postado em 07/08/2008 09:38
Em 15 anos da Estratégia Saúde da Família (ESF), anteriormente conhecido como Programa Saúde da Família, o número de agentes comunitários de saúde, que atuam nas 28,3 mil equipes do programa em todo o Brasil, já passou dos 218 mil. Para o secretário de Saúde de Janaúba (MG), Helvécio Albuquerque, essas pessoas são essenciais para o sucesso da estratégia de atenção básica à saúde.
Albuquerque, que participa em Brasília da 3ª Mostra Nacional de Produção em Saúde da Família, afirma que os agentes entendem e traduzem os problemas da comunidade para a equipe a fim de "que as tecnologias inerentes à atenção primária possam ser aplicadas com credibilidade;.
Pelo menos uma vez por mês, os agentes comunitários visitam as famílias atendidas pela equipe da Saúde da Família. Treinados para esse atendimento e para esse contato inicial, mais próximo à comunidade, eles podem inclusive resolver problemas mais simples, como orientações para casos de hipertensão, diabetes e obesidade.
Desde que implantou a ESF, em 1999, o município de Janaúba registrou uma queda na mortalidade infantil de 31 para 4,1 mortes para cada mil nascidos vivos. ;Sem agente comunitário de saúde nunca isso teria acontecido;, ressalta.
Zildomar Antônio Araújo é agente comunitário em São Domingos do Capim (PA) desde janeiro de 2001. Ele conta que o trabalho desses profissionais tem ajudado na descoberta de doenças que não eram precebidas pelas pessoas da comunidade e, por falta de tratamento adequado, acabavam levando muita gente à morte. ;Com nossas visitas, a gente vai identificando casos suspeitos, a gente encaminha ao médico, a pessoa vai, faz a consulta e tem um bom resultado;, diz.
A mesma percepção tem Gessiane Gomes dos Santos, que desde 2001 é agente em Tomé Açu (PA). Ela lembra que os principais problemas enfrentados no município eram desnutrição, hanseníase e tuberculose, as duas últimas principalmente, porque eram pouco conhecidas pela população.
;Com o programa [Saúde da Família], nossa prevenção melhorou muito. Haviam muitos casos de pessoas eternamente nos hospitais, internadas, doenças não conhecidas e com o programa da família, juntamente conosco [agentes], que somos o núcleo de tudo isso, conseguimos prevenir essas doenças;, afirma.
A rotina, nem sempre é fácil, de acordo com Maria Nildener Damasceno, agente de saúde em São Francisco do Pará (PA). Mas, segundo ela, a atividade é recompensadora. ;Quando eu vejo um trabalho que eu já estou desenvolvendo há dez anos, eu me sinto privilegiada, principalmente no meu município, pela saúde ter melhorado cerca de 70%. Hoje, se você tem um paciente que não pode ir até o posto, a equipe vai até o paciente;, conta.
Eliana Mendes da Cruz, agente comunitária em São Paulo (SP), relata outros problemas, como a falta de médicos em algumas equipes da capital paulista e o que ela sente como descaso das autoridades com os profissionais.
;Nós somos psicólogos, assistentes sociais, psiquiatras, orientadores, falamos de tudo. O nosso salário está defasado, um salário [mínimo] e meio, o que é isso? A gente consegue até cadeira de rodas, que não é nosso trabalho, cesta básica para ajudar as famílias, o pessoal chora, desabafa, e até hoje eu não vi uma autoridade fazer nada pela saúde mental do agente de saúde, pelo nosso bem-estar;, reclama.