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Brasil

Cinco mil índios freqüentam o ensino superior no Brasil

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Vindos de uma tradição baseada principalmente na oralidade, os índios brasileiros conseguiram chegar à academia. Nos últimos anos, passaram a registrar em teses, artigos e livros, publicados em várias línguas, suas histórias e parte do pensamento de 238 povos diferentes, que falam 180 línguas e reúnem cerca de 700 mil pessoas ; metade delas vivendo fora das aldeias. Uma primeira geração que saiu das aldeias para estudar, apesar de ainda pequena, conseguiu atravessar cursos de graduação em várias universidades, fazer mestrado, doutorado e até pós-doutorado. Segundo estimativas do Ministério da Educação e de entidades autônomas criadas pelos próprios índios, existem cerca de 5 mil estudantes de várias etnias nas salas de aula de diversas faculdades. Na última quarta-feira, o país conheceu a advogada Joênia Batista de Carvalho Wapixana. Ligada ao Conselho Indigenista Missionário (Cimi), ela fez história ao se transformar na primeira indígena a atuar como advogada no Supremo Tribunal Federal (STF). Emocionada e pintada como seus parentes das aldeias, ela defendeu a demarcação da reserva da Raposa Serra do Sol, em Roraima, em áreas contínuas, como foi demarcada pelo governo. No estado, existem 260 indígenas estudando em faculdades. A maioria quer ser colega de Joênia. Há dois anos, Maria Pankararu se transformou na primeira indígena a concluir o curso de doutorado. Aos 44 anos, casada, mãe de uma menina e tendo vivido na aldeia até os 10 anos, na zona rural de Pernambuco, a professora fez um estudo descritivo da língua do povo Ofayé, do Mato Grosso do Sul. Morando em regiões muito próximas às cidades pernambucanas, os Pankararu deixaram de falar a própria língua. Maria, porém, compensou a perda aprendendo inglês e se aperfeiçoando no português para dar aulas na Universidade Federal de Alagoas, onde se graduou em letras. ;Estudar e ampliar o conhecimento é fundamental para entender melhor o seu próprio mundo, a sociedade nacional e melhor defender nossos direitos;, ensina. Maria é irmã de Paulo Celso de Oliveira Pankararu, 37 anos, primeiro índio a conseguir a carteira vermelha da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Formado pela Universidade Católica de Goiás, Paulo se especializou em direitos humanos e cooperação internacional pela Universidade Carlos II, na Espanha. Também fez mestrado em direito econômico e social na Universidade Católica do Paraná com o trabalho Gestão territorial indígena. Integrado à vida urbana desde criança, assumiu a coordenação geral de Defesa dos Direitos Indígenas da Fundação Nacional do Índio (Funai) há pouco mais de um mês. Leia mais na edição impressa do Correio Braziliense