postado em 27/06/2008 08:50
O crescimento desordenado das cidades, o uso intensivo da água para irrigação e a construção de usinas hidrelétricas já criam situações de conflito pelo uso da água no Brasil. Os casos mais críticos são registrados em Minas Gerais e no Nordeste brasileiro, onde a ocupação da terra é intensa e a disponibilidade de recursos hídricos menor. Segundo relatório produzido pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), a briga pela utilização da água foi responsável por 87 conflitos no interior do país, que afetaram cerca de 32 mil pessoas no ano passado. A CPT monitora os conflitos pela água desde 2003. Em relação ao ano anterior, esse tipo de divergência cresceu 93% ; 45 conflitos foram registrados em 2006.;A disputa pela água aumentou em todo o país. O controle dos recursos hídricos será um dos principais problemas do campo nos próximos 10 anos;, prevê Roberto Malvezzi, que assessora a Pastoral da Terra em relação ao tema água. Ele alerta para a relação que o assunto mantém com as questões de justiça social. ;A disputa envolve interesses econômicos. Grandes fazendeiros ou grupos empresariais conseguem fazer valer sua vontade por meio do dinheiro ou da força política;, afirma.
Minas Gerais
O estado brasileiro em que a CPT registrou maior número de conflitos foi Minas Gerais. Além dos núcleos urbanos, o território de Minas é intensamente ocupado pela atividade agrícola e pela mineração. Na região do município de Rio Pardo de Minas, as plantações de eucalipto prejudicam os pequenos agricultores.
Nas áreas onde o extrativismo é intenso, os recursos hídricos já se tornaram mais escassos. No estado, ainda não há falta de água para consumo humano, mas os pequenos agricultores já não possuem o recurso em abundância para usá-lo na produção de alimentos. A construção de barragens e hidrelétricas é outra causa de conflitos pela água na região.
Sistema atacado
O crescimento do uso de pivôs centrais para a irrigação é outro fator gerador de tensões (os pivôs centrais são um método mecânico de irrigação muito usado em culturas extensivas como, por exemplo, a de soja. Compostos por braços de metal que variam entre 200m e 600m, eles conseguem fazer ;chover; sobre a plantação. O método provocou o crescimento das áreas agricultáveis em todo o país, em compensação, o equipamento é bastante criticado por conta do desperdício de água).
;A demanda dos pivôs pode secar os rios e reduzir as reservas do subsolo;, explica o professor da Universidade de Brasília (UnB) e especialista em recursos hídricos Sérgio Koide. Com o crescimento das lavouras para a produção de bicombustíveis, os pivôs devem se expandir.
No DF, a mesma situação de disputa de água provocada pela irrigação já aparece na Bacia do Rio Preto. ;O poder público precisará intervir para desfazer o conflito entre os usuários;, afirma o professor Sérgio Koide. A água do Rio Preto é usada para o cultivo de soja, para o abastecimento de famílias e por pequenos agricultores.