postado em 07/09/2008 20:37
Um movimento deflagrado por ex-alunos, com apoio de professores e estudantes, tem chamado a atenção para a deterioração do colégio público mais tradicional de Belo Horizonte. Com projeto do arquiteto Oscar Niemeyer, a Escola Estadual Governador Milton Campos, mais conhecida como Estadual Central, foi inaugurada em 1956 e o conjunto arquitetônico é tombado como patrimônio da capital mineira.
Pelas salas de aula, passaram personalidades da cultura, política e outras áreas. Num manifesto lançado em agosto, o Movimento Paixão pelo Estadual Central destaca que o colégio necessita, "urgentemente, de restauração arquitetônica e da requalificação de seu ensino, que já foi vanguarda no País".
As edificações de linhas modernistas destoam do cenário verticalizado do bairro Santo Antônio, na região sul da capital. Niemeyer projetou o prédio principal com o formato de uma régua T; o teatro como um mata-borrão; a caixa-d;água como um giz e o anexo (onde funciona a cantina) como uma borracha.
Os 3,7 mil alunos convivem com dificuldades como pichações, vandalismo, infiltrações, calçadas esburacadas e fiação exposta. A diretora, Maria José Duarte, diz que, até recentemente, as chuvas causavam transtorno durante as aulas. "Em toda sala, a água descia pela lâmpada. Na época de chuva, era um inferno." No dia 30, ex-alunos, professores, estudantes e diretores deram um abraço simbólico no auditório para marcar o lançamento do movimento pela recuperação do local. O alerta mobilizou órgãos de proteção do patrimônio.
Mais do que a recuperação do conjunto arquitetônico, a intenção é revitalizar a concepção original do colégio - local de grande efervescência política e cultural, principalmente na década de 1960. "A gente aprendeu ali a ter um grande senso de liberdade. Você assistia à aula se quisesse, mas todo mundo queria assistir porque os professores eram muito bons. O aprendizado era de alta qualidade", recorda o ex-aluno e hoje empresário Sizenando Ribeiro, de 56 anos.
Por causa disso, o ingresso no Estadual Central dependia de uma rigorosa prova de seleção. "Era uma elite intelectual que procurava o colégio, mais do que uma elite econômica. Para ingressar aqui, era preciso fazer uma espécie de vestibular", diz a vice-diretora, Maria Berenice Horta de Melo.
Famosos
A lista de ex-alunos famosos é extensa. Entre eles, estão o escritor Fernando Sabino, o médico e escritor Hélio Pellegrino, o ex-jogador Tostão, o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Sepúlveda Pertence, o compositor Fernando Brant, os irmãos Henrique de Souza Filho, o Henfil (cartunista), e Herbert José de Sousa, o Betinho (sociólogo), o prefeito Fernando Pimentel (PT), e a chefe da Casa Civil da Presidência da República, Dilma Rousseff.
Atualmente, o estudante matricula-se por meio do cadastro escolar e a demanda não preenche as vagas nos três turnos. A escola sofre com carência e alta rotatividade de professores. Entre os alunos de hoje, a avaliação é que o Estadual Central ainda é uma instituição diferenciada, principalmente pela estrutura invejável.