postado em 21/08/2008 17:01
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) se manifestou nesta quinta-feira (21/08) sobre três assuntos polêmicos: A demarcação da reserva Raposa Serra do Sol, objeto de julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) na próxima quarta-feira; o aborto de fetos com má-formação do cérebro (anencéfalos), que por sua vez será tema de uma audiência pública no STF, e a questão dos imigrantes brasileiros que estão agora sujeitos a leis mais rígidas em países da União Européia. A CNBB é favorável à demarcação contínua da reserva, uma reivindicação da maioria dos povos que vivem na região, acredita o bispo Dom Luiz Soares Vieira.
"Esta é a reivindicação mais antiga dos povos indígenas. Nossa posição é a favor da maioria. É muito ruim quando os índios são rodeados por brancos, eles vão, devagar, se apossando das terras dos índios", disse D. Luiz, para quem os arrozeiros "corrompem" os índios, por meio da introdução de costumes alheios à cultura indígena, como o consumo de cachaça.
O religioso diz que o governo deveria indenizar os arrozeiros que dividem com os índios a posse de algumas áreas da reserva e deixar os índios "viverem a vida deles". Nesta quarta-feira, a conferência entregou ao presidente do Supremo, Gilmar Mendes, uma carta reforçando o apoio à demarcação da Raposa Serra do Sol de forma contínua. Em entrevista coletiva à imprensa, Dom Geraldo Lyrio Rocha, presidente da CNBB, admitiu que, isoladamente, alguns índios preferem que a reserva seja delimitada na forma de ilhas, como defendem os arrozeiros, o que não seria do interesse da maioria, acredita.
"As ilhas prejudicam o contato e a articulação dos povos da reserva", afirmou. Sobre o aborto, a CNBB reafirmou sua posição de defesa da vida desde a concepção do feto. O conselho episcopal, que se reuniu nesta quarta-feira para tratar desses assuntos, defende que, independentemente do estado de saúde ou longevidade do bebê com problemas no cérebro, a mãe deve dar a luz.
Em nota, os bispos manifestam ainda solidariedade aos imigrantes que estão sujeitos a medidas que, para eles, "ferem princípios básicos dos direitos humanos".Eles manifestam preocupação a movimentos que classificam como xenófobos. Sem querer se restringir à legislação que recentemente passou a vigorar na União Européia, prevendo a prisão e a deportação de estrangeiros ilegais, os religiosos lembraram que muitos brasileiros perdem o emprego, são obrigados a se separarem das famílias e, muitas vezes, por vergonha, não retornam ao Brasil.
"As pessoas humanas têm que ser tratadas com humanidade e delicadeza", resumiu Dom Luiz.