Brasil

Ensino voltado para jovens e adultos no País apresenta evasão próxima de 70%

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postado em 25/05/2008 09:13
É uma rotina impensável para os brasileiros acostumados com a jornada de trabalho de 40 horas semanais. O dia útil de Iara da Silva Araújo, 42 anos, tem 17 horas. Isso, sem contar as tarefas domésticas. Cobradora de ônibus, Iara decidiu, há um ano, mudar sua vida. Apostou na educação. Depois de 25 anos fora da escola, matriculou-se no Centro de Estudos Supletivos da Asa Sul (Cesas). Começou na 8ª série e, atualmente, cursa a última fase do ensino médio. Garante que não sossega enquanto não realizar seu grande sonho: ter, nas mãos, o diploma do curso de letras. ;Agora, ninguém me segura;, garante. Apesar da empolgação com os estudos, Iara não esconde o cansaço. Levanta-se ainda no escuro, às 3h50. Uma hora depois, sai de Planaltina rumo à Rodoviária do Plano Piloto. Às 5h28, pontualmente, já está dentro do ônibus para cumprir a linha 630 Expresso. Muda de linha às 6h40 e ainda faz uma rota extra que só termina por volta das 13h30. ;Eu nem almoço. Engulo a comida;, conta. Afinal, tem um compromisso inadiável. Às 13h50, entra na sala de aula, de onde só sai às 17h30. O dia não acaba por aí. Iara volta ao trabalho, faz outra linha e só chega em casa às 20h. É quando vai cuidar dos trabalhos domésticos. ;Para estudar, tem que driblar o sono;, confessa. São poucos os estudantes da Educação de Jovens e Adultos (EJA) que conseguem ter o ritmo e a determinação de Iara. Parece que, para eles, tudo conspira contra. Elaborado com base num estudo de Vera Masagão, coordenadora de programas da Ação Educativa, e de José Marcelino, pesquisador da Universidade de São Paulo (USP), um diagnóstico da EJA publicado pelo Ministério da Educação (MEC) aponta os desafios dessa modalidade de ensino. Não são poucos. ;Em 2006, apenas 27% das escolas que possuíam matrículas em EJA contavam com biblioteca e, em somente 12% dessas escolas, os educandos tinham acesso a computador;, aponta o documento, que será usado como base de discussão na 6ª Conferência Internacional de Educação de Adultos (Confintea), marcada para maio do ano que vem, no Brasil. Desistência Como preparação para a conferência, o MEC realizou 32 encontros com professores, alunos, gestores escolares e movimentos sociais de todo o país. O documento base mostra que, nesse segmento da educação, a rotina de desigualdades regionais se repete. No Nordeste, 17% das escolas com EJA têm biblioteca, e 5% possuem computadores. Já no Sul, os percentuais sobem para 78% e 33%, respectivamente. Apesar do significativo salto de 59% das matrículas presenciais de EJA no ensino fundamental entre 1997 e 2006, e de 344% no ensino médio no mesmo período, o ensino de jovens e adultos não consegue manter os alunos em sala de aula. Cerca de 70% dos estudantes abandonam o curso antes de concluí-lo. ;A EJA tende a ser uma cópia do ensino regular e não atende às especificidades dos alunos. Além disso, a rotatividade dos professores é alta. Não se consegue montar um quadro fixo;, aponta Vera Masagão. Maria de Lourdes Santos, especialista em EJA, diz que os educadores precisam se esforçar para mostrar aos alunos a necessidade de prosseguir os estudos. ;Muitos pensam que só de conseguir ler uma frase ou outra já estão preparados. Temos de mostrar que é necessário ir além;, diz. Vera Gangorra, professora, acrescenta que falta sensibilidade aos educadores. ;Não se ter as mesmas expectativas em relação a esses alunos comparados aos estudantes do ensino regular;, ensina. Joseane Ferreira dos Santos, 22 anos, faz parte das estatísticas de evasão escolar. A jovem aprendeu a ler tarde, aos 13 anos. ;Minha mãe precisava que os filhos trabalhassem na roça;, conta a piauiense. ;Eu era doida para aprender a ler. Ficava olhando os livrinhos e tentando adivinhar o que estava escrito. Achava que saber ler era uma mágica.; De tanto insistir, foi matriculada na escola. Aluna esforçada, só tirava nota 10. Aos 16 anos, mudou-se para Brasília e começou a freqüentar a 4ª série em uma escola de Ceilândia, onde só havia turmas à noite. Sem ônibus para transportá-la, Joseane acabou desistindo por medo de caminhar à noite pelas ruas da Expansão do Setor O. ;Era tão bom o cheirinho de livro novo. Eu queria muito fazer enfermagem um dia. É uma profissão muito bonita;, diz. LEIA MAIS NA EDIÇÃO IMPRESSA DESTE DOMINGO DO CORREIO BRAZILIENSE

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