Brasil

Alegria contida das pessoas pró-pesquisas com células-tronco

Adiamento da decisão para esta quinta e temor de que ministros do STF imponham restrições aos estudos científicos com células-tronco embrionárias impedem comemoração de pacientes

postado em 29/05/2008 09:25
A alegria no rosto dos favoráveis à manutenção das pesquisas com células-tronco embrionárias depois de quase 10 horas de julgamento, na quarta (28/05), dá o clima do que o segmento espera ouvir hoje no Supremo Tribunal Federal (STF). Pacientes de doenças degenerativas, cadeirantes e especialistas saíram do STF crentes de que a maioria dos ministros irá votar contra a Ação Direta de Inconstitucionalidade que contesta a utilização de embriões congelados para pesquisas.

;Estou triste porque eu queria sair daqui hoje (na quarta) com a vitória, mas se sair amanhã vai ser bom para mim. Acho que posso sonhar em correr e brincar;, ressalta a menina Kathy Fabrícia de Oliveira, 9 anos. Portadora de distrofia muscular congênita, Kathy era a única criança presente na sessão. Ela veio de São Paulo com um grupo de cadeirantes. Ao lado da mãe, Angelita Sulmira de Lira, 40 anos, a menina saiu da corte disposta a enfrentar mais um dia de julgamento. ;Agora vamos ficar em Brasília até o resultado sair;, afirma.

A movimentação no STF foi menos intensa do que no dia do primeiro julgamento, em março. Sobraram vagas entre os 244 assentos do plenário do Supremo. O local só não ficou mais vazio graças ao entra e sai de turmas de estudantes de direito, interessadas em conhecer o rito de julgamento no tribunal. ;Não pude estar no primeiro julgamento porque estava viajando, mas é importante para a nossa carreira ter conhecimento em direito constitucional;, observa o universitário Bruno Koch Zardo, 21 anos.

A maioria dos cadeirantes que acompanharam nesta quarta (28/05) o voto dos ministros do Supremo estão acima dos 40 anos e sabem que pode levar anos para as pesquisas com células-tronco embrionárias chegarem a um resultado. ;Eu sei que a pesquisa não é para minha geração, mas se a gente não se mobilizar agora, nem as próximas (gerações) serão beneficiadas;, avalia a paulista Flávia Maria de Paiva Vital, 50 anos. Integrante do Movimento de Vida Independente do Brasil, Flávia saiu do STF no início da votação para ir ao Congresso pressionar os parlamentares por leis de atenção aos portadores de necessidades especiais, mas deixou um grupo de colegas acompanhando o julgamento. ;Se tiver necessidade eles me ligam e eu volto;, diz.

Pedidos a Deus
Durante todo o dia, faixas, cartazes e até uma vela marcaram a posição contrária de fiéis e religiosos à liberação das pesquisas. ;É uma vela benta para interceder e pedir a Deus por um resultado que preserve a vida;, destacou a servidora pública Kátia Gomes, 41 anos, que acompanhou do salão do Supremo a leitura do voto do ministro Carlos Alberto Menezes Direito. ;Provavelmente vão ser aprovadas as pesquisas com células embrionárias, mas possivelmente com restrições. Preferiria que tivessem sido mais preservados os embriões congelados. Há necessidade de maior acompanhamento de fiscalização por parte do governo;, avalia a professora Lenise Garcia, do Departamento de Biologia Celular da Universidade de Brasília (UnB), ao deixar o STF depois acompanhar o dia todo de votação.

Favorável às pesquisas, a pesquisadora Mayana Zatz, diretora do Centro de Estudos de Genoma Humano da Universidade de São Paulo (USP), também acredita na aprovação. ;Vai ter discussão amanhã (nesta quinta) porque algumas questões precisam ser esclarecidas, mas acredito que os votos são a nosso favor;, observa.

As ponderações dos ministros que votaram a favor, mas com ressalvas, causam temor às vítimas de doenças incuráveis. ;A vitória vai vir. A gente esperava para hoje (quarta), mas os pontos observados pelos ministros têm nos causado apreensão;, afirma o cadeirante Francisco Rokues Martins, 31 anos, vice-presidente da Associação dos Deficientes do Gama e Entorno. Vítima de distrofia muscular progressiva, Francisco teme porque as ponderações dos ministros não deixaram claro o que poderá ou não ser estudado. ;Parece que os ministros estão preocupados com a fiscalização, mas ficou complicado para a gente que é leigo entender;, explica.

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