postado em 16/06/2008 17:04
Três militares do Exército, ouvidos na madrugada desta segunda-feira (16) pela Polícia Civil do Rio de Janeiro, confirmaram a participação no episódio que terminou com a morte de três rapazes do Morro da Providência. A polícia vai começar a ouvir os outros oito militares envolvidos (dois sargentos e seis soldados) ainda nesta tarde.
De acordo com o delegado titular da 4ª Delegacia de Polícia, Ricardo Dominguez, que conduz o inquérito por homicídio triplo, os militares já ouvidos - um tenente, um sargento e um soldado - assumiram ter entregue os três rapazes, moradores do Morro da Providência, no último sábado (14), a traficantes do Morro da Mineira. O local é dominado por uma facção rival a que atua na Providência. Neste domingo (15), os jovens apareceram mortos em um aterro sanitário, na Baixada fluminense.
O delegado disse que os três jovens subiam o Morro da Providência, quando foram abordados pelos militares do Exército. Após confusão durante uma revista, eles foram liberados por um oficial superior da corporação.
"Esse oficial superior determinou ao tenente que liberasse os rapazes. O tenente não o fez. Por conta própria, determinou a tropa que colocasse os três no caminhão e seguisse para o Morro da Mineira. Lá, sem dúvida, entregaram os jovens aos traficantes", disse o delegado. "Ele [tenente] entendeu que seria apenas um corretivo", reforçou.
Ainda de acordo com Dominguez, o tenente, de 25 anos, responsável por coordenar o grupo, não demonstrou nenhum tipo de arrependimento durante o depoimento. O delegado disse que o militar se justificou dizendo que não conhecia as práticas criminosas do Rio, porque é natural do Espírito Santo e reside há apenas um ano na capital fluminense.
"A verdade é que ele não demonstrou nenhum arrependimento", contou o delegado. "A única coisa que ele disse é que não tinha conhecimento sobre o Rio", mesmo sendo formado pela Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), que fica no interior do estado.
Suspeitos
Além dos três militares, que já prestaram depoimentos, oito aguardam ser ouvidos. Eles estão presos, por determinação do Tribunal de Justiça do Rio, no Primeiro Batalhão da Polícia do Exército, em Barão de Mesquita, zona norte. O Comando Militar do Leste não quis comentar os depoimentos de seus militares Agência Brasil.
O delegado Ricardo Dominguez informou também que investiga a participação dos traficantes do Morro da Mineira na morte dos jovens. "Quanto a isso, vamos avançar. Estamos concentrados na eventual participação dos militares", disse, para acrescentar: "Há uma suspeita de um contato prévio [entre militares e traficantes]. O fato todo é muito estranho".
Enterro e manifestação
A confirmação de envolvimento dos militares na morte dos três jovens cariocas deixou a população do Rio de Janeiro revoltada. Ainda no fim desta tarde, logo após o enterro no cemitério São João Batista, em Botafogo, houve protesto nas ruas em defesa das famílias das vítimas.
Um grupo de manifestantes concentrou-se em frente ao Comando Militar do Leste (CML), no centro da cidade. Foi preciso o reforço do batalhão de choque da Polícia Militar para dispersar o grupo. Os policiais usaram bombas de efeito moral e gás lacrimogênio. Alguns carros que estavam estacionados próximo ao local foram danificados e houve muita confusão. Ainda não foram divulgadas informações sobre o número de presos ou feridos no local.