postado em 26/08/2008 15:19
O padre Luiz Antônio Bento, da Comissão Episcopal para a Vida e a Família da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), afirmou nesta terça-feira (26/08) na audiência pública no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a interrupção de gestações por anencefalia, que não é ;indiferente; às dificuldades enfrentadas por mães que carregam no ventre fetos anencéfalos, mas ressaltou que o sofrimento familiar ;não justifica e nem autoriza o sacrifício; da criança.
Ele avaliou a matéria como ;delicada;, mas elogiou a abertura do Judiciário ao ouvir os diferentes pontos de vista.
;Defendemos a humanidade deste ser humano que está em gestação, ainda que com a má-formação. Quando a vida não é respeitada em seu início, outros direitos são menosprezados. O feto anencéfalo é um ser humano vivente. Uma anomalia não nega ou diminui a dignidade da pessoa. Ela é intrínseca;, defendeu.
Luiz Bento é de opinião que alguns segmentos da sociedade buscam a ;eliminação; do feto diagnosticado anencéfalo porque não corresponde a determinados padrões da vida humana.
De acordo com o padre, a interrupção desse tipo de gestação é um tipo de aborto, além de considerar como uma ;ação discriminatória e racista; e uma espécie de ;eutanásia pré-natal;.
;Há um grupo de cientistas que defende a possibilidade de uma consciência pré-primitiva nesses indivíduos. Marcela de Jesus [bebê diagnosticado com anencefalia que sobreviveu por um ano e oito meses] é o exemplo de que a medicina ainda tem muito a aprender com a anencefalia;, disse.
O professor da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro Rodolfo Nunes reconheceu em seu depoimento que a anencefalia caracteriza-se como uma doença fatal, mas que não é a única dentre as demais patologias e enfermidades. Ele acredita que o próprio termo anencefalia induz ao erro, já que indica a total ausência do encéfalo, quando o feto apresenta uma pequena parte do córtex frontal.
;Anencefalia não equivale a morte encefálica. A criança com anencefalia, quando está respirando, não está com morte encefálica. Apesar da mortalidade elevada, algumas crianças podem sobreviver por meses ou mesmo anos. Não existem estudos profundos sobre a parte do encéfalo não comprometida pela anencefalia. Existe muita coisa que não se explica. Por isso, tem que se ter prudência;, defendeu.
Quando questionado sobre a possibilidade de Marcela de Jesus ter sido erroneamente diagnosticada com anencefalia, ele disse que laudos de tomografias e de ressonâncias magnéticas, além de fotografias clínicas, confirmam o caso e abrem espaço para questionamentos sobre a sobrevida de fetos nas mesmas condições .
A mãe da menina, Cacilda Galante Ferreira, garantiu que não se arrependeu da decisão de dar continuidade à gestação mesmo após o diagnóstico, e que ao final a decisão ;valeu a pena;.