postado em 12/06/2008 20:05
Era para ser uma data inesquecível: flores, violão, anel de compromisso e uma paixão avassaladora no peito. Fernando Macedo Tinoco, de 19 anos, acordou cedo no Dia dos Namorados e, com a bicicleta de um amigo, foi ao Centro de Belo Horizonte e comprou um buquê de rosas vermelhas. De lá, seguiu para o Colégio Arnaldo, no Bairro Funcionários, uma das instituições mais católicas da capital mineira, onde a dona do seu coração estaria em sala de aula. No bolso, a esperança de que ela aceitasse o pedido de namoro era denunciada pelo peso da larga e bela aliança prateada. O pedido seria feito à moda antiga, em uma serenata. A cada pedalada, a preocupação de não esquecer a melodia e desafinar diante da amada. Mas o que seria um sonho acabou atrás das grades.
Quando chegou à escola, com o coração aos pulos e as mãos suadas pelo nervosismo, Fernando constatou que, mesmo para o amor, nem tudo são flores. Por não ser aluno do colégio, ele foi impedido, pela secretaria da escola, de entrar no prédio. No entanto, como nas melhores histórias de amor, não há obstáculo capaz de barrar um coração apaixonado. Decidido a levar à amada a serenata e o pedido de namoro, o jovem romântico não se conteve. Num ato de loucura e paixão, ele escalou o alto muro da quase centenária escola e invadiu, pela janela do segundo andar, o corredor que, possivelmente, levaria à sala onda estaria a dona do seu coração.
;Não tive medo de cair, queria ver o sorriso dela quando me visse com as flores;, conta o apaixonado. Cego de paixão, ele não conseguiu achar a sala onde a garota, de 15 anos, assistia às aulas do dia. ;Estava muito nervoso e ansioso para encontrá-la;, confessa.E antes que pudesse de tentar a sorte em nova busca, seguranças o impediram e a diretoria da escola chamou Polícia Militar.
O que antes era puro romantismo transformou-se em arrependimento. Três policiais militares o levaram para a 2ª Delegacia Distritral-Centro, onde foi feito o boletim de ocorrência. Dentro da viatura, mesmo com medo do que lhe poderia acontecer, Fernando tentava não esquecer a letra da canção que cantaria para a garota. Enquanto era levadoa para depor, os versos de Tadeu Franco, na música Nós dois, continuavam ecoando na memória. ;É uma melodia que tem tudo a ver com a nossa história. A gente ficou há um mês, mas há duas semanas ela me disse que eu estava gostando mais dela do que ela de mim e resolveu terminar;, conta o emocionado Fernando.
Para fazer a serenata, ele pediu a um amigo que lhe ensinasse os acordes da canção de Tadeu Franco. ;Em duas semanas, aprendi a tocar a música, só para vê-la sorrir e aceitar meu pedido de namoro.;
Com o coração partido, Fernando contou na delegacia a sua saga no Colégio Arnaldo. Segundo ele, o seu maior crime é amar demais. A atitude romântica do rapaz foi elogiada pelos policiais militares. ;Até me lembrei que tenho que comprar um presente do Dia dos Namorados para minha mulher;, brincou o cabo Faride Nascimento, do 1º Batalhão. Segundo ele, o jovem tem na veia o romantismo, mas a invasão da escola é questionável. ;É um ato errado, que poderia ter causado maiores problemas. Ele poderia ter caído do parapeito, pois a janela é alta, ou até levado um tiro, pois os policias poderiam achar que fosse bandido;, afirma.
De acordo com o delegado substituto da 2ª Delegacia Distrital, Augusto César Araújo Silveira, o caso é atípico. ;Não vejo crime. A intenção dele era apenas fazer uma declaração de amor. Já ouvimos o segurança da escola, que afirmou que a retenção do rapaz foi passiva e tranqüila. O caso será analisado. Ser for decidido que houve invasão de propriedade, ele será encaminhado ao juizado especial;, antecipa.
Em nota, o Colégio Arnaldo informou que a entrada de pessoas estranhas na escola é proibida, para maior segurança da comunidade escolar. De acordo com a direção, em nenhum momento a integridade física ou moral de Fernando foi desrespeitada. ;O colégio é a favor de qualquer manifestação de amor, desde que não atrapalhe o andamento das aulas, a segurança dos alunos e que respeite as normas da instituição;, acrescentou.
Ciente do seu ato, Fernando diz que está arrependido: ;Mas não me arrependo de ter preparado uma surpresa para ela. Ainda quero entregar as flores e cantar a canção;. Uma das alianças já está no dedo do rapaz e ele aposta que, em breve, a outra estará com a amada. Mas o romantismo do apaixonado não para por aí. Dentro da bolsa do violão um poema que ele mesmo fez e ao qual deu o título de Desejo. Nos versos, em letras caprichadas, exprime todo o seu sentimento. Em uma das estrofes, fala que é difícil esquecer a garota e que a ama demais.