Brasil

Ministério da Educação revela que apenas 53,8% concluem ciclo básico

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postado em 01/06/2008 11:06
Um futuro pouco promissor aguarda 2,2 milhões de crianças e jovens brasileiros. São meninos e meninas que, em 2005, ingressaram na 1ª série do ensino fundamental mas, de acordo com as estatísticas, não deverão chegar à 8ª. O sistema Edudatabrasil, do Ministério da Educação, mostra que apenas 53,8% dos estudantes que iniciaram seus estudos naquele ano ; dado mais recente disponível ; vão terminar um ciclo completo de ensino, a chamada taxa esperada de conclusão. O índice já foi mais alto. Em 1997, a expectativa de conclusão era 65,8% ; dois anos antes, estava em 52,9%. Desde então, o percentual vem caindo ; apenas com uma pequena subida entre 1999 e 2001. Nova variação positiva, mínima, só voltou a ocorrer entre 2004 e 2005: de 53,5% para 53,8%. Caso a curva não volte a ascender, dificilmente o país conseguirá alcançar o segundo Objetivo de Desenvolvimento do Milênio (ODM), compromisso firmado perante as Nações Unidas há oito anos. As 191 nações que aderiram aos ODMs obrigaram-se a garantir que, até 2015, todas as crianças terminem um ciclo completo de ensino. Segundo o educador Célio da Cunha, assessor especial da Unesco, uma hipótese para o grande salto verificado entre 1995 e 1997 (de 52,9% para 65,8%) foram as políticas de progressão continuada para evitar a repetência. ;Nos anos 90, a repetência foi muito combatida. Houve a consciência da gravidade desse problema no país com várias tentativas de corrigi-lo.; Para ele, pode ter ocorrido um certo afrouxamento por parte das escolas, ansiosas em aprovar os alunos. ;Muitas pessoas chegam à 8º série sem a aprendizagem fundamental.; Ele explica que essa política foi revista a partir de 2000, quando se procurou novas alternativas, como as turmas de aceleração. A secretária de Educação Básica do MEC, Maria do Pilar, diz que, durante a década de 1990, houve bastante irresponsabilidade. ;Hoje, nos preocupamos em aprovar os alunos, mas desde que eles realmente tenham aprendido o conteúdo.; O próprio governo federal admite que haverá dificuldades para o cumprimento da meta. O relatório nacional de monitoramento dos ODMs, lançado em setembro passado, afirma que ;apesar dos avanços da sociedade brasileira, ainda é muito alta a proporção de alunos que progridem de forma lenta e dos que abandonam os estudos ; o que contribuiu para manter em patamares baixos a taxa de conclusão no ensino fundamental;. Segundo especialistas, a baixa taxa de conclusão reflete dois problemas do ensino público: a evasão escolar e a demora que os alunos levam para terminar um ciclo, por causa de desistências e repetências. ;A escola não está conseguindo fazer com que as pessoas aprendam. Muitos chegam à 4ª série sem saber ler nem escrever e acabam desistindo;, afirma Justina Iva de Araújo Silva, presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime). Descrédito Foi o que ocorreu com Eloiza Batista de Sousa, 21 anos, que abandonou a escola aos 18, quando estava na 5ª série. A jovem de Riachinho, município mineiro, entrou para os estudos com três anos de atraso porque precisava ajudar os pais na lavoura. Com a dupla jornada, repetiu algumas vezes ; não sabe dizer quantas ; e resolveu parar. Embora tenha chegado à última série da primeira fase do ensino fundamental, confessa que não sabe ler e escrever bem. ;Mas acho que a escola não é tão importante;, diz, demonstrando descrença. ;Como termina o ensino fundamental com uma defasagem muito grande, o jovem prefere largar os estudos para procurar emprego, mesmo que seja um trabalho de terceira categoria;, constata o presidente executivo do movimento da sociedade civil Todos pela Educação, Mozart Neves Ramos. A média de idade de conclusão do ensino fundamental, no Brasil, é de 17 anos, quando deveria ser de 14. Ramos, que já foi secretário estadual de Educação em Pernambuco, diz que existe uma explicação para o fato de a taxa esperada de conclusão estar em declínio. De acordo com ele, a queda do índice coincide com a implementação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef), em 1998. A partir daí, teve início a universalização da educação fundamental, com uma explosão de novas matrículas. ;Quando aumenta o número de alunos, a primeira conseqüência é a queda da qualidade e da conclusão. Faltou infra-estrutura, quantidade de professores e de escolas para atender os novos alunos.; Pouca transparência Para o sociólogo Daniel Cara, coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, é preciso investigar melhor as causas. Até porque, segundo ele, no Brasil há pouca transparência na disponibilização de dados do sistema educacional, o que impede conhecer melhor os motivos que levam crianças e jovens a abandonarem as salas de aula. Cara acredita que o Ministério da Educação deveria induzir as redes a fazer avaliações internas, que pudessem identificar, com precisão, as razões da evasão e da distorção idade/série. Ele diz que avaliações como o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que combina desempenho em provas padronizadas e taxa de aprovação, não são suficientes. ;O Ideb não verifica, por exemplo, a infra-estrutura das escolas.; Aos 16 anos, Michael Júnior Vieira Santos, morador do Itapoã, área de baixa renda do Distrito Federal, desanimou com a escola. ;Os professores ensinavam uma vez e só. Muito ruins;, diz o ex-aluno, que abandonou a escola no ano passado, quando estava na 5ª série. Como precisa cuidar dos irmãos mais novos,para que os pais trabalhem, Michael achou melhor desistir de aprender. E define o que acredita ser a escola ideal: ;O colégio particular. Dizem que é muito melhor;.

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