postado em 31/05/2008 20:28
Integrantes de uma milícia que atua na zona oeste do Rio seqüestraram e torturaram uma equipe de reportagem do jornal carioca O Dia em uma favela da cidade. O crime ocorreu na favela do Batan, em Realengo, onde os jornalistas viviam havia duas semanas para preparar uma reportagem sobre a ação dos milicianos na vida da comunidade. Os crimes ocorreram no dia 14 de maio, mas a direção do jornal informou que adiou sua divulgação para não atrapalhar as investigações policiais.
Por motivos de segurança, o nome das vítimas não foi divulgado. Em nota oficial assinada pelo diretor de redação, Alexandre Freeland, "os três profissionais estão a salvo, em bom estado de saúde, em local seguro, e vêm recebendo irrestrito apoio da empresa, incluindo acompanhamento psicológico". O caso foi encaminhado à Secretaria de Segurança Pública, que informa já ter identificado suspeitos. A repórter, o fotógrafo e o motorista do jornal estavam vivendo em uma casa alugada na favela Batan e foram denunciados às lideranças da milícia que controla o local.
Segundo relatos do jornal O Dia, o fotógrafo e o motorista foram surpreendidos por dez homens, armados e com máscaras, quando chegavam ao Largo do Chuveirão para tomar cerveja a convite de moradores locais. O grupo, então, foi buscar a repórter, que estava em casa. Eles foram mantidos em cárcere privado por sete horas e meia, período em que foram agredidos com socos, pontapés, choques elétricos, sufocamento com saco plástico e roleta russa.
Ameaças
Os criminosos ameaçaram matar os reféns, mas os liberaram após a promessa de que não denunciariam as agressões. Segundo o relato feito pelas vítimas, havia policiais no cativeiro, que em determinado momento chegou a ter mais de 20 pessoas, entre agressores e espectadores. A ação das milícias em favelas do Rio é hoje uma das principais preocupações da Secretaria de Segurança Pública, uma vez que há indícios de que grande parte delas são comandadas por militares. Em declarações dadas no fim de fevereiro, o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, informou que havia 115 investigações sobre o tema em curso. Na ocasião, ele classificou a atuação de policiais nas milícias como "desvio de conduta muito sério".
Os milicianos se espalharam pelas favelas da periferia do Rio nos últimos anos como uma alternativa ao tráfico de drogas. Prometem segurança aos moradores, mas, em geral, impõem rígidas normas de conduta nas comunidades, além de monopolizarem o comércio de gás de botijão, instalações piratas de TV a cabo e transporte, entre outros. Já ganharam a alcunha de "comandos azuis", em alusão à facção Comando Vermelho, que disputa o controle do tráfico na cidade. Segundo levantamento divulgado por O Dia, as milícias dominam atualmente 78 favelas da cidade. Os relatórios enviados pela equipe do jornal enquanto viviam na favela do Batan indicavam a coexistência de milícias com as forças policiais responsáveis pela segurança na região.