Brasil

Sofrimento amenizado

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postado em 05/09/2008 09:09

Foi exibido durante a audiência pública de ontem no Supremo Tribunal Federal (STF) um vídeo com a história de quatro mulheres beneficiadas com a liminar que, durante três meses de 2004, autorizou o aborto de anencéfalos no país. Uma delas, Michele Gomes de Almeida, acompanhava a sessão no Supremo, junto com o marido e duas filhas, quando foi chamada para ocupar a tribuna e falar de sua experiência. Com o microfone na mão, a pernambucana de 28 anos defendeu a liberdade das mulheres de decidirem sobre a continuidade da gravidez. ;Se eu fosse obrigada a levar adiante aquela gravidez, talvez eu nem tivesse construído uma nova família;, afirmou a moça. Michele interrompeu a primeira gestação, após fazer tratamento para conseguir engravidar, porque o feto tinha anencefalia. ;Eu pensei muito, discuti com minha família e decidi. Senti uma paz, um alívio depois de fazer. Não senti culpa, remorso;, disse a pernambucana. Antropóloga Débora Diniz fala sobre aborto de fetos anencéfalos

Michele disse que poderia não ter suportado tanto sofrimento caso tivesse que recorrer à Justiça para obter uma autorização a fim de fazer o aborto. ;Seria prolongar mais essa dor. Fiquei muito tranqüila, quando decidi interromper a gestação, por saber que a lei me amparava;, afirmou. O marido dela, Ailton de Almeida, contou que deu apoio condicional à esposa. ;Desabei quando fiquei sabendo, mas deixei a Michele livre para decidir;, destacou. Meses depois, ela engravidou. Hoje tem duas filhas, uma de três anos e outra de dois meses, e vive feliz com o marido. Um rosto Para Débora Diniz, antropóloga da Universidade de Brasília e diretora do Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero (Anis), a exposição de Michele era o que faltava no debate que o Supremo está fazendo. ;Representa um rosto, uma biografia do mundo real que nós queremos proteger. Nenhuma mulher será obrigada a tomar nenhuma decisão, mas as mulheres querem ter o direito que Michele teve. Michele foi protegida pelo Estado e isso fez uma diferença surpreendente na vida dela quatro anos depois;, afirma Débora.

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