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"Eu queria me livrar da Mariana" diz mãe que jogou filha da janela

Essa é a justificativa apresentada pela auxiliar de enfermagem que confessou ter jogado a filha de oito meses da janela do 6º andar, em Curitiba. Presa em flagrante, ela responderá por homicídio doloso

postado em 02/07/2008 09:23
A auxiliar de enfermagem Tatiane Damiani, 41 anos, repetiu, em Curitiba, a trágica morte de Isabella Nardoni, assassinada em 29 de março. Ela confessou ter jogado a filha de 8 meses, Mariana Damiani Teixeira, pela janela do 6; andar de um edifício no centro da cidade, onde as duas moravam, na segunda-feira à noite. A menina morreu ao se chocar contra a laje lateral do prédio. ;Eu queria me livrar da Mariana, eu não queria cuidar, não queria trocar;, justificou a mulher à polícia, que pediu exames de sanidade mental e a indiciou por homicídio doloso.

Por volta de 21h30 na noite do crime, o Corpo de Bombeiros da capital paranaense foi alertado que uma mulher queria se jogar de uma janela. Quando o socorro chegou, porém, moradores de prédios vizinhos já tinham avistado a criança caída. ;Eu estava na portaria e me pediram para verificar se uma criança havia caído ou sido arremessada do prédio;, disse o porteiro Hélio Fagundes. No mesmo momento, outros moradores convenciam Tatiane a não se jogar da mesma janela de onde lançou a filha.

;Ouvi as mulheres gritando para que ela não se jogasse. Em seguida, fui até o térreo para ver o que tinha acontecido. Os policiais estavam chegando e fui até o apartamento de onde a criança foi jogada. A mãe estava sentada no sofá com outras duas senhoras, que tentavam confortá-la;, contou o morador do edifício Igor Dutra. Tatiane foi presa em flagrante. A frente do edifício foi tomada por populares, e a polícia precisou entrar com o carro no estacionamento interno para que ela não fosse linchada. Os gritos de ;assassina; foram ouvidos quando ela deixava o local.

À delegada Eunice Vieira Bonome, do Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente Vítimas de Crimes (Nucria), a mãe disse que, depois de cumprir seu horário de trabalho no Hospital de Clínicas, onde trabalha há cerca de 13 anos, ela foi à creche pegar a criança, levou-a para o apartamento e deu comida. Depois, teria pegado um banquinho, colocado a criança no parapeito e em seguida a empurrado. Com a mesma naturalidade, Tatiane teria sentado no parapeito para também se jogar. ;Mas sou covarde;, alegou.

Incompetente
Ao falar com a imprensa na manhã de terça (01/07), a auxiliar de enfermagem não conseguiu explicar por que matou a filha. Sem demostrar qualquer emoção, disse apenas que queria se ;livrar; da menina. ;Achava que entre nós não existia nada;, disse. ;Sempre fui incompetente para cuidar dela. Fiz isso para me livrar, de ter que cuidar dela. Acho que sou esquizofrênica, não me apego mais às pessoas. Não me arrependo do que fiz;, prosseguiu. Ela disse ainda se sentir aliviada: ;Não preciso mais cuidar dela, dar banho, limpar fraldas, alimentar;.

Segundo a mãe de Tatiane, Raquele Damiani, a auxiliar de enfermagem sofre de transtorno bipolar (distúrbio psiquiátrico caracterizado pela acentuada oscilação de humor). ;Ela estava sempre em tratamento. Não sei se ela parou de tomar o remédio;, disse a avó, que mora em Colorado (RS). Segundo Raquele, quando a criança nasceu, ambas ficaram quatro meses no Rio Grande do Sul. ;Ela sempre cuidou da filha. Nunca judiou dela;, afirmou.

Entre os moradores do prédio também não apareceu nenhum que criticasse as atitudes de Tatiane em relação a eles ou à criança. ;Era uma pessoa calma, tranqüila, mas percebe-se que ela é depressiva. Quando o porteiro me avisou, porque eu tenho as chaves do telhado da garagem, pensei que era uma boneca e não uma criança. Quando confirmei que era uma criança foi um desespero total;, descreveu um vizinho.

O pai da criança, Sérgio Teixeira, que via a criança esporadicamente, chegou abalado à delegacia e prestou depoimento. Ele disse que não reparou nada de anormal na ex-mulher e que sempre tiveram uma convivência pacífica. Ele esteve no Instituto Médico-Legal (IML) para liberar o corpo da criança, a fim de sepultá-lo em Piraquara, onde mora.

A enfermeira disse que já esteve internada para tratamento psiquiátrico e que fazia uso de medicamentos. ;Vamos investigar até que ponto a história da acusada é verdadeira;, disse a delegada. Tatiane foi encaminhada para a Penitenciária Feminina de Piraquara e deve ser submetida a exames clínicos e de sanidade mental para confirmar a versão apresentada pela família. Na transferência para a prisão, a polícia teve que redirecionar a enfermeira de prisão, já que as detentas ameaçavam fazer justiça com as próprias mãos. Por ter diploma de ensino superior e questões de segurança, Tatiane vai ficar em cela isolada até o julgamento.

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