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Tiro no rosto identifica crimes cometidos por milícias

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postado em 28/08/2008 11:52
Se os tiroteios se tornam mais raros nas áreas controladas pelas milícias, as mortes com características de execução aumentam. O crime cometido pela milícia é, geralmente, identificado com um tiro final no rosto. ;Os corpos são colocados na rua, sempre no fim do dia, e o último tiro é sempre no rosto. O objetivo é desfigurar completamente a pessoa. Isso amplia o medo, que é um elemento muito importante para quem vende segurança e provoca terror. Essa é a lógica;, descreve o deputado Marcelo Freixo (P-SOL), presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Milícias, instalada na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro. O delegado Marcos Neves, da 35ª Delegacia de Polícia Civil, localizada na área de Campo Grande, entregou à CPI um relatório contendo várias fotos de vítimas da milícia em seu bairro e, em todas elas, os corpos tinham o rosto desfigurado. Imortalizado no cinema nas últimas cenas filme Tropa de Elite, dirigido por José Padilha, o tiro de fuzil no rosto esteve presente no relato de vários pesquisadores. O representante da Justiça Global Rafael Dias destaca que a prática é aplicada contra policiais do bairro que entram em choque com a milícia. ;As práticas da milícia são muito violentas. Os casos de morte de policiais que entraram em choque com a polícia apresentaram um traço comum, o tiro no rosto para desfigurar. Não tem como sair da milícia. Se o policial entrou, não tem como sair. Se ele não entrou, tem que no mínimo fazer vista grossa ou colaborar.; A colaboração, de acordo com ele, significa inclusive, ;limpar; a área para que a milícia chegue. ;Existem relatos de lugares dominados pelo tráfico em que a polícia entrou primeiro, dominou, para depois a milícia chegar e se instalar;, conta. ;Com a milícia, as trocas de tiros param, mas as mortes não. Moro no centro de Campo Grande, em uma área mais urbana, sem favelas, e com polícia na rua. Mesmo assim, tenho que pagar R$ 10 por mês por segurança. Todo dia R$ 10, uma mulher loura passa na minha rua recolhendo. Sei que ela é mulher de um policial militar;, relata uma moradora à Agência Brasil. Ela pediu para que seu nome não fosse divulgado temendo represálias. ;Na vila onde moro existem cinco casas e todas pagam. Se a gente não paga, o carro aparece arrombado, ou então, ele simplesmente é levado, sua casa é assaltada. Eles [os milicianos] tocam o terror e vendem proteção;, conclui. Uma escola na Favela do Barbante, palco da execução de sete pessoas há cerca de dez dias, já havia suspendido as aulas, uma semana antes da chacina. ;Os alunos começaram a ligar para a escola para dizer que não iriam para as aulas, porque não podiam sair de casa com medo de morrer. A diretora resolveu então fechar a escola para não prejudicar os alunos;, explica uma moradora. Os fatos fazem parte do cotidiano de moradores da área controlada pela maior milícia já identificada no Rio de Janeiro, a Liga da Justiça. A organização é apontada como responsável pelo ato ;desesperado; ; na avaliação do próprio secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame ; de assassinar sete moradores da Favela do Barbante. O único propósito da milícia nesse crime foi o de se mostrar necessária, imprescindível no dia-a-dia das dos moradores da zona oeste, de acordo com as investigações da Polícia Civil. ;A milícia impõe. Ela é baseada na lógica do terror. Há sempre em um processo de extorsão e de domínio de território pelo controle de atividades econômicas. Vendem a seguinte idéia: eu te protejo de mim mesmo. O eixo é a atividade econômica, a busca é de lucro. Esses grupos têm também perspectivas de poder. Quanto mais organizada e mais forte, maior a representatividade política;, analisa o deputado Marcelo Freixo. Dos executados na chacina na Favela do Barbante, nenhum tinha envolvimento com o crime. As investigações apontam que eles foram escolhidos como alvo da milícia liderada por uma família de políticos influentes na zona oeste do Rio de Janeiro. São chefes dessa família o vereador Jerominho Guimarães, que se encontra preso e seu irmão, Natalino Guimarães, que teve o mandato cassado há duas semanas e que também foi preso. A família luta para levar mais um de seus membros ao Legislativo do Rio de Janeiro. A filha de Jerominho, Carminha Guimarães concorre ao cargo de vereadora e garante que as acusações contra seu irmão, Luciano Guimarães, apontado como mandante da chacina, representam perseguição política do delegado de Campo Grande, Marcos Neves. Luciano Guimarães teria dado as ordens e também participou das execuções, escolhendo aleatoriamente quem iria morrer. Além dele, que teve a prisão decretada, mas está foragido, o delegado aponta como integrantes do grupo de 17 pessoas que teriam matado os moradores da Favela do Barbante três policiais militares que estão na ativa, dois policiais civis e um bombeiro. ;Esse atentado teve como objetivo primeiro criar a idéia na comunidade de que a presença de milicianos é imprescindível. Eles tentaram atribuir os crimes ao tráfico;, avalia o delegado.

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