No momento em que o Brasil deflagra sua maior mobilização de combate à pedofilia, sobram críticas à legislação. A Operação Carrossel II, deflagrada ontem pela Polícia Federal em 17 estados e no Distrito Federal, envolveu 650 agentes, que cumpriram 113 mandados de busca e apreensão de computadores com imagens de abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes. No entanto, até o início da noite, só três pessoas haviam sido presas, porque foram pegas em flagrante. O baixo número de detenções em uma ação com tantos suspeitos (os donos das mais de 100 máquinas apreendidas) se deve à legislação penal em vigor no país. Hoje, só é considerado crime enviar ou produzir material pornográfico envolvendo menores. A lei não prevê, no entanto,punição para quem armazena essas imagens. Por isso, a PF não pôde prender a grande maioria dos investigados. ;Muitos países têm essa deficiência legislativa;, ponderou o delegado Adalton Martins, coordenador da unidade da Polícia Federal que trabalha na repressão a crimes cibernéticos. Delegado Adalton Martins e senador Magno Malta (PP-ES) comentam a operação Carrossel II
Uma tecnologia de rastreamento de acessos à internet desenvolvida pela Polícia Federal já ajudou 70 países a identificar a prática de pedofilia. Avisados pela polícia brasileira sobre usuários da rede de computadores que acessavam sites brasileiros com imagens de crianças sofrendo abusos, governos como o da Grécia e de Portugal conseguiram efetuar prisões ; nesses lugares, a posse desse tipo de material no computador configura crime, facilitando a detenção de suspeitos. De acordo com o delegado da PF Adalton Martins, que trabalha na repressão a crimes cibernéticos, as investigações desencadeadas pelas operações Carrossel I e II contribuíram para identificar cerca de 200 pedófilos em todos os países que se mobilizaram. Ranking ;O Brasil está em quarto lugar (no número de criminosos identificados). A Alemanha está sempre como primeira da lista;, ressalta Martins. Também estão à frente do país os Estados Unidos e a Itália. Na Holanda, foram identificados 100 pedófilos. Em Israel e na Grécia, 30 e 22, respectivamente. Ontem, em Portugal, foram executados 18 mandados de busca e apreensão e 23 pessoas foram presas por suspeita de pedofilia. Martins explica que a PF e a Interpol têm mantido contato com as autoridades policiais desses países no sentido de auxiliar na prisão dos criminosos. ;O primeiro contato é feito com as representações e embaixadas desses países no Brasil;, diz. Segundo o delegado, o ideal seria uma operação internacional conjunta, mas cada país tem preferido colocar em prática sua própria estratégia. ;Israel, Japão, República Tcheca, Portugal e Senegal realizaram a operação junto com o Brasil. Alguns países vão iniciar a operação em breve;, ressaltou. Segundo Martins, a diferença de fuso horário é um fator que dificulta a mobilização simultânea. Na Grécia, a polícia prendeu nove pessoas acusadas de troca de material de pedofilia. De acordo com informações divulgadas pela Direção de Segurança em Atenas (capital), as imagens teriam sido capturadas em um site hospedado no Brasil. As investigações chegaram a 349 usuários gregos que acessaram a página brasileira na internet com material que configura abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes. Entre os detidos, estão um oficial do Exército, um professor, dois médicos, um engenheiro e um operário.