postado em 26/05/2008 16:41
Portando lanças de madeira e pintados para a guerra, mais de 300 índios da etnia guarani-terena fizeram reféns dois funcionários da Fundação Nacional do Índio (Funai) nesta segunda-feira (26) na Aldeia Moreira, município de Miranda. O local ditua-se no Pantanal, a 194 quilômetros de Campo Grande, região noroeste de Mato Grosso do Sul. "Nós trocamos os servidores pelos 400 hectares de terra que há 40 anos roubaram da nossa aldeia", afirmou o líder do movimento, Oriel Amorim Pereira.
São mantidos reféns o representante da Funai na aldeia, Jair do Prado, e o coordenador do serviço de Patrimônio Indígena e Meio Ambiente, Antônio Ricardo Araújo, que acumulava ainda o cargo de administrador substituto da instituição em Campo Grande. Ambos chegaram ao local por volta de 8 horas, quando foram surpreendidos pelos índios e ameaçados por lanças, sendo posteriormente presos no posto da Funai que fica dentro da aldeia.
No dia 21 deste mês, 50 membros do mesmo grupo indígena foram despejados da Fazenda Boa Sorte depois de uma ocupação que durou seis dias. Os 400 hectares da fazenda estão divididos em micro e pequenos empreendimentos agrícolas explorados por famílias não-índias e por uma subestação de retransmissão de eletricidade da Enersul. Faltam estudos antropológicos que caracterizem o lugar como área indígena.
Os manifestantes querem a formação imediata de um grupo técnico para resolver a situação. "Temos vários documentos da própria Funai e o compromisso de vários dirigentes de que essa área seria incorporada à nossa aldeia, porque não tem mais condição. São 1.800 famílias indígenas vivendo em apenas 45 hectares, um terreninho de nada, para tanta gente, enquanto estão por aí nadando de braçadas em nossas terras. Isso é muito injusto", explicou Pereira.
Claudinor do Carmo Miranda, administrador da Funai em Campo Grande, com jurisdição nas aldeias indígenas do Pantanal do Mato Grosso do Sul, disse que poderá resolver a questão pacificamente. Até amanhã, formará uma comissão com membros da aldeia para tratar o assunto diretamente com a Funai em Brasília. "Não há ameaça de morte contra os reféns, tampouco agressões. Está tudo sob controle", garantiu.