Jornal Correio Braziliense

Brasil

Escolas terão verba extra por alunos especiais

Recursos serão repassados por meio do Fundeb, mas colégios terão de oferecer atendimento complementar para os estudantes com deficiência

Um decreto publicado ontem no Diário Oficial da União levou alunos, professores e militantes em defesa das pessoas com deficiência ao Ministério da Educação (MEC). Eles comemoraram a nova norma, que determina mais recursos para a formação dos alunos portadores de necessidades especiais. Mas só terão direito ao benefício as escolas públicas regulares que, além de receberem os estudantes, derem a eles um atendimento complementar especializado no contraturno (estudantes da manhã, por exemplo, receberão o reforço à tarde). Cada aluno que tiver essa dupla jornada será computado em dobro no Fundo da Educação Básica (Fundeb), cuja distribuição dos recursos tem como base o número de matrículas. A regra começa a valer em 2010. O ministro da Educação, Fernando Haddad, considera a medida importante para contemplar o grupo de 3% das crianças fora da escola no Brasil ; muitas delas acometidas por algum tipo de deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e superdotação. ;Se quisermos atingir os 100% (de alunos matriculados), temos que tratar indivíduo a indivíduo, caso a caso, para que todas as pessoas tenham acesso à educação de qualidade;, afirmou Haddad. Mas quem roubou a cena durante o ato em comemoração à publicação do decreto foi Antônio David de Souza Almeida, 17 anos, estudante da 7ª série da rede estadual regular de Fortaleza (CE). Vítima de paralisia cerebral, David contou sua experiência e cobrou do ministro e demais autoridades da área ações concretas de inclusão dos alunos com algum tipo de deficiência. ;A escola acha que é um favor receber o coitadinho, o pobrezinho. Eu quero dizer que nós não somos coitadinhos nem pobrezinhos, e que não é um favor nos receber, é lei, é dever do Estado;, bradou o garoto, sob aplausos. Apesar do preconceito enfrentado, David ressalta que não deixará de estudar. ;Se eu sair de lá, estarei sendo omisso.; Inclusão Embora o governo federal defenda a idéia de inclusão, segundo a qual alunos com e sem deficiência devem estudar juntos, 53,4% dos 654 mil estudantes portadores de necessidades especiais matriculados na educação básica estão em salas ou instituições exclusivas. Esse índice, ainda considerado alto, era de 76% em 2002. Cláudia Pereira Dutra, secretária de Educação Especial do MEC, destaca que o novo decreto consolidará a política de inclusão, com a possibilidade de mais treinamento para professores da área, confecção de material didático e ampliação de salas multifuncionais (com softwares e equipamentos especiais para os deficientes).