Brasil

Perfil: o encarregado da defesa do casal Nardoni

Religioso e severo, Levorin acredita na inocência de seus clientes

postado em 17/05/2008 14:54
O criminalista Marco Polo Levorin, de 38 anos, é severo e apegado às convicções, mas não hesita em mudar de rumo por uma causa maior. Foi assim quando, aos 5 anos, trocou as brincadeiras nas ruas da Lapa pela cabeceira do irmão mais velho. Uma crise reumática, que deveria manter Rogério na cama por um mês, durou o ano todo. Sua mãe, Neide, que atribui a esse período a cumplicidade que os une até hoje, vê no episódio o primeiro sinal da determinação do caçula. Nas três escolas onde leciona, FMU e São Marcos, na capital, e Universidade Municipal de São Caetano do Sul (Imes), o criminalista é tido como rigoroso e carregado pela razão nas decisões cruciais. A definição do diretor da faculdade de Direito do Imes, Vander Ferreira de Andrade, é direta. "É um professor sisudo, pouco brincalhão, rígido, que não admite interrupções em seu discurso." Em dia de prova, vistoria carteiras e chega a vasculhar livros dos alunos em busca de colas. Tanta severidade desperta a descontraída revanche dos pupilos, atentos a deslizes e manias, como o hábito de concluir toda frase com a expressão "não é?". O que mais os diverte, porém, é a prática, durante um diálogo, de trocar várias vezes o nome ou perguntar seguidamente como o interlocutor se chama. As brincadeiras renderam uma defesa no Orkut. "Como tenho muitos alunos nas universidades em que leciono, não consigo guardar o nome de todos e, às vezes, até troco. O pior é que, em algumas oportunidades, os alunos acabam sendo apelidados pelos nomes que errei." Quem conheceu Levorin no Colégio Mackenzie, onde estudou da 4ª série do fundamental ao 3º ano do ensino médio, e o vê hoje, inflamado, defendendo clientes na TV, estranha. Afinal, ele nunca foi um jovem encantado pelo Direito, que cursou na FMU. A mãe admite que prestou a faculdade por prestar. Era jovem, não sabia o que queria. Preferia dedicar os fins de semana às ondas de Maresias, no litoral norte. Era lá que aproveitava para, escondido, fumar cigarros com os amigos. Mesmo nessa fase, se antevia o adulto introspectivo e determinado. A rebeldia passava longe e, em lugar de noitadas e muitas namoradas, ele se dedicava aos livros. Com o tempo, o surfe ficou para trás, e os domingos foram ocupados pelos cultos presbiterianos. A influência religiosa da mãe demorou para dar resultado, mas fez do jovem um fiel. Só levou duas garotas para dentro da casa, e uma delas, Patrícia, com a bênção da mãe, virou sua mulher. "Ele disse que estava em dúvida entre duas gatas e uma era evangélica. Apostei nela", brinca Neide. O casal se conheceu na sala de aula: professor e estudante. Sobre ele, Patrícia comentava em casa que tinha um professor muito rigoroso e tinha medo de não ir bem na matéria. Mas, quando ele pediu, trocaram telefones. A primeira saída veio após meses de telefonemas, e o convite não podia ser mais sóbrio: um café. Depois foram cinemas e visitas à igreja, até que, após cinco meses, foram morar juntos. A união foi selada dois anos depois. Hoje, trabalham no escritório de advocacia próprio. Em casa, o filho Paulinho, de 4 anos, tem todos os mimos e cuidados, mas sob a mesma disciplina. Levorin sabe que atuar em seu primeiro caso de repercussão é a grande chance de se destacar como profissional. Conhece os riscos e está convencido de que o episódio tem potencial para "elevá-lo às alturas ou jogá-lo no inferno", como define Patrícia. Aceitou o desafio de defender o casal Nardoni porque acredita em sua inocência. Está certo de que vai conseguir chegar à absolvição. À mulher, prometeu abandonar a defesa se tiver certeza de que são culpados.

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