postado em 03/06/2008 18:05
O relator da Organização das Nações Unidas (ONU) contra assassinatos sumários, Philip Alston, atacou as autoridades cariocas, chamou o governo estadual de "populista" e acusou a polícia do Rio de praticar extorsões. Nesta terça-feira (03/06), o especialista das Nações Unidas encerrou o debate sobre a violência policial no Brasil com uma conclusão provocadora: ou a cúpula da polícia carioca é conivente com a corrupção, ou é ineficiente. Na intervenção do governo federal na ONU, Brasília reconheceu a necessidade de se aumentar os salários dos policiais para evitar a corrupção.
Em seu relatório, Alston alerta para o envolvimento de policiais nos esquadrões da morte e para a falta de estratégia para lidar com o crime no Rio. Segundo ele, a polícia seria responsável por três mortes por dia na cidade. O governo federal, em seu discurso feito hoje na ONU, afirmou as recomendações do relator seguiam as linhas do que Brasília defende. "Trata-se de um governo populista e que não tem estratégia para lidar com o crime", disse Alston. Para ele, "a corrupção não vem apenas de baixo ou está apenas nas camadas inferiores da polícia. A corrupção vem de cima, da cúpula".
Reação do governo
O governo carioca reagiu, chamando o documento de "míope" e ameaçando processar o relator pelas acusações de corrupção. Alston respondeu com ironia. "Nossa, estou chocado com os comentários. O que eles precisam saber é que eu tenho imunidade diplomática por meus trabalhos pela ONU e não posso ser processado", afirmou. "Há evidências suficientes sobre a corrupção e alguns no topo da hierarquia não estão fazendo o que deve ser feito. É inconcebível que tudo isso ocorra sem que os superiores saibam. Só podem então ser incompetentes", disse.
As autoridades cariocas ainda exigiram que Alston desse provas dessas alegações de corrupção. "Eu tenho fontes confiáveis e conversei com vítimas de extorsão feita pela polícia do Rio", disse. Para ele, a tarefa de investigar os casos de envolvimento de policiais com grupos criminosos e corrupção é do governo, não dele. "Não adianta inverter a situação. A responsabilidade é do governo", disse. Para ele, uma das formas de lidar com o problema seria aumentar os salários dos policiais.