que a formação de plateia e o trabalho junto aos mais jovens é um dos
pontos fortes do festival. A reinauguração do Centro de Dança é lembrada por
ela como um dos bons momentos recentes para a dança na capital. O espaço cria a
possibilidade de que grupos abriguem projetos de dança e tenham seus trabalhos de
manutenção assegurados.
O Corpo de baile Noara Beltrami, um dos representantes do Distrito Federal no MID, apresenta o trabalho
Suite a 4 mãos, que investe na pesquisa corporal e reflexão crítica transformadora
que cerca o universo da dança contemporânea para que se possa mediar e problematizar as
percepções dos bailarinos. “O espetáculo intensifica a discussão sobre
pesquisa coreográfica contemporânea e colabora com a inserção de linguagens
corporais integrada à vivência pessoal”, destaca Noara.
Movimento Internacional de Dança
De 13 a 29 de abril, no Distrito Federal. A entrada é gratuita ou os ingressos custam R$ 10
(meia-entrada), a depender da atração. A programação completa pode ser
conferida no site www. movimentoid.com.br.
“Faço parte de um grupo de pessoas que se reúnem, criam, teorizam e fazem
política para que a dança aconteça, cresça e se profissionalize. A
força vem da unidade e do esforço de muitos. Esperança é a palavra, trabalho
é o caminho”
Yara de Cunto
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