postado em 26/08/2008 18:55
São Paulo - Primeiro presidente da República depois da ditadura militar, o senador José Sarney (PMDB-AP) afirmou nesta terça-feira (26/08) em São Paulo que a punição aos torturadores da época é um assunto que deve ser esquecido. Para Sarney, a própria anistia representa este processo de esquecimento. "Não há razão para que devemos renascer com o assunto. Evidente que isso não cura quem foi torturado. Mas o processo político da anistia fez parte da transição", disse Sarney, que participou da "Sabatina na Folha", promovida pela Folha de S.Paulo.
De acordo com o ex-presidente, a Lei da Anistia foi negociada e surgiu depois de um consenso, por isso foi bastante abrangente, não deixando margem para que seja revista nos dias atuais. "Nós fizemos uma anistia consensuada. Foi negociada. Não foi uma concessão", afirmou Sarney.
Antes do fim da ditadura, quando era governador do Maranhão, Sarney garantiu que não tinha conhecimento das torturas praticadas pelos militares. "Não tinha conhecimento nenhum, estava no Maranhão, era governador do Maranhão. (...) O que posso dizer é que quando cheguei no Congresso é que formamos um grupo para lutar para que o processo se abrisse", disse.
Durante a sabatina na Folha, de duas horas, o senador José Sarney disse que não guarda nenhum rancor do governador paulista José Serra (PSDB) por causa do episódio que detonou, em 2002, o projeto político de sua filha, Roseana Sarney, de ser candidata a vice-presidente em aliança de seu partido, o antigo PFL, agora DEM, com os tucanos. "Não tenho rancor de ninguém", afirmou Sarney.
De acordo com a jornalista Mônica Bergamo, que formulou a pergunta, Serra teria sido o responsável pela atuação da Polícia Federal, o que teria despertado o rancor do ex-presidente Sarney. Roseana era senadora pelo Maranhão em 2002 e estava em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto quando a PF descobriu R$ 1,3 milhão em espécie no cofre da empresa Lunus, de seu marido, Jorge Murad. Depois de sete versões, Roseana admitiu que o dinheiro estava sendo arrecadado para a campanha, que não houve, o que acabou destruindo o projeto político da senadora e do presidente de seu partido, o também ex-senador Jorge Bornhausen (PFL-SC).
De acordo com Sarney, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) julgou o procedimento policial, ficou comprovado que a ação da PF não estava inserida em nenhum processo ou investigação que a justificasse. "No acórdão do STF está comprovado que aquilo se tratava de uma armação. Uma armação que tinha como objetivo barrar uma candidatura", disse o ex-presidente.
Evasivo, Sarney não quis afirmar que a armação foi do então candidato a presidente do PSDB, José Serra, de quem Roseana poderia ter sido a vice. "Não vou dizer que foi nem que não foi o governador Serra. Esse é um fato do passado que não quero rememorar. E Serra é um homem público que tem qualidades", afirmou Sarney.