postado em 15/06/2008 11:40
São Paulo ; O roubo das obras de Pablo Picasso, Di Cavalcante e Lasar Segall da Pinacoteca de São Paulo, quinta-feira passada, revela que cresce no Brasil um tipo de crime sob encomenda no qual o mais importante não é o dinheiro, e sim o capricho pessoal. Segundo o diretor do departamento de Museus e Centros Culturais do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), José do Nascimento Júnior, telas e gravuras são furtadas de museus por quadrilhas especializadas que atendem aos desejos de colecionadores milionários. ;Nós chamamos esse tipo de roubo de ;crime do gosto; e dificilmente essas peças são encontradas, porque não ficam expostas;, diz Nascimento Junior.
Atualmente, o Iphan tem em seu cadastro 890 bens culturais, entre obras de arte e artigos religiosos, que sumiram de museus, igrejas e prédios históricos do país. Desde que montou um banco de dados sobre essas peças, a Polícia Federal conseguiu recuperar apenas 41 trabalhos. ;É muito pouco, mas resgatar uma obra de arte é tão difícil quanto achar uma agulha no palheiro;, diz o investigador Celso Cardoso, agente do Departamento de Investigação sobre o Crime Organizado (Deic) de São Paulo, órgão que busca as obras roubadas da Pinacoteca.
O policial explica que as peças geralmente são roubadas para satisfazer colecionadores. ;Assim que elas chegam nas mãos dessas pessoas, elas guardam por mais de três anos e só depois costumam expor em galerias particulares. Por isso temos que correr contra o tempo e impedir que essas obras saiam do país, pois geralmente esses colecionadores moram no exterior;, acredita Cardoso.
Nascimento Júnior diz que, desde que o Brasil passou a investir em acervos de museus, o país começou a ser alvo de quadrilhas de obras de arte. ;É o terceiro maior tráfico do mundo, perdendo só para drogas e armas;, cita o diretor do Iphan. Ele critica a falta de policiamento especializado permanente e diz que a PF só age quando ocorre um furto. ;Trata-se de ladrões sofisticados, que nunca são presos. A polícia sempre pega quem rouba e não quem encomenda;, diz.
Ele lembra que as obras de Picasso e Portinari furtadas do Masp em dezembro do ano passado só foram encontradas porque uma equipe da PF especializada em combater o tráfico de drogas interceptou, sem querer, uma ligação telefônica na qual os bandidos combinavam uma forma de levar as telas para o exterior. ;Se não fosse isso, talvez as obras do Masp estivessem no mercado negro até hoje;, prevê.
O único caminho para a recuperação de obras de arte, segundo a Polícia Federal, é a informação e a reserva da investigação, além do reforço dos equipamentos de segurança dos museus. Quem rouba ou encomenda furtos de obras de arte responde pelos crimes de corrupção ativa e passiva, além de formação de quadrilha. A pessoa que comprar desavisadamente uma obra roubada responderá por receptação na modalidade culposa, que, conforme o artigo 180 do Código Penal, prevê penas de um a quatro anos de prisão, além de multa.
Picasso
A Interpol, que atua em 186 países, mantém na internet uma lista com 31 mil itens, a maioria obras de arte, procurados em todo o mundo. Dentre os pintores mais visados pelas quadrilhas, Pablo Picasso lidera a preferência. Do total de obras desaparecidas no mundo, aproximadamente mil são do artista espanhol, outras 300 são de Marc Chagall e 220, de Rembrandt.