postado em 30/05/2008 09:32
A Fundação Nacional do Índio (Funai) divulgou ontem fotos aéreas de integrantes de uma das quatro etnias de índios que vivem sem qualquer contato com a civilização. O registro virou notícia internacional. Trata-se de uma tribo do Acre, que vive na fronteira com o Peru. Os registros, feitos neste mês, foram divulgados na Europa pela entidade britânica Survival International. Em um dos flagrantes, dois indígenas apontam flechas para o avião de onde as fotos estavam sendo tiradas.
Outros fugiram para a floresta quando avistaram a aeronave. A tribo foi localizada na cabeceira do Igarapé Xinane, próximo ao Rio Envira. O município mais perto é Jordão. Na Europa, chegaram a informar que a região foi localizada e a missão planejada graças aos mapas eletrônicos da Google Earth.
O sertanista José Carlos dos Reis Meirelles Júnior, coordenador da Frente de Proteção Etnoambiental da Funai na região e responsável pela operação, explicou que os registros feitos por satélites, como os sobrevôos e as incursões pela mata fazem parte da rotina do grupo nos levantamentos de referência de povos isolados. ;Há 20 anos observamos esses índios e já sabíamos da localização deles. Outras fotos já foram tiradas dessa maloca em outros sobrevôos que fizemos. Desta vez, decidimos divulgar o material para provar que existem índios vivendo totalmente isolados e para chamar a atenção para um problema grave que existe, que é a ameaça de invasores pelo lado peruano;, informou Meirelles Júnior.
Segundo o sertanista, que há 21 anos vive na região, a presença de madeireiros, plantadores de coca e outros exploradores vindos pelo Peru ameaça esses povos indígenas. A Funai estima que existam no Acre quatro etnias isoladas, num total de mais de 500 índios. A aldeia fotografada é uma das maiores, segundo Meirelles, que em 2004 levou uma flechada no rosto desse mesmo grupo de índios. Ele acredita que vivem ali pelo menos 250 pessoas, divididas em seis malocas. As fotos divulgadas são de apenas uma dessas malocas.
Os índios isolados do Acre vivem em três reservas da região (uma em processo de demarcação e duas já demarcadas), que totalizam uma área de 630 mil hectares. O sertanista afirmou que pelo menos duas vezes por ano a Frente de Proteção deveria fazer vôos sobre as terras onde vivem esses índios para monitoramento. Mas como os recursos são poucos, há cinco anos isso não acontecia.