Cidades

Mães artistas relembram histórias da maternidade no palco

Mulheres que trabalham com diferentes formas de expressão artística em Brasília contam as próprias experiências e relembram histórias da maternidade no palco

 Mães artistas. Artista Julia Henning e Sofia.
       -  (crédito: Sabrina Santos Rocha/Divulgação)
Mães artistas. Artista Julia Henning e Sofia. - (crédito: Sabrina Santos Rocha/Divulgação)
Isabella de Andrade - Especial para o Correio
postado em 13/05/2018 08:00 / atualizado em 17/11/2023 18:20
Entre a criatividade dos palcos, cenários, figurinos, ritmos e acrobacias, mulheres artistas compartilham com o público a criação mais importante que já fizeram e transitam entre o treinamento artístico e o preparo para desempenhar o papel de mãe. Atrizes, cantoras, musicistas, arte-educadoras e acrobatas, elas mantêm a produtividade, os ensaios e a dedicação constante às apresentações. Enquanto isso, meninos e meninas são presenteados com a possibilidade de experimentar na primeira infância, ou mesmo dentro da barriga, a experiência da criação artística ao lado das mães.
É o que conta a atriz e artista circense Paula Sallas, 31 anos, que soube da chegada da pequena Yasmin em 2017, enquanto ensaiava diferentes espetáculos e ministrava oficinas criativas. Durante a gravidez, ela apresentou três espetáculos — dois de palhaço e um de teatro. A presença nos palcos continuou constante até o sétimo mês de gravidez. No início, o medo de se machucar em cena tomou conta da artista, que logo se conectou com o próprio ofício e a vontade de manter a criação viva. “Na primeira vez em que apresentei, tive muito medo, mas, logo que coloquei o nariz de palhaço, eu me conectei com o público, com o meu parceiro de cena e com a própria criança que estava sendo gerada. Foi muito interessante”, conta Paula.
A atriz lembra que sentia uma sensação boa e forte dentro da barriga enquanto tocava o bumbo, seu instrumento de percussão. “Parecia que era ela me respondendo.” A artista destaca que adora levar a filha, ainda bebê, para acompanhá-la nos ensaios do espetáculo em que é diretora. Para ela, essa é uma oportunidade ótima para a pequena, que pode assistir de perto uma composição artística. “Hoje em dia, as crianças têm muito contato com novas mídias, novas tecnologias. Ela está se relacionando com essa experiência desde cedo”, comemora.

Aprendizado

Enquanto isso, a arte-educadora Adriana Bertolucci lembra o quanto tem aprendido sobre o próprio trabalho com a chegada da filha, Amora. A pesquisa em literatura infantil tornou-se ainda mais forte e foi complementada pelo estudo literário para bebês. Adriana tem um projeto de mediação de livros e formação de leitores que percorre escolas do Distrito Federal, o Marandubinha. Com a chegada da filha, a educadora pôde aplicar com o público aquilo que aprende em casa, na prática. Durante a gravidez, ela manteve o trabalho de contadora de histórias e mediadora de livros.
“Como arte-educadora, eu tenho muito orgulho em ver que tudo aquilo que eu falo para o público tem um fundamento verdadeiro, eu vejo acontecer dentro da minha casa. Eu leio para ela todos os dias desde os 5 meses de idade”,relata. Adriana destaca que se inspira no trabalho de Yolanda Reyes, que fala da leitura como um momento de afeto entre mães e filhos, uma instante de aproximação. “A Yolanda fala de um triângulo amoroso entre o adulto, a criança e o livro. Eu acredito que é isso que devemos trabalhar em casa”, destaca Adriana.
A musicista e professora Káshi Mello, 31, também subiu inúmeras vezes ao palco durante a gravidez. A filha, Sofia Moreno, 8, chegou a se apresentar no 1º Festival de Ópera de Brasília com Cavaleria Rusticana. “Ela tinha 1 ano e 9 meses à época dessa récita. Dançava e cantava entusiasmada, puxando aplausos da Sala Villa Lobos”, conta a mãe. Atualmente, Sofia se diverte com o teatro e as oficinas de improvisação, além de tocar clarinete. Para a mãe, o contato com a linguagem artística é fundamental, favorecendo o desenvolvimento psicológico e motor.
Káshi manteve o ofício até o 9º mês de gestação e lembra que a filha esteve presente, na barriga, durante constantes construções sonoras de teatro, coro e orquestra. Com a chegada de Sofia, a musicista tornou-se ainda mais inspirada a trabalhar com o desenvolvimento da musicalização infantil. “A maternidade me mostrou o doar, o limite, a saudade, a intuição, a compreensão do incondicional e a nuance entre calmaria e confusão. A vida é arte!”
Quem seguiu os mesmos passos foi a atriz e cantora Brenda Gabrielly, que ficou grávida em 2016, enquanto se apresentava com o projeto musical e performático Cantigas boleráveis. Atualmente, a pequena Iara, de 1 ano e 5 meses, participa dos ensaios dos grupos da mãe de contação de histórias e musicalização. “Ela é o melhor termômetro para dizer se a apresentação vai ser legal para as outras crianças. A nossa diretora mirim”, afirma.
Afeto e sensibilidade
A artista circense Júlia Henning, 35, é mãe de Laís Baptista, 10, que acompanha os ensaios e as criações da companhia Instrumento desde os primeiros passos. “Ela me acompanhou em ensaios, apresentações, viagens, cursos, produções, em tudo o que eu faço. Às vezes, levá-la é a melhor opção, porque é um ambiente lúdico e familiar”, destaca. A mãe diz gostar de que a filha assista às criações do grupo para entender a seriedade do trabalho e o resultado de sua dedicação. “Ela até treina com a gente, sobe nos aparelhos de circo e fica bem orgulhosa de aprender acrobacias, se sente pertencendo ao grupo.”
Enquanto isso, Júlia aproveita o aprendizado de observar a relação de Laís com o movimento corporal e a criação, já que crianças, em geral, portam-se de maneira livre nesse aspecto. “Já me diverti muito enquanto a observava criar cenas corporais, interagir com objetos e depois falar que estava criando uma cena contemporânea. Por essa vivência no ambiente artístico, ela é muito aberta a novidades. Tem também toda aquela admiração ao ver a mãe no palco”, lembra a artista.
A vivência criativa faz parte da rotina dos filhos de artistas, e a experiência entre os palcos e as coxias pode enriquecer o desenvolvimento cognitivo dos pequenos, ajudando em qualquer profissão. Enquanto isso, as mães, que transitam por diferentes formas de expressão, fortalecem o próprio ofício com a companhia de suas crias e o fortalecimento do vínculo entre a arte e a vida.

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