Brasil

Criticadas, barreiras eletrônicas evitam mortes no trânsito

Estudo revela que cada redutor eletrônico de velocidade instalado em rodovias federais impede 37 acidentes e quatro vítimas em um ano. Equipamentos, porém, estão desativados

postado em 15/05/2008 09:08
Alvo da antipatia de muitos motoristas, os redutores eletrônicos de velocidade, também chamados de lombadas ou barreiras, têm um poder impressionante de salvar vidas. Estudo apresentado no Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec-Rio) mostrou que cada aparelho instalado em rodovias federais evitou, no ano de 2004, 37 acidentes e quatro mortes. Isso representa, no total, 9.706 desastres que não ocorreram e 1.011 vidas poupadas naquele período. O problema é que esse instrumento tão salutar está desativado no país desde outubro de 2007. Atrasos na licitação para renovar o serviço, conduzida pelo Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes (Dnit), deixaram fora do ar os 321 equipamentos existentes em 12 estados.

;Essa lacuna no serviço é uma perda muito grande para a população, em termos de segurança nas estradas. Mas houve questionamentos da Controladoria-Geral da União sobre a licitação e não tivemos como evitar o atraso;, explica o coordenador-geral de operações rodoviárias do Dnit, Luiz Cláudio Varejão. A previsão, segundo ele, é de que as barreiras voltem a funcionar no segundo semestre deste ano, já que o processo de escolha das empresas que vão operar os aparelhos foi retomado.

Para a economista Daniela Ornelas, autora da tese de mestrado que calculou a eficácia do método, a interrupção no serviço representa um retrocesso em termos de políticas de trânsito. ;Dentro de técnicas econométricas sofisticadas, fizemos e refizemos as análises, considerando todas as variáveis possíveis. E vimos que o redutor eletrônico de velocidade é algo muito positivo na redução de acidentes e mortes, com robustez estatística incontestável;, afirma.

O estudo da economista considerou os números de tragédias nas estradas federais do ano de 1996, quando ainda não havia barreiras no Brasil, a 2005. Os equipamentos começaram a ser instalados em dezembro de 1999. ;Para chegarmos a um dado concreto, foi preciso analisar a situação antes e depois da existência dos redutores;, explica. Outras variáveis foram calculadas, explica Daniela, tais como o Produto Interno Bruto (PIB) dos estados e a escolaridade média dos motoristas.

O dado causou surpresa na própria pesquisadora. ;A idéia de avaliar essa questão surgiu de uma curiosidade prática. Todo feriado, eu saía do Rio para ir a Belo Horizonte, onde nasci e tenho família. No percurso, notava aquela quantidade enorme de redutores de velocidade e me perguntava se aquilo funcionava mesmo ou se tinha apenas um caráter arrecadatório;, conta Daniela.

O peso da multa

Para o analista de trânsito Luís Riogi Miura, é exatamente o fato de gerar multas que diferencia a lombada eletrônica de um simples quebra-molas. ;Note que ambos têm a mesma função. Mas a lombada não apenas tenta inibir o infrator a trafegar em velocidade acima da permitida na via, como também o onera. Por isso diria que ela é mais completa, mais eficiente;, defende Miura, ex-diretor do Departamento de Trânsito do Distrito Federal e um dos precursores no país na introdução de tecnologia para reduzir a violência nas estradas.

A opinião é reforçada pelo presidente da Associação Brasileira de Monitoramento e Controle Eletrônico de Trânsito (Abramcet), o engenheiro Sérgio Médici. Ele aponta a tecnologia como o que existe de mais moderno na gestão de trânsito. ;Não podemos mais prescindir dessa ferramenta, que já se mostrou eficaz. Nossas medições apontam redução de 40% a 70% nos acidentes;, diz Médici. Miura ressalta o caráter impessoal e objetivo dos equipamentos que medem velocidade e multam motoristas. ;Diferentemente da fiscalização presencial, que é imperfeita e insuficiente, o aparelho faz um registro incontestável e não poupa ninguém. Pode ser ministro, deputado, senador;, afirma o especialista.
Verificamos correlações interessantes, mas nenhuma tão forte quanto a dos redutores em relação à redução no número de mortes e acidentes

Daniela Ornelas, autora da tese de mestrado que calculou a eficácia do método

O número
321 redutores eletrônicos de velocidade estão parados devido a atrasos na licitação

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