postado em 17/07/2008 09:26
Menos de 40% dos familiares das 199 vítimas mortas no acidente da TAM, que completa um ano nesta quinta (17/07), receberam indenização. A primeira oferta de dano moral feita pela seguradora da companhia, a Unibanco AIG, no valor de 200 salários mínimos (cerca de R$ 83 mil), revoltou os parentes. A partir daí, muitos apelaram para a Justiça, inclusive nos Estados Unidos, em vez de tentarem acordo. Quatro famílias não conseguiram sequer receber o corpo do ente morto. De hoje a domingo, haverá manifestações e atos ecumênicos para lembrar a maior tragédia da aviação brasileira.Para Arquelau de Arruda Xavier, que enterrou a filha no dia em que ela completaria 24 anos, a maior luta dos familiares atualmente não está no recebimento de indenizações. ;Queremos saber o que aconteceu, como está a segurança na aviação brasileira;, ressalta. Ao lado de outros pais, mães, irmãos, maridos e filhos que perderam parentes queridos, Xavier se reúne mensalmente com as autoridades da Polícia Civil de São Paulo e do Ministério Público que acompanham as investigações.
O movimento em busca de informação será incrementado após uma liminar concedida na terça-feira pela Justiça. A ordem judicial, em favor da Associação de Familiares e Amigos das Vítimas do Vôo JJ-3054 (Afavitam), obriga a TAM a custear passagens e estadia completa para que os parentes possam participar das reuniões mensais da associação sobre o andamento das investigações. A multa por descumprimento da decisão foi estipulada em R$ 1 mil por dia.
A ação foi ajuizada depois que a empresa áerea enviou, em abril, mensagem por e-mail a todas as famílias das vítimas afirmando que, a partir daquele mês, não pagaria mais despesas de viagem de parentes. Quando questionada sobre a suspensão do pagamento, na semana passada, a TAM alegou que se tratava de acordo firmado em setembro, com a mediação do Ministério Público e da Defensoria. A empresa ainda não se manifestou sobre a nova decisão judicial.
Descrentes da Justiça brasileira, algumas famílias foram buscar reparação nos Estados Unidos. Mas ainda aguardam um pronunciamento inicial do juiz sobre a conveniência do foro norte-americano para julgar o caso. Com a negativa das cortes americanas no caso da Gol, quando um jato Legacy guiado por dois pilotos americanos e de propriedade de uma empresa com sede em Nova York colidiu com o avião brasileiro, diminuem as chances de êxito no exterior. Na ação nos Estados Unidos, os familiares processam a TAM, por operar internacionalmente, a Airbus e duas empresas estrangeiras fabricantes de peças que compunham a aeronave.
Pertences
Um ano após a tragédia, 31 caixas de papelão com pertences de vítimas estão no 14; Distrito de Polícia de São Paulo. É provável que esses objetos nunca sejam retirados. Para muitos parentes, é doloroso relembrar o drama daquele 17 de julho. Todos os utensílios estão catalogados em sacos plásticos e ainda têm cheiro de queimado. Entre os pertences, há roupas, luvas, cintos, bonés, chaves e brinquedos de plástico intactos. A empresa norte-americana BMS Cat, que higienizou os objetos, é a mesma que trabalhou nos escombros do World Trade Center.