Depois que o pai de Alexandre Nardoni, Antonio Nardoni, 46 anos, acusou policiais de terem invadido e alterado provas no apartamento que serviu de cenário do assassinato da menina Isabella, 5, a Ouvidoria da Polícia do estado de São Paulo pediu para que as corregedorias das polícias Civil e Militar abram sindicância para apurar as denúncias do avô de Isabella.
Segundo o ouvidor Antônio Funari Filho, os policiais que entraram no apartamento de Alexandre e Anna Carolina negam que tenham prejudicado ou ocultado provas do crime. Ele fez questão de deixar claro que a sindicância será realizada para respaldar essa versão. ;Os policiais entraram a pedido do próprio Alexandre, que garantiu que um ladrão havia entrado no imóvel e jogado Isabella pela janela;, ressaltou. Funari Filho classificou a denúncia de Antonio Nardoni de ;gravíssima;, e sua maior preocupação é que ela poderá beneficiar a defesa dos réus. ;Se a alteração da cena prejudicou o trabalho pericial, também prejudicou provas que seriam essenciais à elucidação do crime. Isso é muito grave;, disse.
Em depoimento na delegacia, Antonio Nardoni disse que os policiais que entraram no apartamento de Alexandre mexeram nos pertences do casal e inclusive comeram ovos de chocolate que estavam na prateleira da sala. Os policiais negam e sustentam que não havia manchas de sangue no interior do imóvel.
Inquérito
A primeira instituição a se preocupar com a ocultação de provas foi o Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe), que tem receio de o apartamento ter sido contaminado pela presença de policiais ou até de familiares de Nardoni. No 9; Distrito Policial, um inquérito investiga quem limpou as manchas de sangue do carro e do apartamento. Antonio Nardoni e Cristiane Nardoni são suspeitos, já que foram as duas únicas pessoas que estiveram no local depois que Isabella foi morta. Uma diarista que teria feito uma faxina no local também será ouvida pela polícia. Na denúncia que ofereceu à Justiça na terça-feira, o promotor Francisco Cembranelli sustenta que o próprio casal tentou apagar pistas na cena do crime.
Na segunda-feira, a família Nardoni comunicou à imobiliária que administra os imóveis no Edifício London que os apartamentos de Alexandre e de Cristiane estão à venda por R$ 250 mil cada. O casal de réus também resolveu vender o Ford Ka que, segundo a polícia, foi onde as agressões contra Isabella começaram. No entanto, até ontem à noite ninguém da família havia resgatado as chaves do veículo, que ainda estavam em poder da polícia para investigações.
"Os policiais entraram a pedido do próprio Alexandre"
Antônio Funari Filho, ouvidor da polícia de São Paulo
46 dias de expectativa
29 de março
Em algum momento entre 23h35 ; hora em que Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá chegam à garagem do Edifício London ; e 23h49 ; hora em que o resgate é acionado por um morador do primeiro andar ;, a menina Isabella Nardoni, 5 anos, cai do sexto andar sobre o gramado em frente ao prédio. Nas primeiras declarações, o pai da menina e a mulher sustentam que o apartamento foi arrombado e que um desconhecido teria matado Isabella
30 de março
Os depoimentos do casal duram o dia todo. O delegado Calixto Calil Filho afirma que foi homicídio, afastando, devido à tela de proteção cortada, a possibilidade de queda acidental
31 de março
Isabella Nardoni é enterrada. No apartamento, a polícia recolhe a tela de proteção da janela por onde Isabella foi jogada e alguns utensílios de cozinha que possam ter sido usados para fazer o corte. Também leva amostras de sangue encontradas em vários pontos do apartamento
1; de abril
A polícia ouve seis pessoas. Vizinhos contam que ouviram uma criança gritando ;pára, pai;. O advogado da família Nardoni e o delegado Calixto Calil Filho têm interpretações diferentes sobre os depoimentos prestados
2 de abril
A mãe de Isabella, Ana Carolina de Oliveira, presta depoimento. Com base no depoimento da mãe, a polícia pede a prisão temporária do pai e da madrasta de Isabella, Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá. A Justiça aceita e determina a prisão
3 de abril
Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá divulgam cartas em que afirmam não serem culpados. Os advogados negociam a apresentação do casal, que ocorre no fim da tarde
4 de abril
O promotor Francisco Cembranelli afirma que há trechos ;fantasiosos" nos depoimentos dados à polícia por Alexandre e Anna Carolina. Depois de visitar a cena do crime, diz que ;qualquer conclusão é precipitada;
7 de abril
A defesa do casal entra com pedido de habeas corpus junto ao Tribunal de Justiça de São Paulo. Peritos da Polícia Civil concluem que Isabella Nardoni foi espancada e asfixiada antes de ser jogada pela janela do 6; andar
8 de abril
Imagens do circuito interno de um supermercado são divulgadas. O vídeo mostra o casal, Isabella e os dois outros filhos em harmonia
9 de abril
A delegada Renata Pontes diz que a polícia já apurou 70% do que aconteceu na noite em que Isabella morreu
10 de abril
Ainda sem dar qualquer razão sólida, a delegada Renata Pontes diz que ;falta apenas 1%; para a solução do crime
11 de abril
O desembargador Caio Eduardo Canguçu concede habeas corpus para Alexandre e Anna Carolina. Os dois são soltos à tarde
14 de abril
Casal visita os filhos Pietro e Cauã pela primeira vez depois de saírem da prisão, onde ficaram oito dias
17 de abril
As conclusões dos peritos são entregues à polícia e novo depoimento do casal suspeito é marcado para o dia seguinte
18 de abril
Alexandre e Anna Carolina depõem na polícia pela segunda vez. Os dois deixam a delegacia indiciados pelo crime de homicídio doloso triplamente qualificado
20 de abril
Os indiciados dão entrevista no programa Fantástico, da Rede Globo, e juram inocência. Eles insistem na versão de que uma terceira pessoa entrou no apartamento e matou Isabella
22 de abril
Os delegados responsáveis pelo inquérito cancelam entrevista coletiva onde explicariam como o crime ocorreu na visão da polícia e adiam conclusão do inquérito. Anunciam que outras testemunhas precisam ser ouvidas
24 de abril
É a vez de Antonio e Cristiane Nardoni, avô e tia de Isabella, deporem. Eles negam que tenham alterado a cena do crime, como desconfia a polícia
25 de abril
;Foram eles;, diz o promotor Francisco Cembranelli. Para o promotor não restam dúvidas de que o casal é mesmo culpado da morte de Isabella
27 de abril
Polícia faz reconstituição da noite do crime no prédio onde Isabella morreu. Depois de oito horas refazendo o que, na visão da polícia, ocorreu, os investigadores descartam a possibilidade de uma terceira pessoa ter entrado no apartamento
30 de abril
Inquérito policial é concluído, apontando Alexandre e Anna Carolina como únicos suspeitos. Polícia pede prisão preventiva do casal
6 de maio
O promotor Francisco Cembranelli apresenta à Justiça denúncia do Ministério Público de São Paulo contra o casal e pede a prisão preventiva, concordando com a posição da polícia