postado em 02/06/2008 09:31
;Teimoso esse menino!” Quem diz é o enfermeiro Gilço Lima Souza, 60 anos. Tio torto de Renato Cafundó, há muito vê o parente mover mundos e fundos para amenizar sua paraplegia, conseqüência de um acidente automobilístico em 2006. Nessa busca, Cafundó, paulista de 42 anos, fez jus ao sobrenome. Ouvidos moucos às opiniões de seus médicos no Brasil, ele se mandou para Pequim, na China, em meados de março passado. Foi o primeiro brasileiro a se submeter a um tratamento experimental com células-tronco embrionárias e neurais, desenvolvido por chineses.;Quero voltar a andar, né?, meu amigo;, disse Cafundó, na entrevista exclusiva à agência chinesa de notícias Xinhua. A esperança surgiu com uma reportagem que a irmã e xará, Renata Cafundó, viu na televisão, no início deste ano. Ela assistiu a um médico chinês apresentar um tratamento para melhorar a qualidade de vida de quem lesionou a medula espinhal cervical e dos portadores de doenças degenerativas. O especialista mostrava um paciente que, dois dias após receber o implante, conseguia voltar a dar alguns passos.
Informado da novidade, o paciente impaciente, segundo ;tio; Gilço, não pensou duas vezes. Pegou parte dos US$ 5 mil, que amealhou antes de se aposentar de forma compulsória e indesejada, para pagar os custos hospitalares e os honorários da equipe coordenada pelo doutor Huang Hongyun, o da entrevista. O restante do dinheiro serviu para as passagens dele e de seu ;tio;, que na verdade é primo de sua mãe.
Dificuldades
Mas nada foi fácil. Além das dificuldades com a língua e a comida, estranha demais para o paladar do brasileiro, o alerta do médico Zhang Jian, responsável pelo caso, levou Cafundó a pensar duas vezes. ;Cheguei a perder um pouco da confiança e até pensei em desistir quando o doutor me disse que, com a aplicação das células, as chances de alguma recuperação seriam mínimas e demoradas;, lembra.
Ele pediu mais esclarecimentos ao médico Huang, criador do método a que o paulista se submeteria, e bateu o martelo. Aceitou receber células neurais na coluna cervical e, posteriormente, injeções de células-tronco embrionárias, embora muitos especialistas condenem o procedimento, por não haver garantia de melhora nem de segurança. O tratamento foi realizado durante 15 dias e terminou no início de abril.
Cafundó, ex-funcionário de uma operadora de cartões de crédito, já está de volta a Sorocaba (SP), onde se recupera da cirurgia. Sem saber se a intervenção dará resultados, começa a ter sensações raras. ;Sinto algo estranho nas pernas. É uma espécie de calor ou sei lá o quê;, conta. ;Ainda é cedo para dizer;, pondera o doutor Chen Lin, vice-chefe do Departamento de Neurocirurgia do Hospital Xishan, lembrando que as primeiras conclusões só poderão ser obtidas entre 12 e 18 meses após a operação.