Brasil

Namorado acusa Exército de agredir sargento gay

Militar acusado de deserção e preso depois de afirmar em programa de tevê ser homossexual é removido para Brasília. Senado cria comissão

postado em 06/06/2008 09:41
O sargento do Exército Fernando Alcântara de Figueiredo, 32 anos, acusa homens das Forças Armadas de agredir, ofender e destratar seu companheiro, o também sargento Laci Marinho de Araújo, 36. O episódio teria acontecido ontem, por volta das 15h, na Base Aérea de Brasília. Figueiredo e Araújo assumiram, recentemente, viverem um relacionamento amoroso há 11 anos. À noite, Figueiredo afirmou que o apartamento onde os dois moram, na Asa Norte, foi ;apedrejado por militares;, mas recusou-se a revelar o endereço e mostrar a depredação. Na noite de quarta-feira (04/06), Araújo foi preso pelo Exército logo após contar, em uma entrevista ao vivo no programa SuperPop, da Rede TV, que era gay. Ele estava acompanhado de Figueiredo e foi levado sob acusação de abandono de suas funções na instituição há uma semana. O militar passou a noite no Hospital Geral do Exército (HGE), no Cambuci, Zona Sul de São Paulo. Ele recebeu permissão das Forças Armadas para ficar com seu companheiro. O Exército nega qualquer preconceito e diz que a prisão ocorreu por deserção ; já que Laci ficou mais de oito dias sem se apresentar para o serviço, alegando doença, e negou-se a receber um neurologista enviado para avaliá-lo. Ontem, os dois sargentos deixaram a unidade médica dentro de um helicóptero e desembarcaram em Brasília. Porém, ao chegar, Figueiredo garantiu que foi obrigado por 10 homens armados com fuzis a se separar do companheiro. ;Fiquei apavorado e me senti na década de 1970 (época da ditadura militar). Algemaram o Laci, jogaram ele no chão, até o colocarem num Opala preto;, disse. ;É uma grande injustiça, porque o Exército nos garantiu, ainda em São Paulo, que eu poderia acompanhar o Laci o tempo todo e que, ao chegarmos em Brasília, ele iria para um hospital comigo.; De acordo com o advogado Francisco Lúcio França, do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe) de São Paulo, a Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República foi acionada para acompanhar o caso. Ontem à noite, ao chegar à abertura da Conferência Nacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transsexuais, em Brasília, o secretário Paulo Vanucchi não quis afirmar categoricamente se houve discriminação. ;Pode ou não ter havido;, esquivou-se Vanucchi. Figueiredo foi informado ontem à noite que terá de solicitar à Justiça Militar uma liberação se quiser visitar o sargento internado. Ele deve fazer o pedido hoje. O companheiro do sargento preso foi, ontem mesmo, procurar o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) para pedir ajuda. Suplicy afirmou que foi criada, dentro da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado, uma comissão que acompanhará o caso do militar Laci Marinho de Araújo. Em visita ao Hospital Militar, onde o sargento está internado, Suplicy contou que ele aparentava estar muito tenso e afirmou se sentir perseguido. O sargento afirma ter parado de servir no Exército por sofrer de esclerose múltipla e depressão e por usar medicamentos restritos. Garantiu ter entregue exames e laudos à instituição. Já o Exército considera Araújo apto para trabalhar. Na visão do psiquiatra Paulo Sampaio, do Condepe, o sargento não tem qualquer condição de servir no Exército. Sampaio elaborou um laudo ao ver Araújo em São Paulo e afirmou que o rapaz tem confusão mental e momentos de agressividade.

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