postado em 16/08/2008 09:30
Doença crônica de maior impacto no sistema de saúde brasileiro devido a complicações como cegueira, amputações de membros e problemas renais, a diabetes atinge 6,5 milhões de pessoas no país ; número de diagnosticados. O balanço não leva em conta um grupo submerso, ou seja, que desconhece ser diabético. Segundo estimativa do Ministério da Saúde (MS), em média 30% das pessoas acima de 18 anos estão com a taxa de açúcar no sangue alterada ; com risco de desenvolver a doença ; e não sabem.
Quando descobriu que era diabético, há oito anos, o comerciante Baltazar Costa Bandeira, 52 anos, jurava ter uma saúde de ferro. ;Passei mal, fui ao médico. Depois do susto, tirei a cerveja da minha vida, além de trocar biscoito, bolo e pão por frutas e legumes;, ensina. Desde então, o comerciante consegue manter estável o nível de açúcar no sangue apenas com o controle da alimentação e a prática de exercícios físicos. Bandeira conta com uma grande vantagem no combate à doença: é proprietário de um mercado de hortaliças e frutas na Estrutural, o que acaba lhe proporcionando acesso fácil à alimentação saudável. ;Ajuda muito;, admite.
De acordo com o endocrinologista Freddy Eliachewitz, chefe de endocrinologia do Hospital Heliópolis, em São Paulo, a alimentação adequada é importante, mas, sozinha, segura a diabetes por no máximo dois anos. ;Ele (Bandeira) é um caso à parte. Representa 3% dos diabéticos;, diz. Na tentativa de ampliar a consciência da população, a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), em parceria com a Associação de Diabetes Juvenil (ADJ), começou a promover neste ano a qualificação de profissionais de saúde para atividades de educação em diabetes. A turma piloto da primeira capacitação da SBD envolveu 60 pessoas e terminou no mês passado. A próxima turma, ainda sem data marcada, está prevista para ocorrer no Rio de Janeiro.
O projeto Educando Educadores quer alcançar metas simples, como ensinar aos agentes de saúde a lidar com fitas para controle da glicemia, tanto no atendimento ambulatorial quanto no repasse de orientações aos pacientes que fazem controle da doença em casa. De acordo com o médico Augusto Pimazoni Netto, especialista na área de educação em saúde, diabetes é a segunda doença no mundo mais temida pelos pacientes. Só perde para a Aids. ;Mesmo assim, as pessoas não se preocupam em adotar hábitos de vida saudáveis;, destaca. ;O país precisa investir imediatamente no combate à diabetes para não gastar muito mais em 15 anos, com a quantidade de pacientes que devem apresentar problemas em decorrência de complicações com a doença.;
Há dois anos o Congresso aprovou uma lei para o tratamento do diabético, garantindo medicamentos, fitas e seringas. As diretrizes de dispensação de insumos e medicamentos para diabéticos foram regulamentadas no ano passado, mas o paciente que quiser ter acesso ao benefício precisa fazer o controle regular da doença, além de aprender a usar o material de que fará uso em casa.
Avanço entre os índios
A diabetes ameaça ser o ;mal do século; para os xavantes de Mato Grosso. Um trabalho preliminar da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) nas comunidades de Sangradouro e São Marcos, realizado em 2007 e divulgado este ano, detectou que a doença tem incidência 15% maior nos indígenas da etnia do que na população em geral. Suspeita-se que, além da mudança de hábitos alimentares e do sedentarismo, a etnia tenha algum tipo de predisposição genética para o problema.
Desde os primeiros casos, registrados há oito anos, a diabetes vem atingindo principalmente a população entre 20 e 30 anos. Além disso, esse segmento tem apresentado elevada taxa de glicemia e baixa resposta à medicação oral, mesmo com o rígido controle do índice de açúcar no sangue. ;Essas mesmas características já foram observadas no grupo Pima do Arizona, nos Estados Unidos. Lá, 40% da população adulta tem diabetes;, observa o médico Laércio Franco, da Faculdade de Medicina Social de Ribeirão Preto (FMRP-USP).
Também coordenador da pesquisa, o endocrinologista da Unifesp João Paulo Botelho explica que o estudo tem apontado o uso diário da insulina para o controle glicêmico como a melhor resposta para o tratamento do diabetes nos xavantes. ;Isso sugere que exista alguma característica específica do tipo de diabetes que ocorre nessa população, pois só mudança de hábitos alimentares, exercícios e medicação não tem resolvido;, afirma Botelho.
Laércio lembra que, em Sangradouro, 70% dos diabéticos têm de usar insulina aplicada, procedimento considerado complexo para os índios, na avaliação do pesquisador. ;Imagina uma pessoa que vive na aldeia aplicando injeção todo dia no próprio corpo;, observa. Muitos dos indígenas diabéticos acompanhados apresentam seqüelas típicas de quem tem idade avançada. ;Tem índio que sofreu amputação de membros inferiores e apresenta tendência à cegueira;, exemplifica.
No estudo piloto, foram analisados 382 índios, de uma população de 1.549 habitantes acima de 20 anos de idade. Entre os diagnosticados, descobriram-se 47 portadores de diabetes tipo 2 (que pode ser genética e adquirida durante a vida), sendo 18 homens e 29 mulheres. Também foram detectados outros casos com a realização de testes de glicemia em indivíduos que apresentavam sintomas do mal, além de excesso de peso.
Laércio acredita que o acesso a produtos industrializados tem aumentado os riscos. Este ano, a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) prevê a distribuição de 23.813 cestas básicas para a população indígena ; duas mil para os xavantes. ;A composição dos alimentos é a mesma para a população em geral, mas nas regiões Norte e Nordeste a farinha de trigo será substituída pela farinha de mandioca;, explica o coodenador-geral de Atenção à Saúde Indígena do órgão, Flávio Nunes.