postado em 15/08/2008 21:13
Diante do constrangimento diplomático criado pelo governo britânico, o chanceler Celso Amorim admitiu nesta sexta-feira (15/08) que a solução - uma vez que o Brasil considera "inaceitáveis" as exigências - deverá ser mesmo o restabelecimento do visto para os brasileiros que quiserem entrar na Inglaterra. "Mas, se chegarmos a isso, vai haver reciprocidade. Não é uma vingança", disse, revelando que os pedidos britânicos nem serão avaliados.
"A proposta, da maneira como está hoje, não dá muito com o quê trabalhar", disse o chanceler. Ele informou ainda que o governo brasileiro disse ao embaixador britânico no Brasil, Peter Collecot, que a idéia de vigiar a saída de brasileiros nos aeroportos internacionais do Brasil é "inaceitável" e não será nem mesmo discutida.
O governo britânico entregou, no início de julho, uma carta ao Itamaraty e ao Ministério da Justiça, dizendo que o Brasil, sem nenhuma negociação diplomática prévia, havia sido incluído em uma lista de países que têm até o fim deste ano para adotar medidas especiais de combate à imigração ilegal. Se o Brasil não aceitar as exigências, o Reino Unido ressuscitará a política de pedir visto até mesmo em viagens de turismo - extinta em 1998. Uma das exigências é de que um policial britânico participe, no aeroporto de Cumbica, em São Paulo, do rastreamento de "possíveis imigrantes brasileiros ilegais disfarçados de turistas".
A Embaixada do Reino Unido divulgou, em Brasília, uma nota oficial em que justifica as propostas e diz que a figura do "oficial de ligação" já existe em 30 países e não teria funções executivas. São "consultores e oferecem treinamento", afirma a nota. Nas conversas com o Ministério da Justiça, porém, o governo britânico revelou disposição para vigiar mesmo os embarques de passageiros.
Retrocesso - Ao deixar Assunção, onde esteve para a posse do novo presidente paraguaio, Fernando Lugo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificou de "retrocesso" a retomada da política de visto. "Não é possível se pensar em permitir policiais britânicos nos aeroportos brasileiros. Não é uma boa política."
Amorim lamentou a adoção de medidas "que dificultem a mobilidade das pessoas" porque isso vai contra os princípios da globalização e da boa relação entre os países. "E vamos reiterar que sempre estamos dispostos a fazer algum tipo de cooperação, desde que ela seja na base da reciprocidade, do respeito e do interesse mútuo."
Ele lamentou os problemas com relação à imigração. "Isso vai atuando na psicologia das pessoas e afetando a boa vontade recíproca. Eu disse, da última vez que estive reunido com a União Européia, que da maneira que isso está não vai ser mais uma questão consular, vai virar uma questão política", afirmou.