Brasil

Cremação de Zélia Gattai é adiada para esta segunda

Familiares, amigos e fãs despediram-se ontem da escritora, velada no Cemitério Jardim da Saudade. A cerimônia fúnebre será restrita aos mais íntimos. A casa onde vivia, em Salvador, poderá virar museu

postado em 19/05/2008 09:13

Sob aplausos de familiares, amigos, políticos e fãs, o corpo da escritora Zélia Gattai, que morreu no sábado, vítima de parada cardiorrespiratória, aos 91 anos, deixou no fim da tarde de domingo o Cemitério Jardim da Saudade, no bairro de Brotas, em Salvador (BA). A cerimônia de cremação, marcada inicialmente para as 16h30 de ontem, acabou sendo transferida para hoje e será restrita aos familiares e amigos mais próximos. Durante o velório, que se estendeu durante todo o dia de ontem, dezenas de pessoas foram prestar homenagem à viúva do escritor Jorge Amado. Segundo o filho João Jorge Amado, as cinzas serão espalhadas na casa, no bairro do Rio Vermelho, na capital baiana, do mesmo modo que aconteceu com o escritor, falecido em 2001. Os restos mortais serão entregue à família na quarta-feira.

O governador da Bahia, Jaques Wagner, decretou luto oficial de três dias no estado e falou da possibilidade de transformar em museu a casa onde Zélia e Jorge Amado viveram por mais de 20 anos. Pela manhã, o governador prestou condolências aos familiares da escritora. O Ministério da Cultura divulgou nota, ressaltando que a autora deixará uma lacuna na cultura brasileira. O texto destaca Zélia como ;um dos maiores nomes das letras nacionais, e quando decidiu se lançar na literatura, mostrou que tinha luz própria. O talento demonstrado como memorialista e como contadora de histórias é incontestável; e finaliza com pêsames a seus amigos, parentes e colegas da Academia Brasileira de Letras.

Zélia Gattai e Jorge Amado viveram juntos 56 anos. A vida com o escritor permeou as suas obras, como no caso da fotobiografia do marido Reportagem incompleta, de 1987, e os livros de memórias A casa do Rio Vermelho, publicado em 1999, e Jorge Amado ; Um baiano romântico e sensual, em 2002. Com os filhos João e Paloma, filha mais nova, Zélia deixou ainda Memórial do amor, em 2004. Em 21 de maio de 2002, a escritora passou a integrar a Academia Brasileira de Letras (ABL), ocupando a mesma cadeira que pertencia ao marido: a de número 23. Assento pertencido antes aos clássicos da literatura brasileira Machado de Assis e José de Alencar.

Sessão da saudade
A ABL também decretou luto de três dias e hasteou a bandeira da academia a meio-pau ainda no sábado. A sessão de saudade, homenagem da academia a seus integrantes falecidos, se dará na próxima quarta-feira, dia 21. ;A ABL perde com Zélia uma notável e querida colega; o Brasil, um exemplo de escritora, de militante e de mulher;, disse o presidente da instituição, Cícero Sandroni. Para ele, Zélia construiu um admirável caminho porque, além de militar pelas causas sociais, conseguiu organizar uma vida em família em rara harmonia. ;Zélia e Jorge promoveram a união do Brasil através de sua literatura e de suas vidas. Ela, paulistana, filha de imigrantes, ele, um baiano fulgurante. Na paixão dos dois, os brasileiros de todos os quadrantes se reconheciam e se queriam bem;, expressou Sandroni na nota da ABL. Zélia iniciou sua carreira como escritora aos 63 anos, em 1979, com a obra Anarquistas, graças a Deus.

;Zélia foi adotada de coração pelos baianos. E adotou a Bahia também;, afirmou o deputado federal ACM Neto (DEM-BA), presente no velório. O ex-governador da Bahia Paulo Souto também lamentou a morte da escritora. ;É uma perda que todos nós sentimos muito. Mas fica para sempre o que ela representou para o nosso estado;, destacou. Para o senador Antonio Carlos Peixoto de Magalhães Júnior (DEM-BA), Zélia, junto com Jorge Amado, construiu um marco na literatura brasileira, reconhecida no Brasil e no exterior. ;E em sete anos nós perdemos os dois. Então isso nos faz muita falta;, completou.

"Zélia e Jorge promoveram a união do
Brasil através de sua literatura e suas vidas"
Cícero Sandroni, presidente da Academia Brasileira de Letras


O número
63 anos
foi a idade com a qual a escritora estreou na literatura, com Anarquistas, graças a Deus


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