Brasil

Aquecimento global vai provocar queda na produção agrícola brasileira

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postado em 11/08/2008 10:30
O aumento da temperatura global vai provocar crescimento menor da agricultura brasileira nos próximos anos. Essa é uma das conclusões do estudo ;Aquecimento Global e Cenários Futuros da Agricultura Brasileira;, elaborado em parceria pela Universidade de Campinas (Unicamp) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). O engenheiro agrônomo Hilton Silveira Pinto, diretor do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri), da Unicamp, um dos coordenadores da pesquisa, disse à Agência Brasil que o estudo detectou a possibilidade de quebra da produção agrícola, principalmente de grãos. ;Das culturas que nós vimos até agora, apenas a cana-de-açúcar é que sai ganhando, pelo menos até 2050. Nas outras culturas, a área [plantada] diminui e a produtividade diminui;. Ao contrário do que muitos poderiam pensar, essa expansão projetada para a cana não se deve à produção de etanol. ;O etanol é conseqüência;, afirmou Hilton Silveira. Ele esclareceu que a produção de cana vai aumentar porque a modificação climática continua sendo adequada a essa cultura. ;O etanol vai sair ganhando porque o clima vai favorecer a produção de cana;. A mandioca é outro produto que não sairá perdendo com o aquecimento global, segundo o engenheiro agrônomo. Embora o Nordeste deixe de produzir mandioca, também conhecida como aipim ou macaxeira, essa raiz poderá ser cultivada na Amazônia, ainda que não imediatamente. Isso ocorrerá ;acima de um limite de anos em que a diminuição das chuvas na região permita [que se cultive] a mandioca;. Hilton Silveira estima que depois de 2020 e até 2050 serão criadas condições mais propícias para o cultivo de mandioca na Amazônia. O estudo da Unicamp/Embrapa será divulgado hoje (11) à tarde no 7º Congresso Brasileiro do Agribusiness, em São Paulo e, segundo Silveria, não tem o objetivo de criar ;terrorismo climático;. ;O que a gente está querendo é mostrar que tecnologias a serem desenvolvidas podem fazer com que o fantasma do aquecimento global na agricultura não seja tão ruim. A gente pode adaptar culturas, pode perder plantio ou produção de soja no Sul, por exemplo, e ganhar em cana-de-açúcar;. O engenheiro agrônomo destacou também a necessidade de que as mudanças do clima preparem as autoridades para outro problema da maior relevância no Brasil, que são as migrações sociais e as dificuldades que isso representará na área da saúde. Outro problema apontado pelo pesquisador da Unicamp é o fato de que ;o Brasil tem uma mania muito grande de deixar acontecer para depois correr atrás;. Daí o alerta que está sendo feito para que o governo e a sociedade possam adotar medidas preventivas com bastante antecedência. Silveira ressaltou que a única instituição que liberou recursos para trabalhos de pesquisa na área da agricultura e mudanças climáticas foi a Embrapa. Nas demais, ;fala-se muito e age-se pouco;, criticou. Ele enfatizou que é preciso que o Brasil atue da mesma forma que países desenvolvidos, como Estados Unidos e Inglaterra, e passe a agir imediatamente para minimizar os efeitos do aquecimento global. Ele criticou também o fato de os dados climáticos existentes não serem disponibilizados pelos órgãos oficiais do setor, como o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e a Secretaria Estadual de Agricultura de São Paulo, o que prejudica os trabalhos dos pesquisadores.

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