Brasil

Ministério da Saúde ataca anúncios de alimentos

Análise de publicidade feita em tevês e revistas mostra que 72% das peças defendem o consumo de fast food, guloseimas, salgadinhos, biscoitos e refrigerantes. Governo analisa restrições à propaganda

postado em 27/06/2008 11:07
A indústria alimentícia recruta diariamente uma legião de consumidores com base em publicidade massiva, provocando maus hábitos alimentares e, pior, as crianças são o principal alvo. Segundo pesquisa divulgada nesta quinta-feira (27/06) pelo Ministério da Saúde, fast food, guloseimas, salgadinhos, biscoitos e refrigerantes representam 72% dos anúncios, de um total de 4.108 horas de propaganda de alimentos transmitidas pela televisão e 18.689 peças publicitárias veiculadas em revistas. Cerca de 44% do material analisado no período entre agosto de 2006 e o mesmo mês de 2007 é voltado para o público infantil. O monitoramento, realizado pelo Observatório de Políticas de Segurança Alimentar e Nutrição da Universidade de Brasília (UnB), foi apresentado a representantes de entidades civis e governamentais de políticas públicas para o setor que estudam formas de restringir a divulgação de produtos nocivos à saúde.



O estudo constatou que nas propagandas predominam alimentos ricos em gordura, açúcar e sal, e que esses compostos estão relacionados ao aumento da incidência de sobrepeso e obesidade, além de observar que as estratégias de marketing provocam identificação dos menores com os materiais. ;É necessária uma revisão de todas as matérias legislativas que estão no Congresso para a regulamentação do anúncio de alimentos;, ressaltou a coordenadora-geral da Política de Alimentação e Nutrição do ministério, Ana Beatriz Vasconcellos.

Na avaliação de Vasconcellos, as atuais propagandas não alertam para os males que os produtos causam à saúde e a má alimentação contribui para o aumento do número de doenças crônicas no país. ;Setenta por cento dos recursos do SUS (Sistema Único de Saúde) são gastos com hipertensão, diabetes e doenças coronárias;, explicou. Segundo Vasconcellos, apesar da pesquisa não avaliar a alimentação dos brasileiros, os resultados mostram que os hábitos alimentares da população estão em xeque.

;Estudos científicos já mostraram que é na infância que se forma os hábitos alimentares. É o momento determinante da alimentação no futuro;, ressalta a pesquisadora Marília Mendonça Leão, presidente da Ação Brasileira pela Nutrição e Direitos Humanos (Abrandh). Segundo Mendonça, o público infantil não tem capacidade de discernimento. ;Acha que pode trocar um lanche ou refeição por um saco de biscoito;, diz. Ela conta que é comum a criança comer um pacote inteiro de bolacha doce e ultrapassar as necessidades nutricionais necessárias durante o dia em um único alimento. ;Não é proibido comer um sanduíche fast food de vez em quando. O que faz mal para a saúde é comer diariamente;, ressalta.

Gigantes
As propagandas analisadas foram veiculadas nas emissoras SBT e Globo, tevês abertas consideradas pelo estudo como as de maior audiência, e Discovery Kids e Cartoon Network, canais pagos voltados para o público infantil. Entre os fabricantes que mais freqüentemente anunciam alimentos considerados pelos pesquisadores não-saudáveis estão gigantes como Coca-Cola, Nestlé e Sadia.

Em nota, a assessoria de imprensa da Nestlé esclarece que a empresa ;adota, mundialmente, diretrizes para a comunicação com o consumidor;. De acordo com o texto, essas diretrizes formam os Princípios Nestlé de Comunicação e dedicam especial atenção à publicidade dirigida às crianças. ;A comunicação da Nestlé para crianças deve promover a moderação no consumo; não deve diminuir a autoridade dos pais ou exibir cenas de crianças na tentativa de persuadi-los a comprar determinado produto;, diz o texto.

Procurada pelo jornal, a assessoria de imprensa da Coca-Cola disse que os porta-vozes da área institucional estavam incomunicáveis na Amazônia, onde participam de evento patrocinado pela empresa e a assessoria de imprensa da Sadia lamentou não ter tempo hábil para responder, porque a pessoa responsável pela resposta estava ;com uma série de compromissos;.

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