Brasil

Acidente da TAM ainda sem resposta

Um ano depois, as causas do maior acidente da história da aviação brasileira, que matou 199 pessoas, permanecem desconhecidas. Ninguém foi responsabilizado e famílias das vítimas aguardam indenização

postado em 17/07/2008 09:16

Nesta quinta (17/07) faz um ano que o Airbus A-320 que fazia o vôo 3054 da TAM varou a pista do Aeroporto de Congonhas (em São Paulo), chocou-se contra um prédio da mesma empresa e pegou fogo, matando 199 pessoas. Mesmo assim, as causas do maior acidente da história da aviação nacional ainda são uma incógnita. O inquérito da Polícia Civil de São Paulo permanece emperrado e não há sequer indiciados. A apuração continua em torno de fatores generalizados e já divulgados, como a pista insegura, defeitos mecânicos e uma possível falha humana. O relatório da Aeronáutica, mantido sob sigilo, também aponta as condições inseguras do aeroporto como um dos fatores que provocaram a tragédia. Enquanto aguardam as conclusões, pelo menos 60% das famílias das vítimas continuam sem indenização ; segundo a companhia, foram fechados 78 acordos. A crise aérea, deflagrada antes e agravada após o acidente, parece contornada. Mas problemas estruturais do setor, garantem especialistas, continuam.

O terminal de Congonhas, palco da tragédia com o avião da TAM, continua sendo a maior pedra no sapato do governo. A média de 48 a 50 movimentos (entre pousos e decolagens) por hora foi diminuída para 34 atualmente. Guarulhos e Viracopos (Campinas), que deveriam suprir a demanda de Congonhas, não atingiram o objetivo por falta de estrutura. E o terceiro aeroporto da capital de São Paulo, prometido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em pronunciamento na televisão, para todo o país, ainda não saiu do papel. Da mesma forma, um transporte rápido, que garantisse a locomoção dos passageiros para outros terminais, como o Galeão, no Rio, permanece na esfera dos projetos anunciados e não levados adiante.

;Escutamos e lemos muitas promessas após o acidente da TAM. A verdade é que foram tomadas as medidas simples. Para o usuário, parece que há uma normalização do setor. Mas os gargalos estruturais persistem;, diz Graziella Baggio, presidente do Sindicato dos Aeronautas. Segundo ela, se as projeções de crescimento anual da aviação no Brasil, da ordem de 10% ou mais, se confirmarem, um novo colapso pode voltar a atormentar os passageiros. Infra-estrutura deficitária dos aeroportos, equipamentos de controle de tráfego aéreo obsoletos e tripulações voando além do limite são aspectos de segurança que, de acordo com Graziella, ainda precisam ser solucionados. ;Sabemos que são mudanças mais complexas e, portanto, demoradas. Mas precisam ser iniciadas.;

São muitas as hipóteses para explicar o que ocorreu no malsucedido pouso do vôo 3054 em Congonhas naquele início de noite: falha do piloto, problemas no sistema de aceleração do avião, falta de aderência da pista e desrespeito a uma norma da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Essa regra suspendia, em dias chuvosos, aterrissagem no aeroporto de aviões com reverso pinado, exatamente como estava o Airbus da TAM. Embora a diretoria da Anac alegue que a norma só entrou em vigor após o desastre, o Ministério Público em São Paulo pode indiciar de sete a 10 pessoas, incluindo Milton Zuanazzi e Denise Abreu, respectivamente ex-presidente e ex-diretora da Anac. Mas terá de aguardar a finalização do inquérito policial, parado por dificuldades em ouvir os integrantes da agência na época do desastre.

Perigo no ar
Semanalmente, garante um controlador de vôo ouvido pelo Correio, há ocorrência de incidentes perigosos no 1; Centro Integrado de Defesa e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta-1). A diferença após a crise aérea, diz ele, é que os registros passam por uma filtragem, feita pelos oficiais. ;Só vai para o relatório formal aquilo que o oficial considera importante ou conveniente. Foi tirado dos controladores a autonomia (legítima por serem eles os únicos a conhecerem tecnicamente a atividade) para fazer registros de perigo, de inoperância dos equipamentos, pedir fechamento de pistas, seqüenciar pousos e decolagens em nome da segurança;, afirma o operador.

A Aeronáutica, por meio de nota, afirma que tem incentivado a realização de campanhas para conscientizar os profissionais da importância de preencher os relatórios de incidentes. Destaca, ainda, que cerca de 600 profissionais capacitados para o controle de tráfego aéreo foram incluídos nos quadros nos últimos dois anos. Apesar do incremento, o número de profissionais é praticamente o mesmo de antes da crise ; 2.683. ;A rotatividade tem sido muito grande. Além das aposentadorias, muita gente está passando em concursos públicos ou simplesmente desistido da carreira;, desabafa outro controlador que também pede anonimato.

A Frase

"Escutamos e lemos muitas promessas após o acidente da TAM. Mas os gargalos estruturais (do setor aéreo) persistem"
Graziella Baggio, presidente do Sindicato dos Aeronautas


O número
34 pousos e decolagens são realizados por hora em Congonhas.

Na época do acidente, chegavam a 50

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